Disposição para mudar é principal passo para abrir capital, aponta CEO do Banco XP

O principal passo para uma empresa de capital fechado começar um processo de abertura de capital, até que consiga fazer uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), é o proprietário estar disposto a mudar toda a gestão e compartilhar a administração, afirma o CEO do Banco XP SA, o banco de atacado da XP Investimentos, José Berenguer.
O ex-CEO do JP Morgan no Brasil foi um dos convidados do Family Day, evento em Belo Horizonte organizado pelo multi family office Nau Capital, nesta sexta-feira (14). Em entrevista ao Diário do Comércio, ele apontou cinco etapas para uma empresa conseguir fazer um processo de abertura de capital ou mesmo trazer um sócio minoritário para o negócio.
A primeira delas, afirma, é o proprietário estar disposto a lidar com um sócio que vai participar da tomada de decisão, momento que, em uma empresa de capital fechado, é decidido apenas pelo dono, além da necessidade de compartilhar informações e dividir responsabilidades. “Se passou dessa etapa, ou seja, virou a chave, realmente está pronto para ter um sócio. Aí tem que começar a pensar na governança da empresa”, disse Berenguer.
O CEO do Banco XP explica que o desenvolvimento da governança se dá pela organização de um conselho de administração, com integrantes de fora do negócio, para a empresa poder ter pessoas com expertise ou características diferentes da visão do fundador, que serão necessárias no processo de abertura de capital.
Feito isso, a empresa precisa contratar uma auditoria externa para organizar as contas. José Berenguer ressalta que não é obrigatório a contratação de uma empresa do grupo das chamadas Big Four do setor, apenas é necessário começar essa organização contábil para preparar a empresa para a entrada em uma sociedade. “Se o sócio vai entrar, ele vai querer que você preste contas. E para prestar contas, tem que estar com o tudo organizado”, disse.
A quarta etapa do processo de abertura de capital é a contratação de um escritório de advocacia para a criação do contrato de sociedade a ser celebrado. E o quinto passo, se for do desejo do empresário, é prosseguir para um IPO na bolsa de valores. O processo é também considerado duro e demorado pelo executivo.
“Você contrata vários advogados, vários setores de advocacia, vários bancos, tem que montar um prospecto que é aprovado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Se é oferta oferecida para investidores estrangeiros, tem que passar o prospecto na SEC (Securities and Exchange Commission, agência americana equivalente à CVM)”, explicou.
Superada as etapas, a empresa deve conseguir sua abertura de capital e ter acesso a vantagens competitivas importantes na gestão financeira, como capitalização e endividamento menos onerosos, entre outras vantagens, afirma, Berenguer. “O principal é o primeiro passo. Estou pronto, disposto a que o mercado saiba minha estratégia toda, a ter que dividir tudo, todo meu poder, minha forma de gerir, estou disposto a mudá-la? É o passo mais importante”, finalizou.
Mercado de capitais poderá ser maior que mercado de crédito
O CEO do Banco XP SA avalia que a abertura de capital é indicada para empresas que estão num estágio mais alto de governança, gestão financeira e contábil. Um empreendimento em que ainda há certa informalidade, aponta, onde o dono mistura a pessoa física com a jurídica, não está pronto. “Para acessar o mercado tem que estar tudo redondo”, disse Berenguer.
Achar que está preparado para a abertura de capital, mas no meio do processo perceber que não está pronto para implementar mudanças necessárias, é o grande risco do empresário. Entre outras coisas, o estresse gerado com a sucessão familiar pode forçar uma reviravolta. “O que recomendo para clientes numa situação como essa é ‘stop’. Para, muda, porque se você não está se sentindo bem, não passa. Esse é o maior risco que a gente tem”, pontuou.
Berenguer ressaltou que o mercado de capitais nos Estados Unidos, como fonte de recursos financeiros para empresas, é bem maior que o próprio mercado de crédito. Essa ainda não é a realidade brasileira, mas ele aposta que será em breve. “Isso está se invertendo, o crédito ainda é maior que o mercado de capitais. Daqui uns anos o mercado de capitais vai passar, vai ter uma participação maior que o crédito na fonte de recursos para empresas”, disse.
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