Economia

Doações para instituições sociais sofrem queda de 67% no pós-pandemia

Cerca de 800 mil entidades sem fins lucrativos dependem crucialmente de doações para manter suas operações em todo o Brasil
Atualizado em 28 de fevereiro de 2024 • 16:41
Doações para instituições sociais sofrem queda de 67% no pós-pandemia
Foto: Caritas Brasileira/Divulgação

Diferentemente do que ocorreu durante a pandemia, em que os brasileiros se empenharam de forma jamais vista para ações humanitárias, no ano passado, o cenário de doações em todo o País foi mais desafiador para as organizações da sociedade Civil (OSCs). Um levantamento recente identificou que, até o fim de dezembro de 2023, apenas R$ 474,9 milhões foram registrados em doações, uma queda de 67% frente todo o ano de 2022, quando o montante chegou a R$ 1,4 bilhão.

O declínio acentuado é evidenciado pela redução expressiva no número de doadores, que passou de 397 para 158, uma diminuição de quase 60%. Os números são do Monitor das Doações, ferramenta mantida pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), com o apoio do Grupo de Fundações e Empresas (GIFE).

Essas entidades computaram não somente um panorama mais dificultoso para as instituições que dependem de donativos, mas também identificaram uma menor visibilidade nacional em apoio às causas.

“Na pandemia, por exemplo, campanhas, redes de solidariedade, lives, reportagens e eventos estimularam a população brasileira para o ato de doar. Isso é um fato. No entanto, estamos vivendo um cenário em que, além da baixa no estímulo de ajudar o outro, a oferta de crédito ainda é uma questão importante”, diz o mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Carlos Dibbern.

“Muitas famílias e empresas buscaram esses recursos para reorganizar as suas dívidas ou apostar em investimentos, o que provocou uma certa diminuição no volume de doações, mas elas seguem acontecendo, porém é de se esperar números menores, pois a pandemia foi arrebatadora para tantos. A tendência é que esse cenário permaneça neste ano”, aponta o especialista.

Cenário precisa ser revertido

Segundo as entidades, essa conjuntura incerta exige uma reflexão urgente e ação imediata para reverter esse quadro. O diretor executivo da ABCR, Fernando Nogueira, ressalta a urgência de um aumento nas doações para garantir a continuidade das atividades das OSCs e o progresso das causas que defendem.

“É preocupante a diminuição nos valores doados por duas razões. A primeira é pelo volume menor, dificultando que as organizações tenham impacto em suas causas. Mas também sinaliza menor disposição por parte de doadores de revelarem que doam e em qual volume. Esperamos que para 2024 esses números voltem a crescer”, diz.

No Brasil, mais de 800 mil entidades sem fins lucrativos dependem crucialmente de doações para manter suas operações e impactar positivamente diversas áreas. Além de sustentar essas organizações, as contribuições filantrópicas desempenham um papel fundamental na economia nacional, gerando empregos e fomentando o desenvolvimento das comunidades.

Segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o Terceiro Setor contribui com 4,27% do Produto Interno Bruto (PIB) e sustenta mais de 6 milhões de postos de trabalho.

BNDES é um dos maiores doadores do País

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que contempla também projetos de fomento à filantropia, destina, anualmente, créditos para o desenvolvimento e execução de ações. Somente na pandemia, a instituição financeira captou mais de R$ 110 milhões em recursos para ações de combate à Covid-19. Já em 2023, um total de R$ 726 milhões foram contratados ao longo de 2023 e mais R$ 3,1 bilhões foram anunciados por potenciais doadores.

  • Dentre as causas mais apoiadas em 2023 estão saúde, meio ambiente, assistência social, educação e fortalecimento da filantropia;
  • O mês com o maior volume de doações foi outubro, com R$ 163 milhões;
  • A maior doação do ano veio de uma parceria entre o BNDES e a Embaixada da Alemanha. Eles enviaram R$ 115 milhões ao Fundo Amazônia em combate ao desastre climático.
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