Desempenho de bares e restaurantes fica abaixo do esperado

Os bares e restaurantes de Belo Horizonte registram um crescimento de 20% nas vendas de final de ano, se comparado com o mesmo período de 2021, é o que avalia Matheus Daniel, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG). Porém, esse desempenho está 10 p.p. abaixo do que era esperado para este momento do ano no início de 2022.
Com um crescimento de, aproximadamente, 20% nas vendas de final de ano, o setor de bares e restaurantes da capital mineira apresentou um desempenho dentro do que era previsto pela Abrasel-MG, segundo o presidente da associação, Matheus Daniel. Mas ele ressalta que esse aumento foi abaixo das estimativas do início do ano, que apontavam para uma elevação de 30%, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
O caso de Leonardo Portes, proprietário do bar Da Villa, localizado na região da Savassi, é um exemplo. O desempenho de seu estabelecimento durante as festas de fim de ano ficou dentro do esperado, mas ele acredita que poderia ter sido ainda melhor sem essas fortes chuvas. Portes explica que nesse período do ano, as pessoas costumam sair para os bares para confraternizar com os amigos e familiares.
Portes destaca que a Copa foi ruim para o seu bar e atrapalhou todo o comércio de Belo Horizonte. Pelo fato dela ter acontecido no final do ano, isso acabou alterando a rotina dos consumidores e todo o planejamento dos estabelecimentos comerciais, como é o caso dos bares e restaurantes.
Assim como ele, Daniel também cita as chuvas que ocorreram na capital e a Copa do Mundo como os principais responsáveis por essa redução nas expectativas. Ele ainda conta que o torneio, por um lado, beneficiou os bares durante os jogos do Brasil, que viram o movimento crescer nos dias de jogos até a eliminação da seleção; mas por outro, tirou o rendimento dos restaurantes – principalmente aqueles que não possuem televisão – que sofreram com uma mudança na rotina de seus clientes que passaram a consumir e frequentá-los de maneira reduzida durante esse período.
Daniel conta que 2022 foi um ano de bom faturamento para o setor. Mesmo com a alta da inflação e do endividamento dos empresários, as estimativas de novembro mostravam que o aumento do faturamento dos estabelecimentos da capital mineira estava entre 20% e 22%. O ano foi marcado por uma alta nos preços de alimentos e bebidas que acabou prejudicando os restaurantes, que não conseguiram repassar esses valores, por completo, para os consumidores. Isso contribuiu para uma elevação do endividamento dos empresários, que agora estão com um grande desafio: pagar suas dívidas. O dilema para os donos de bares e restaurantes em 2023 será conseguir manter uma rentabilidade sem deixar de honrar suas dívidas.
Já sobre as estratégias para manter a clientela, o presidente da Abrasel-MG explica que não há muito que fazer em relação à queda no mês de janeiro, pois já é algo esperado pelo setor. Muitos belo-horizontinos costumam sair da cidade e passar as férias no litoral do país ou no interior de Minas. O proprietário do Da Villa relata que o mês de janeiro é o pior para este segmento na capital, pois esse é um período em que as pessoas estão viajando e com isso, o movimento nos bares da cidade sofre uma redução de até 30%.
Daniel explica que a recuperação ocorre no final do mês, com o fim das férias e o início dos preparativos para o carnaval. Ele também destaca que o setor de bares e restaurantes é muito dinâmico e, assim como ocorreu durante a Copa, o carnaval pode significar um momento de resultados benéficos para alguns e de baixa para outros; mas no geral o aproveitamento deve ser positivo.
Enquanto isso, o dono do Da Villa conta que tem observado um aumento nos investimentos voltados para esse setor em Belo Horizonte, com os bares e restaurantes se renovando cada vez mais, com novas arquiteturas e dando mais atenção na melhoria do atendimento para fidelizar os clientes. Outro ponto destacado por ele é a chegada de novos empreendimentos no mercado de bares e restaurantes da capital mineira, principalmente na região da Savassi.
Quanto às expectativas para este ano, Portes se demonstra confiante e acredita que o comércio terá um bom 2023. Ele afirma que o setor irá responder de forma positiva e superar os resultados obtidos no ano anterior. O empresário do setor de bares e restaurantes também acredita que seu estabelecimento possa aproveitar essa boa fase e fechar o ano com uma elevação entre 10% e 15% nas vendas, em relação a 2022.
Mas ele também ressalta que a maior preocupação do setor tem sido a inflação. Ele lembra que o país já possui um histórico negativo nesse assunto, logo, todos devem estar atentos a esse risco. Outro fator que deixa Portes com receios para este ano é a política econômica que o novo governo federal poderá adotar; na visão dele, se algumas políticas de apoio ao empreendedorismo forem deixadas de lado, isso pode gerar resultados negativos para quem atua em setores como de bares e restaurantes e prejudicar os níveis de contratações.
O proprietário do bar localizado na região da Savassi defende que o governo federal precisa ter certos cuidados com relação à questão trabalhista e manter o apoio que os empreendedores vêm recebendo, por meio de uma política mais liberal adotada até o ano anterior.
Para o presidente da Abrasel-MG, ainda é preciso ter conhecimento sobre as consequências das políticas econômicas do novo governo no consumo da população. Ele afirma que o setor precisa da ajuda do governo federal para conseguir superar as dificuldades, principalmente, os pequenos empresários, que são maioria nesse segmento e que o presidente Lula garantiu apoiar durante sua campanha eleitoral. Daniel defende que ainda é muito cedo para fazer qualquer prognóstico, já que ainda estamos no período de transição, “toda mudança costuma nos deixar no escuro, precisamos entender como vai ser esse novo governo”, explica o presidente da associação.
Geração de empregos
Já sobre o mercado de trabalho, Daniel relata que durante a pandemia 30.000 pessoas perderam seu emprego no setor de bares e restaurantes em Belo Horizonte; mas no ano passado, cerca de 20.000 foram contratados. Mesmo com o retorno de muitas vagas de emprego, as empresas do setor ainda sofrem para contratar profissionais comprometidos; “ainda há muitas vagas em aberto”, afirma Daniel.
Ele reforça que o problema não está na qualificação do profissional, mas sim, em seu comprometimento. O presidente da Abrasel-MG diz que o Auxilio Brasil vem tendo uma forte influência nessa situação; “muitos querem trabalhar como freelancer para não perder o auxílio do governo e isso tem atrapalhado os bares e restaurantes que pretendem contratar alguém comprometido com o serviço, eles preferem receber os R$ 600 e manter o auxílio”, descreve o presidente.
Enquanto Portes, conta que em 2022 o mercado havia passado por um momento de otimismo, e esse clima incentivava a contratação de novos funcionários. Mas agora, todos parecem estar um pouco apreensivos com o que pode acontecer com a política econômica e isso pode acabar causando uma queda nas contratações. Porém, ele ressalta que o mercado está aguardando os próximos passos do governo para conseguir produzir estimativas mais concretas sobre o que pode acontecer nesse novo ano que está apenas começando.
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