Disputa tarifária entre Brasil e EUA pode encarecer serviços de nuvem em até 10%

A disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos (EUA) pode provocar um aumento de 2% a 10% nos preços de serviços de computação em nuvem utilizados por empresas brasileiras. A estimativa é da consultoria Tripla, que analisou os impactos da Lei de Reciprocidade Econômica, que pode ser adotada pelo governo brasileiro como resposta à tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos do Brasil.
Segundo a Tripla, o reajuste nos preços deverá ser aplicado diretamente pelas grandes provedoras internacionais, como Google e Microsoft, que não devem absorver os custos extras. A projeção é que o valor adicional seja incluído nas faturas sob a forma de “Taxa de Reciprocidade” ou “Custo Operacional Regulatório”.
“A nossa análise mostra que a incerteza não é se haverá aumento, mas quando e de quanto”, afirma Mauricio Barbosa, head de cloud e data center da Tripla. “O custo da nuvem no Brasil está deixando de ser uma variável técnica para se tornar um risco geopolítico. A preparação para esse novo cenário é uma necessidade estratégica.”
O estudo alerta que o cenário pode afetar diretamente mais da metade das empresas do País. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 52% das companhias brasileiras já operam com processamento de dados em ambientes de nuvem. A prática de repassar tributos regulatórios ao consumidor, segundo a consultoria, já é comum em países como Canadá e membros da União Europeia, que adotaram impostos sobre serviços digitais nos últimos anos.
A presidente da Federação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Assespro MG), Edna Meneses, avalia que o impacto pode ir além do setor de TI. “Se realmente esse cenário se confirmar, quem vai sofrer são as empresas de tecnologia e, depois, o consumidor, que vai ter o custo repassado a ele”, afirma.
Ela observa que, embora o Brasil tenha data centers próprios, a maioria das operações ainda depende de servidores localizados no exterior. “O País não tem soberania tecnológica. É um momento de muita ruptura. Vai depender de negociação, de cautela e de decisões que precisam ser tomadas com urgência”, diz.
Para Edna Meneses, revisões contratuais devem ser inevitáveis. “Não vejo como uma solução imediata apenas repassar os custos aos clientes. Vai ser necessário renegociar contratos em um cenário confuso e de prazos muito curtos. As empresas de TI vão precisar de muito jogo de cintura.”
Sobre a possibilidade de migração para nuvens localizadas fora dos Estados Unidos, ela aponta limitações técnicas e operacionais. “Não é algo que possa ser feito da noite para o dia. Migrar para outra arquitetura demanda tempo, recursos e contratação de novas estruturas. E se todas as empresas brasileiras tentarem isso ao mesmo tempo, os fornecedores de outros países não terão capacidade para absorver essa demanda”, explica.
A presidente da Assespro também destaca que o impacto do aumento nos custos de nuvem se estende a serviços cotidianos. “Pensa no celular, nos aplicativos, na segurança, no armazenamento. Tudo isso depende de serviços de nuvem baseados nos Estados Unidos. A interrupção ou encarecimento afeta toda a cadeia”, afirma. “Tecnologia da informação é um tripé: precisa de pessoa, hardware e software. Se você interfere em um ponto, compromete o setor inteiro”, conclui.
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