Desempenho do agronegócio impacta transporte de cargas e logística em Minas

Impactado pelo desempenho do agronegócio e pela alta no preço dos insumos, o setor de transporte de cargas e logística em Minas Gerais passa por um dos momentos mais desafiadores da história. Em 2024, a categoria segue em estabilidade e o último trimestre, apesar de positivo com relação ao ano passado, não atingiu os níveis esperados para uma projeção de crescimento.
Marcado por datas importantes, como Dia das Crianças, Black Friday e Natal, os meses de outubro a dezembro seguem como um dos principais responsáveis por dar fôlego ao setor. No período, embora tenha registrado avanços de 20% a 30% na movimentação de mercadorias, o resultado positivo não surtiu efeito no faturamento, conforme aponta o diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Antônio Lodi.
Segundo ele, 2024 será lembrado por ser um ano desafiador, marcado por intensas instabilidades como a de commodities ligadas ao agronegócio – um mercado que nos últimos três anos apresentava sinais de pujança e neste ano foi fortemente impactado por condições climáticas. “Neste ano, tivemos um recuo de quase 1% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio causado por queimadas e secas severas em algumas regiões”, destaca.
Com a queda na produção, houve redução no transporte de mercadorias e as empresas que investiram acreditando em uma eventual alta demanda foram prejudicadas. Somado a isso, o aumento expressivo do custo de insumos como óleo diesel, pneus e equipamentos, além de novas exigências do mercado, tornaram o cenário ainda mais desafiador para os empreendedores de transporte.
Em 2024, o setor também começou a sentir o impacto de decisões jurídicas do ano anterior, como a ADI-5322, que alterou a lei do motorista e trouxe mudanças profundas na jornada do trabalhador. A medida, segundo Lodi, comprometeu a folha de pagamentos das empresas em até 20% a mais e resultou em uma queda de produtividade do ativo do caminhão em 40%.
Com relação a medida, a categoria acredita que não há sinais de reversão, mas estuda reajustes nas operações no próximo ano para retomar o crescimento. “Temos uma necessidade de reajuste muito grande, porém o mercado é extremamente competitivo. A nova precificação se faz necessária, porém será desafiadora”, analisa.
Competitividade ‘a qualquer custo’ afeta margem de lucro
Com a entrada de novos players nos últimos anos, Antônio Lodi avalia que o mercado se tornou ainda mais competitivo, e que, apesar de ser positivo, segue comprometendo as margens de lucro das empresas. “A competitividade em qualquer mercado é saudável quando se tem regras claras e justas. Entretanto, os contratantes dos serviços de transporte a utilizam para trazer o menor valor a qualquer custo”, pontua.
Hoje, a categoria avalia que ser competitivo é fundamental, especialmente para que as empresas exerçam a criatividade em busca de soluções inovadoras para o negócio. Entretanto, a avaliação é que preocupação está concentrada no preço da tarifa em detrimento ao valor agregado das marcas.
Para 2025, a expectativa do setor é manter o ritmo de estabilidade, sobretudo no transporte. Com o atual cenário econômico, o crescimento não é esperado para os próximos meses e esperança segue ancorada em reajustes para cobrir prestação de serviços e na mudança de posicionamento das empresas.
“Precisamos de uma mudança de cultura, tanto dos embarcadores quanto dos operadores logísticos, que precisam reconhecerem o valor do setor de transportes”, finaliza Lodi.
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