Dólar ainda não põe rota da inflação em risco
São Paulo – Até agora, o dólar não coloca em risco a trajetória de inflação, disseram ontem os economistas do Itaú Unibanco que participaram do Macro em Pauta, uma conversa trimestral que o Departamento Econômico do banco faz com jornalistas para comentar a conjuntura econômica doméstica e externa.
Nos cálculos do banco, o coeficiente de repasse do dólar para a inflação é de 7,5%. “A cada 10% de depreciação cambial, joga-se 0,75 ponto percentual para a projeção de inflação. Mas, neste ano, na prática, o repasse tem sido mais baixo”, disse o chefe do Departamento Econômico do Itaú Unibanco, Mário Mesquita.
Para este ano, o Itaú Unibanco projeta inflação de 4,1% e, para 2019, uma taxa de 4,2%. Para Felipe Salles, um dos economistas do banco, o ponto a ser destacado com a contenção da inflação mesmo com a desvalorização cambial é que o Banco Central (BC) não precisará aumentar juros.
Ainda segundo Mesquita e Salles, os modelos do banco têm superestimado a inflação neste ano. Isso significa dizer que a inflação efetiva tem ficado abaixo das projeções do banco. “Em um cenário com câmbio a R$ 3,90, não vemos necessidade de se elevar a Selic”, reforçou Mesquita. Ele citou um relatório do BC segundo o qual a condução da política monetária não deve ser alterada.
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Um pouco antes, o banco havia informado que a economia brasileira deve ter sofrido uma ligeira queda de 0,2% em julho, ante junho, segundo o Produto Interno Bruto (PIB) Mensal (PM-Itaú) calculado pelo Departamento Econômico do Itaú Unibanco.
Em junho, o PM-Itaú havia crescido 1,4% na leitura com descontos dos efeitos sazonais, compensando a queda de 1,2% em maio, na esteira da greve dos caminhoneiros. Na comparação anual, o PM-Itaú acumula alta de 1,6% no ano até junho.
PIB global – A guerra tarifária deverá gerar um impacto negativo de 0,7 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) mundial, o que para o Departamento Econômico do Itaú Unibanco é um impacto razoável.
Sobre o PIB das duas maiores economias do planeta, o impacto direto (exportações) da guerra tarifária, segundo os economistas do Itaú Unibanco, seria de 0,24 ponto percentual negativo nos Estados Unidos e de -0,12 ponto no PIB chinês. O impacto indireto, que envolve o comércio no mundo, seria de -0,08 ponto percentual nos Estados Unidos e de -0,03% na China.
Para o Brasil, o Departamento Econômico do Itaú não calculou o impacto por considerar a economia brasileira muito fechada. “No que se refere ao Brasil, nossa preocupação é com o impacto que a guerra tarifária poderá exercer na China”, disse Mesquita, para quem a economia brasileira, apesar de fechada, poderá sofrer com o desdobramento do impacto da guerra tarifária na China.
O economista ponderou, no entanto, que as autoridades chinesas querem assegurar crescimento do país, até porque há uma pressão política sobre o presidente chinês Xi Jinping.
Mais volátil – A oscilação registrada pelo câmbio entre julho e 20 de agosto, que levou o dólar a superar a casa dos R$ 4, é maior do que a observada em igual intervalo das últimas três eleições (2006, 2010 e 2014). Os dados são de um levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A volatilidade vista nos últimos dias tem sido reflexo dos resultados das últimas pesquisas eleitorais. “O movimento era esperado por conta das incertezas e mudanças de expectativas dos investidores durante o período eleitoral”, diz nota da Anbima.
O levantamento aponta também que, em 2006 e 2010, o real valorizou 1,30% e 2,32%, respectivamente. Em 2014, desvalorizou 2,53%. Já em 2018, a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar foi de 3,41%. (AE)
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