Economia

Desempenho da indústria mineira tem o pior resultado para agosto em 10 anos

A operação aquém do potencial da indústria de MG está atrelada ao cenário econômico desfavorável, com muitas incertezas
Desempenho da indústria mineira tem o pior resultado para agosto em 10 anos
Foto: Reprodução Adobe Stock

Em agosto de 2025, a indústria mineira registrou o pior desempenho para o mês desde 2015, segundo Sondagem Industrial divulgada, na manhã desta quarta-feira (24), pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Os industriais mineiros reportaram queda na produção, no número de empregados e na utilização da capacidade instalada.

De acordo com o levantamento, o índice de evolução da produção industrial atingiu 44,3 pontos em agosto, mostrando recuo da produção ao ficar abaixo da linha dos 50 pontos – que separa queda de crescimento. O indicador registrou retração de 6,4 pontos frente a julho (50,7 pontos), e de 8,2 pontos ante agosto de 2024 (52,5 pontos), sendo o menor para o mês em 10 anos.

“Agosto é historicamente um mês de expansão, já que dá início ao segundo semestre. Então, realmente seria um mês para vermos avanço”, pontua a economista da Fiemg, Daniela Muniz. Ela explica ainda que o resultado também foi influenciado pelo menor número de dias úteis no mês, já que os dados não passaram por ajuste sazonal. 

Cenário econômico adverso para a indústria de MG

A operação aquém do potencial, segundo a economista, está atrelada ao cenário econômico interno e externo. “A gente está tendo uma combinação de inflação persistente e acima da meta, juros elevados, fragilidade fiscal e políticas fiscais de estímulo de curto prazo que acabam resultando em custos futuros”, diz.

A economista da Fiemg cita ainda o cenário internacional como potencializador dos resultados. “Há alguns meses, estamos vendo um aumento da incerteza, a questão das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre parte das exportações brasileiras, o que contribui para a incerteza econômica. Isso acaba explicando as expectativas negativas dos empresários industriais mineiros”, aponta.

Além da queda na produção, a Sondagem mostrou que a variável nível de emprego industrial também recuou. O índice que mede a evolução do número de empregados ficou em 45,8 pontos em agosto, uma queda de dois pontos na comparação com julho (47,8 pontos).

Em relação a agosto de 2024, a variação é ainda maior, com recuo de 5,3 pontos (51,1 pontos). “Essa variável também pode indicar um ajuste das empresas a um ambiente de menor atividade. Normalmente, o emprego tem uma defasagem maior em relação à queda de produção. Então, é preciso observar os próximos meses para entender se foi uma redução pontual ou se é uma tendência”, comenta.

O impacto negativo também foi observado na utilização da capacidade instalada, que registrou um índice de 40,7 pontos, o que sinaliza, na análise da economista da Fiemg, que as indústrias continuaram operando abaixo da capacidade produtiva habitual.

“Esse é um dado interessante de ser acompanhado porque capacidade ociosa em excesso acaba sendo um obstáculo ao investimento”, explica.

Por outro lado, em linha com a redução da produção, os estoques de produtos diminuíram, registrando um índice de 49,5 pontos, abaixo do nível planejado. Isso sugere, conforme Daniela Muniz, que a demanda superou as expectativas dos empresários.

“Esse dado também contribui com indicadores de produção futura, na medida em que quando as empresas ficam com estoques abaixo do planejado por algum tempo, isso tende a impulsionar a produção nos próximos meses. Entretanto, assim como no emprego, é preciso mais meses para avaliar se é uma tendência ou uma situação pontual”, explicou.

Expectativas para os próximos seis meses não são boas

As perspectivas dos industriais mineiros para os próximos seis meses, conforme a Sondagem Industrial de Minas Gerais, mostraram um recuo significativo, atingindo o menor nível para setembro em 10 anos. As perspectivas com relação à demanda e à compra de matérias-primas retornaram ao campo negativo, após oito meses mostrando expectativas de crescimento.

Conforme o estudo, o indicador de expectativa de demanda apresentou recuo de 8,4 pontos em relação a setembro de 2024, passando de 56,7 pontos para 48,3 pontos. Em relação a agosto (50,8 pontos), o índice decresceu 2,5 pontos.

As perspectivas relacionadas ao emprego sinalizaram recuo pelo segundo mês consecutivo. Passando de 51,9 pontos em setembro de 2024 para 46 pontos agora, um recuo de 5,9 pontos, sinalizando o menor desempenho para o mês em dez anos. Em relação a agosto, o indicador decresceu 2,1 pontos  quando registrou 48,1 pontos.

Por último, as intenções de investimento também perderam força tanto em relação ao mês anterior quanto em relação ao resultado observado há um ano, embora tenham permanecido acima da média histórica. Conforme o estudo, nesse caso, o índice marcou 54,5 pontos em setembro, mostrando queda de 1,7 ponto frente a agosto (56,2 pontos) e de 5,9 pontos ante setembro de 2024 (60,4 pontos).

“Só tivemos índices baixos assim, em expectativa de demanda, em 2015, quando tivemos um ano muito ruim também para a indústria. É um índice que chama a atenção e mostra o pessimismo dos empresários”, ressalta Daniela Muniz. 

Apesar desses recuos, o indicador ficou 1,8 ponto acima da sua média histórica, de 52,7 pontos. “Ou seja, as empresas seguem investindo, porém de forma mais cautelosa”, finaliza Daniela Muniz.

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