Economia

Dólar deverá ter ligeira alta em 2026

Moeda brasileira deverá ter ano de estabilidade, mas período eleitoral surge como ponto de atenção
Dólar deverá ter ligeira alta em 2026
Segmentos de tecnologia com foco em inteligência artificial e segurança da informação, impulsionada pela digitalização, são as apostas para 2026, em função do câmbio | Foto: Arquivo / Agência Brasil

Considerando as projeções para o próximo ano, a tendência do dólar é de uma ligeira valorização frente ao real, indicando um cenário de estabilidade com viés de desvalorização da moeda brasileira. Porém, o período eleitoral vira um ponto de atenção e pode mudar os rumos no segundo semestre. Essas são as perspectivas apresentadas pelos especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio.

De forma geral, a expectativa não é de uma explosão repentina do dólar, mas sim de um ajuste gradual, em que a cotação sairia do patamar atual de R$ 5,40 para R$ 5,50 em 2026. No entanto, conforme pondera a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o próximo ano será mais desafiador em função do calendário eleitoral.

Segundo ela, o ano eleitoral traz volatilidade para a taxa de câmbio que, em 2026, não deve ficar restrita apenas ao segundo semestre. “É uma volatilidade em função do fator incerteza, e ela deve se estender ao longo de todo o ano. Quando o mercado enfrenta incertezas sobre algum tema, isso acaba gerando variações e pressão sobre a taxa de câmbio, porque os investidores buscam proteção em uma moeda mais forte, que é o dólar”, afirma.

O CEO do banco de câmbio Moneycorp, Luciano Carvalho, na mesma linha de raciocínio, avalia que as eleições têm impacto significativo sobre o dólar. Segundo o executivo, a incerteza política interna e as expectativas em relação à política monetária podem elevar a valorização da moeda norte-americana, especialmente em momentos de maior tensão eleitoral. “É uma volatilidade natural que não controlamos”, diz. Ele pondera, no entanto, que fatores externos e internos também afetam diretamente a cotação.

Passada a turbulência do período eleitoral, Cristiane Quartaroli acredita ser possível uma taxa de câmbio mais apreciada no Brasil. “Talvez até um pouco abaixo do que o mercado está projetando, que é de R$ 5,40”, afirma.

Ela avalia que, em função da expectativa de queda dos juros nos Estados Unidos e do início do ciclo de redução da taxa Selic, o cenário geral tende a ser favorável ao ingresso de fluxo de capital no País. “Ainda estamos falando de uma Selic em dois dígitos, com uma taxa de juros nos Estados Unidos mais baixa. Assim, a tendência do dólar é de continuidade de queda, porém com muita volatilidade por conta das eleições”, defende.

O economista-chefe da Nomos, Beto Saadia, também projeta um dólar mais forte. Ele afirma que, em 2025, o Brasil registrou movimentos econômicos que não devem se repetir em 2026. Além da forte queda da taxa de juros nos Estados Unidos, que influenciou o fluxo para o real, a elevação da taxa de juros no Brasil, considerada por Saadia mais intensa do que o esperado, também teve impacto relevante. “No próximo ano, esses elementos não estarão presentes, e deveremos observar uma queda da taxa de juros brasileira. Além disso, o aumento da dívida pública tende a piorar o quadro fiscal, o que fará diferença”, avalia.

Saadia também acredita em uma economia norte-americana forte, impulsionada pela inteligência artificial e seus desdobramentos, o que deve direcionar investimentos para os Estados Unidos. “Isso tende a sustentar um dólar mais forte no próximo ano”, afirma.

No entanto, o economista ressalta uma possível mudança de rumo da cotação no segundo semestre em função das eleições. “O mercado tem no Tarcísio [de Freitas] (Republicanos) a percepção de uma maior inclinação para reformas, como a orçamentária. Nesse sentido, se ele avançar nas pesquisas, podemos ver o dólar recuando e o real se valorizando”, avalia.

Setores podem ser beneficiados

Ao analisar os setores que devem ganhar maior relevância em função do câmbio em 2026, o CEO do banco de câmbio Moneycorp, Luciano Carvalho, aposta nos segmentos de tecnologia com foco em inteligência artificial e segurança da informação, impulsionados pela crescente digitalização e pela demanda por soluções tecnológicas.

O agronegócio é outro setor destacado, beneficiado pela demanda global por commodities e pelas inovações no campo, como as agritechs. No setor financeiro, Carvalho aponta oportunidades para as fintechs e soluções de crédito, em meio à retomada econômica e ao ciclo de queda dos juros.

Por fim, o executivo cita os setores de varejo e atacado, que tendem a se beneficiar do consumo mais forte e da digitalização das operações. “Esses setores estão bem posicionados para aproveitar as tendências de inovação, transformação digital e recuperação econômica no Brasil”, conclui.

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