Dólar e euro aproximam da paridade de preço em meio à recessão mundial

Um dólar, um euro? A aproximação da paridade entre as moedas ganhou os noticiários. Mas será que o euro sempre foi mais alto que o dólar? O economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, Mario Rubens, lembra que não.
Antes da moeda física existir, o euro chegava a custar cerca de 80 centavos de dólar. A recessão mundial e o aumento inflacionário são alguns dos fatores que explicam a queda frente ao dinheiro americano.
Segundo Rubens, o momento vivido atualmente é chamado pelas ciências econômicas de fuga para qualidade. “O dinheiro está se deslocando para o mercado americano. Com a falta de aquecimento no mercado europeu e mundial, os agentes financeiros preferem ir para um lugar mais seguro (trazer os investimentos para a moeda americana). Eles antecipam os movimentos”, explica o professor.
Para entender o cenário, o diretor da BYEBNK, Theo Lamounier, pontua que os fatos recentes também se relacionam com o uso do dólar nas transações internacionais. Geralmente, o dólar é moeda utilizada em contratos de compras de mercadorias, máquinas e diversos outros. Quando há disposição de crédito em abundância no mercado, o equilíbrio nessa relação se mantém. O que não é a realidade atual.
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Conforme acrescenta Lamounier, enquanto os Estados Unidos sobem a taxa de juros, a Europa ainda a mantém negativa. E, neste momento, os agentes do mercado se tornam mais conservadores — um desejo que se estende às empresas europeias que não querem ver dívidas mais altas.
“Os investidores vão tentar aumentar seu nível de caixa e começar a pagar o endividamento. E começa a ter uma troca de euros por dólares para o pagamento dessas obrigações, o que faz com que o euro deprecie”, explica.
Guerra na Ucrânia e a Covid-19
A guerra na Ucrânia é um dos fatores que também estimula essa realidade. Isso porque ela agrava o cenário de recessão que o mundo começou a viver a partir da crise sanitária da Covid-19, conforme explica Rubens. Vale lembrar que neste momento, por exemplo, a China ainda impõe fechamentos rigorosos no País para barrar novas ondas de contaminação. Essa política de Covid Zero, como é chamada, contribui para que a cadeia produtiva do mundo não seja normalizada, principalmente aquela relacionada a componentes industriais.
Nesse mesmo sentido, Lamounier acrescenta que sem o gás russo, fonte da maior parte de combustível importado pelos países do continente, a Europa precisa de mais dólares também para comprar a energia. Esse movimento se antecede ao inverno europeu, com início em dezembro.
Recessão mundial, Brasil, dólar e euro
O economista Mario Rubens aponta que a recessão mundial tem como efeito a queda dos preços de commodities. A desaceleração também faz com que o consumo entre em queda. Exemplo disso é que o petróleo já apresenta preços mais baixos. Desde oito de junho, quando o barril do petróleo foi negociado a 123.820 USD (dólar dos Estados Unidos), o produto tem quedas. Hoje, 12 de julho, quase um mês após, o mesmo material foi negociado a 99.045 USD — dados extraídos da plataforma Trading View.
Para os brasileiros, Lamounier revela que os impactos não serão tão grandes no cenário até então delineado. Aqueles que pretendem viajar para a zona do euro, terão mais facilidade para as compras. No entanto, o dólar também fica mais caro frente ao real (desvalorização da moeda brasileira) e investidores podem resgatar valores no Brasil para trocar por dólares. No que tange à exportação de commodities, Lamounier lembra que o País em que as riquezas são geradas a partir dessas transações, há benefício no caso de elevação de preços. Mas, se houver desvalorização dos produtos, o Brasil também pode sofrer. Um ponto de alerta está nos indicativos de que a China não manterá mais os mesmos níveis de importação, o que também é um reflexo da recessão mundial.
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