Economia

Popular, cerveja busca relevância em meio à massificação

Especialistas falam sobre aspectos históricos e culturais da queridinha dos brasileiros, além dos desafios para uma maior valorização da bebida
Popular, cerveja busca relevância em meio à massificação
O Brasil atingiu a expressiva marca de 1.740 empresas cervejarias instaladas | Crédito: Sandro Abritta

No dia de celebrar uma das bebidas mais antigas e apreciadas da humanidade, o DIÁRIO DO COMÉRCIO mergulha em uma jornada para entender a importância da cerveja em sua evolução. Ao explorar os livros cervejeiros, é comum encontrar capítulos inteiros dedicados à história da cerveja. Eles revelam suas curiosidades e os milagres que a transformaram em uma bebida tão consumida atualmente. Contudo, a simples narrativa histórica não é suficiente para destacar a relevância dessa bebida na trajetória social.

Em um mundo onde supermercados oferecem quantidades massivas de cervejas industrializadas, percebemos que seu valor e essência foram praticamente perdidos. A cada momento, nos deparamos com uma diversidade crescente de rótulos, mas com um valor cada vez menor.

Diferentemente do vinho, onde a qualidade muitas vezes é um fator primordial, a cerveja é frequentemente escolhida com base no preço mais baixo. O problema não reside nos preços acessíveis das cervejas em si, afinal, é esperado que haja opções para todos os bolsos. A questão é a produção de cervejas sem inspiração, que visam apenas manter os preços baixos.

Para mudar a cultura do desinteresse pela relevância da bebida, é fundamental que a indústria cervejeira, assim como os consumidores, compreendam o porquê da cerveja ter conseguido uma presença constante na humanidade ao longo do tempo.

Do convento, uma cerveja centenária

Em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, está concentrada a produção da cerveja Hofbauer, um rótulo especial em homenagem a São Clemente Maria Hofbauer, santo padroeiro dos padeiros. Produção essa, aliás, trazida ao Brasil pelos holandeses, em 1894. O redentorista da Congregação do Santíssimo Redentor, em Juiz de Fora, padre Jonas Pacheco é quem cuida dessa produção, que tem sua renda direcionada às atividades sociais e religiosas desenvolvidas pela ordem.

Padre Jonas Pacheco, da Congregação do Santíssimo Redentor, em Juiz de Fora, na produção da cerveja Hofbauer | Crédito: Sandro Abritta

O sacerdote explica que a cerveja é dita popularmente por ser um “pão líquido”, ou seja, uma bebida que nutre e tem um histórico milenar atrelado à própria história da Igreja Católica. “Segundo os relatos antigos, foram os egípcios e até mesmo os sumérios que produziram as primeiras cervejas, por volta de 5.000 e 6.000 anos antes de Cristo. Uma bebida que já era produzida, talvez não com o nome de cerveja, mas muito idêntica e feita a partir dos maltes dos grãos, assim como é feita a cerveja atualmente”, conta.

“A cerveja também teve uma relação muito próxima com a igreja, pois existia uma produção interna e comum de alimentos e bebidas nos conventos e mosteiros. Porém, há relatos também que a bebida já foi levada para as tropas de guerra para saciar a fome e a sede, nutrindo o corpo dos guerrilheiros para aguentar as batalhas. Era uma bebida forte e que esteve nas guerras por anos”, pontua o padre.

Segundo Pacheco, no Brasil, o consumo de cerveja se popularizou entre a década de 1970 e os anos 2000, mas foi um crescimento que ocorreu distante do que se propunha ser a bebida. “Acredito que o mercado não conseguiu fazer a bebida ficar mais cara por conta da popularização, pois se visava a produção de algo refrescante, algo que matasse a sede dos brasileiros, por conta do clima tropical”, pontua.

Mercado artesanal cresce no País em vistas de reeducar o consumo

Segundo o padre, existe uma desvalorização grande das cervejas atualmente, devido à elevada diversidade. Ele observa que as cervejas artesanais especiais de boa qualidade ganharam espaço nos supermercados, o que proporcionou um novo movimento do mercado cervejeiro.

“Elas (as cervejas) passaram a ocupar as gôndolas, tendo feito concorrência com grande cervejarias. Com isso, cervejarias de renome nacional passaram a produzir cervejas duplo malte e puro malte. Ainda não é uma grande competição, mas já existe um incômodo para as grandes marcas”, diz.

“É claro que, às vezes, o econômico não pesa no orçamento, mas hoje, as pessoas também têm entendido que beber melhor e beber menos não é beber mais e pior. Então, às vezes você gasta um pouquinho mais com alguns tipos de cervejas, mas são bebidas com teor alcoólico maior e que satisfazem a pessoa”, explica o mestre cervejeiro.

A frente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cerveja, Marco Falcone é um dos pioneiros da cerveja artesanal no País. Ele conta que quando surgiram os rótulos de cervejas artesanais, o setor mudou. No entanto, as cervejas industriais são comercializadas por preços mais baixos porque se tornaram bebidas populares.

Um novo momento no setor

“Hoje, as cervejas são valorizadas enquanto cervejas, onde podemos encontrar garrafas a R$ 60 em bons supermercados. O artesanal é um movimento que fez crescer a preferência das pessoas pela bebida, muita vezes, até utilizada para harmonizar com a gastronomia. E aí surgiu o conhecido sommelier de cerveja, que beneficiou muito o setor. E hoje existe uma comparação com os bons vinhos e serviços especiais”, diz Falcone.

De toda maneira, ele diz que sempre vai existir aquele público consumidor que quer beber pela quantidade e não pela qualidade. Mas que se vê aumentando, a cada dia, o número de pessoas que vinculam a cerveja à gastronomia, por exemplo, e que consome o produto pela qualidade de produção.

Terceiro maior mercado produtor de cerveja do País

Destaque do Anuário da Cerveja 2023 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Minas teve um crescimento registrado de 33 cervejarias e saltou para a terceira posição no ranking nacional com 222 estabelecimentos, superando Santa Catarina.

Com aumento de 17,4% no número de cervejarias em 2022 na comparação com o ano anterior, o Estado apresentou crescimento acima da média nacional. O setor cervejeiro cresceu 11,6% no País, com a abertura de 180 novos estabelecimentos. Atualmente, o Brasil conta com 1.740 cervejarias e a fabricação é liderada pela produção artesanal. Além disso, há quatro fábricas de produção industrial que produzem em larga escala.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas