Dólar recua 4,5% com fim de incertezas políticas

As incertezas políticas que rondaram o mercado financeiro no mês de outubro dissolveram-se no último dia 30 com a escolha do novo presidente do Brasil. O resultado das eleições, no entanto, abriu espaço para as dúvidas de investidores quanto aos próximos passos do governo eleito e isso gerou uma movimentação no comportamento do câmbio.
Na segunda-feira subsequente ao anúncio da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, finalizou o pregão com alta de 1,31%, a 116.037,08 pontos. Já o dólar fechou em queda de 2,54% frente ao real, sendo negociado a R$5,16, a maior depreciação percentual diária desde o início de outubro, quando a moeda americana caiu 4%, em relação ao resultado do primeiro turno das eleições.
Ao fim desta semana, o dólar teve forte recuo frente ao real. Até a quinta-feira (3), a moeda norte-americana subiu apenas 0,14% frente à divisa brasileira, a R$ 5,125. Já na sexta-feira (4), houve uma nova baixa do dólar, de 1,24% na sessão, a R$ 5,061 na compra e R$ 5,062 na venda. Esses resultados foram guiados, desta vez, pelo cenário externo favorável, com a expectativa de que a China relaxe medidas de combate à Covid-19 e a repercussão dos dados de emprego dos EUA, que vieram acima do esperado. Com isso, o dólar recuou 4,5%, no acumulado da semana.
A economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, vê esse movimento do mercado financeiro como positivo. “A semana foi marcada por valorização do real, em parte porque a nossa moeda refletiu o fim do período eleitoral, independentemente de quem ganhou as eleições, esse fator incerteza reduziu-se. Além disso, houve notícias de redução parcial da política Covid zero por parte da China que também trouxe algum alívio, principalmente hoje (ontem, dia 4), ainda que tenha sido momentâneo. E também saíram dados de desemprego nos Estados Unidos, que vieram em linha com as estimativas do mercado e mostraram alguma recuperação, que também sustentaram o bom humor dos mercados hoje de forma geral”, explica.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Quanto ao contexto das eleições, o diretor-presidente da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, acredita que há uma tendência de fortalecimento do real em meio ao fim das incertezas quanto ao novo governo. “A redução da incerteza está relacionada à redução do risco e a previsibilidade em geral é boa para investimentos. Além disso, você tem uma sinalização em atos concretos do governo como, por exemplo, o papel do Alckmin como coordenador desse período de transição, o diálogo com Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados) em prol da governabilidade e o próprio fato do Lula ter se cercado de economistas de renome e mais ortodoxos dentro da campanha. Esses fatores são sinalizadores que agora há mais lastro de uma provável política fiscal mais responsável e, portanto, isso acalma o mercado e atrai mais investimentos”, afirma.
O especialista, no entanto, faz uma ressalva de que há algumas promessas de campanha que vão elevar o gasto e ter um peso muito grande no orçamento. “O Auxílio Brasil, que vai voltar a se chamar Bolsa Família, a questão do reajuste do salário mínimo. Então, fala-se de R$ 200 bilhões a R$ 400 bilhões que vão precisar entrar no orçamento e esse desconto fiscal aumenta o risco para o País e que tem um impacto também no câmbio. Há, sim, uma redução da incerteza, mas ainda há riscos que vão diminuindo à medida que essas coisas vão se delineando. Em particular, as definições quanto à equipe e à política econômica do novo governo”, ressalta.
Com relação às perspectivas do mercado de câmbio para os próximos meses, a economista-chefe da Coface América Latina, Patrícia Krause, aponta que o dólar deve fechar o ano em R$ 5,20. Segundo ela, “o principal fator para essa expectativa deve ser o cenário volátil externo e a alta de juros nos mercados desenvolvidos, exercendo uma pressão de depreciação. Além disso, possíveis anúncios sobre a política fiscal em 2023 também podem influenciar”.
Atualizada às 19h42, do dia 07/11/2022.
Ouça a rádio de Minas