Economia

Desindustrialização do Brasil preocupa Fiemg; entenda

Durante apresentação de dados econômicos no Imersão Indústria 2025, especialistas destacaram perda de competitividade e a necessidade de adaptação das empresas
Desindustrialização do Brasil preocupa Fiemg; entenda
Foto: Divulgação Fiemg

Apesar do avanço de 3,8% da indústria de transformação em 2024, a indústria brasileira ainda opera abaixo do seu potencial produtivo. Os dados foram apresentados nesta sexta-feira (3), durante um evento da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), que ressaltou a importância de os empresários acompanharem o contexto de mercado para evitar fracassos.

De acordo com o estudo apresentado pelo economista-chefe da entidade, João Gabriel Pio, a maioria dos pontos é negativa, mas essencial para enfrentar os problemas e encontrar os caminhos para as melhores soluções. Afinal, o desenvolvimento industrial também impulsiona o desenvolvimento econômico e social.

Conforme os dados, a indústria brasileira apresentou um crescimento robusto em 2024 em comparação a anos anteriores. No entanto, considerando o pico histórico do setor, ainda está em um longo processo de recuperação, segundo o economista da Fiemg. “A indústria está 17% abaixo do seu máximo. Ou seja, o setor poderia estar produzindo 17% a mais do que produz atualmente”, comentou.

Ao observar o nível de capacidade instalada, percebe-se que, embora a indústria esteja produzindo abaixo do seu nível histórico, ela opera próxima do pico. Isso sinaliza o que o especialista chama de “esfarelamento” do parque industrial. “Ou, em outras palavras, uma desindustrialização do País”, pontuou.

Segundo João Pio, entre 1990 e 2023, a indústria brasileira perdeu 15 posições no indicador de competitividade internacional. “Trata-se de um reflexo da queda na participação das exportações e no valor agregado mundial. Isso mostra que a produtividade do Brasil é muito baixa em comparação a outros países”, disse.

Um dos motivos para esse cenário é o custo Brasil, que atualmente gira em torno de R$ 1,7 trilhão. “Na prática, isso significa que o simples fato de produzir no Brasil gera um custo adicional de R$ 1,7 trilhão em relação aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Competir nesse cenário, com essa âncora no pé, é muito difícil. As indústrias vão perdendo competitividade e fechando”, explicou Pio.

Para ele, a infraestrutura deficitária, a elevada carga tributária e a insegurança jurídica enfraquecem a indústria. “A educação precária do Brasil, com um baixo nível de qualificação, leva a uma produtividade reduzida, refletindo as ineficiências presentes na economia”, afirmou.

O especialista ressalta, no entanto, que isso não significa que o trabalhador seja preguiçoso. “O salário acompanha a produtividade, e a nossa produtividade é baixa. É essa estrutura e essas ineficiências que fazem com que os níveis produtivos sejam reduzidos”, completou.

Empresários precisam se adaptar

Nesse cenário, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, destacou a importância de os industriais terem acesso a informações e previsões que contribuam para tomadas de decisão mais assertivas. “Boa parte das empresas, principalmente aquelas que fracassam, não o fazem por erros estratégicos ou operacionais, mas por não terem tido acesso ao conjunto de informações necessárias para tomar a decisão correta no momento certo”, afirmou.

Para ele, o cenário econômico e político está em constante mudança, e o empresário muito focado no operacional tende a não se adaptar a essas transformações.

“Estamos em um momento de mudanças constantes no mundo. Observem os desafios apresentados: a guerra tarifária, que está alterando a dinâmica do comércio mundial e afetará os sistemas produtivos do Brasil, e a reforma tributária, que entra em vigor no próximo ano. Já temos o modelo de transição, e há empresas que ainda não sabem que precisarão operar, a partir de janeiro, em dois modelos simultaneamente. Para muitas delas, isso será um grande desafio”, disse.

Roscoe também citou como desafios a alta taxa de juros, que altera as relações dentro das empresas, e a inflação, que não dá sinais de arrefecimento. “Na área trabalhista, outro exemplo é a série de medidas normativas que muitos empresários ainda não compreendem”, comentou.

Para reverter esse quadro, o economista-chefe da Fiemg, João Pio, defendeu ações consistentes, como investimentos em educação e qualificação, aliados à tecnologia e à inovação. “Se esses fatores forem tratados com políticas consistentes, será possível alavancar a produtividade da indústria e da economia como um todo”, afirmou.

Imersão Indústria 2025

Preocupada com o cenário, a Fiemg promove iniciativas como o Imersão Indústria 2025, que acontece nos dias 16 e 17 de outubro, no BH Shopping, com mais de 90 palestras sobre temas de diversas áreas, permitindo que empresários acompanhem a evolução do setor. “Vamos trazer debates nas áreas financeira, tributária, trabalhista, ambiental, energética, entre outras”, exemplificou Roscoe.

O presidente da Fiemg também abordou o tema da inteligência artificial (IA). “Só existem dois tipos de indústria daqui para frente: a que está implementando ou já implementou a IA e a que já morreu. Não há opção. E muitos empresários não estão acompanhando isso”, alertou.

O Imersão Indústria 2025 terá como tema “Conexões para transformar o futuro” e contará com mais de 50 painéis e 50 horas de conteúdo, distribuídos em sete eixos temáticos:

  • Capital Humano
  • Economia e Finanças
  • ESG
  • Gestão Tributária
  • Inovação e Tecnologia
  • Meio Ambiente e Energia
  • Relações do Trabalho

O evento reunirá empresários, especialistas e representantes do setor produtivo em dois dias de programação voltada ao fortalecimento da indústria. Os ingressos em pré-venda já estão disponíveis.

Além da programação de debates e conexões estratégicas, o público poderá conhecer grandes líderes e tomadores de decisão, gerar novas oportunidades de negócios, ampliar sua rede de contatos e apresentar soluções para um público interessado em inovação e competitividade.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas