Desempenho da economia surpreende

O desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano, na avaliação de economistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, foi melhor que o esperado. E há possibilidade de o cenário se manter positivo. Entretanto, ainda há desafios, como a manutenção da alta taxa de juros da economia (Selic), incertezas no cenário internacional e ainda a desconfiança do mercado.
“Não tem uma solução simples, a economia é um verdadeiro jogo de xadrez”, diz o professor do departamento de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bernardo Palhares Campolina Diniz.
Para ele, o governo federal está tentando criar um cenário favorável. “Está fazendo o dever de casa”, frisa.
Diniz ressalta que, se de um lado o setor produtivo quer a redução da Selic para poder investir, de outro, há quem ganhe com os juros elevados. “A retomada mais forte da economia depende do Banco Central”, diz.
O economista e professor da Estácio BH, Ivan Nogueira, destaca que o resultado das transações correntes ficou positivo em março deste ano, em US$ 286 milhões, Foi o melhor desempenho para meses de março desde 2006, quando o saldo foi positivo em US$ 1,063 bilhão, conforme dados do Banco Central (BC).
Ele também ressalta que os investidores estrangeiros aplicaram US$ 7,7 bilhões no setor produtivo brasileiro em março. De acordo com relatório do BC, o valor é 19% maior que o verificado em fevereiro e 12% acima do registrado em março de 2021. O valor é líquido, ou seja, já exclui as saídas de capital.
“Esses indicadores começam a demonstrar uma melhoria no painel econômico do País que pode trazer benefícios futuros”, observa. Entretanto, ele afirma que o governo brasileiro precisa demonstrar rigidez tributária. Para Nogueira, a retirada do teto de gastos não foi bem vista pelo mercado, já que pode levar ao aumento da dívida pública. “Por isso que o Banco Central, de forma coerente, e para manter a inflação controlada, mantém a taxa de juros elevada”, diz.

IBC-Br cresceu no primeiro trimestre
O economista e CFO da Somus Capital, Luciano Feres, destaca que um dos dados positivos registrados no primeiro trimestre foi o crescimento da atividade econômica. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou alta de 2,41% de janeiro a março em relação ao trimestre anterior (outubro a dezembro de 2022), de acordo com dados dessazonalizados (ajustados para o período). Conforme o BC, na comparação com o período de janeiro a março de 2022, a alta foi de 3,87% (sem ajuste para o período, já que a comparação é entre meses iguais).
O IBC-Br é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica do País e ajuda o BC a tomar decisões sobre a taxa básica de juros, a Selic, definida atualmente em 13,75% ao ano, o maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava nesse patamar.
Os indicadores econômicos do primeiro trimestre, apresentados até o momento, surpreenderam os economistas, tanto que os bancos Santander, Bradesco e ABC Brasil, por exemplo, revisaram para cima suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2023.
Além disso, na última quinta-feira (18), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a pasta pretende revisar a projeção do PIB. De acordo com ele, a secretaria de política econômica está reprojetando o crescimento para 1,9%.
Feres diz que está acompanhando a melhora gradativa do mercado, com destaque para a bolsa, que está fechando em patamares bem acima do verificado no fim do ano passado, além do dólar, que está abaixo ou próximo de R$ 5. “Todos esses indicadores mostram que o Brasil tem ido para uma linha de prosperidade”, avalia. Ele afirma que a falta de embate entre o governo e o Banco Central nos últimos tempos é um ponto favorável, já que tranquiliza o mercado.
Para ele, o Brasil tem se mostrado como uma opção de investimento no cenário internacional e aconselha que o governo mantenha a responsabilidade fiscal que vem pregando. Um dos pontos de atenção para o economista é o desempenho do mercado externo.
O especialista em mercados e assessor na iHUB Investimentos, Lucas Sharau, afirma que o cenário como um todo, desde o início do ano até agora, mostra uma melhora na comparação com o ano passado. Entretanto, ele ressalta que em 2022 ainda existiam os impactos da pandemia na economia do País. “O que vai impactar a economia daqui para frente é a previsibilidade, pois traz confiança para investidor”, diz. Para ele, a materialização do projeto arcabouço fiscal, da previsibilidade das contas públicas, vai interferir no grau de investimento do Brasil.
Para a professora de economia da UNA, Vaníria Ferrari, o governo ainda tem que tranquilizar o mercado com relação aos rumos da economia, visando reduzir as incertezas. Ela acrescenta que é necessário trazer as reformas tributária e administrativa novamente para o debate.
Entre os pontos positivos deste ano na avaliação da professora está a previsão de safra recorde pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, ela aposta num crescimento tímido neste ano.
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