Economia

‘É preciso que programas sociais dialoguem com o mercado de trabalho’, diz Roscoe 

O presidente da Fiemg avalia a dificuldade de encontrar mão de obra como fruto de trabalhadores que recorrem aos programas sociais e complementam a renda com trabalhos informais
‘É preciso que programas sociais dialoguem com o mercado de trabalho’, diz Roscoe 
Foto: Fiemg/Sebastião Jacinto Júnior

Ao comentar sobre os principais desafios das indústrias durante a 6ª edição do Imersão Indústria, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, falou sobre os problemas relacionados à mão de obra e aos programas sociais.

Roscoe pontuou que a dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados é o principal gargalo não só das indústrias como de todo o mercado de trabalho nacional, citando setores de serviços, comércio e rural. Para o dirigente, essa dificuldade é fruto de uma mudança de comportamento dos profissionais que optam por não trabalhar no regime consolidado pelas leis trabalhistas (CLT) e recorrem ao auxílio de programas sociais como o Bolsa Família, complementando a renda com trabalhos informais.

“Eles optam por prestar um serviço de diarista, um serviço spot (de transporte) ou freelancer em várias profissões. Isso tem criado uma dificuldade para empresas que precisam de funcionários com disponibilidade em tempo integral”, explicou.

O presidente da Fiemg comentou ainda que, em recente encontro com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, reivindicou uma solução coordenada para que os auxílios sociais não reforcem esse problema.

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“O governo precisa ter uma solução para que os programas sociais dialoguem com o mercado de trabalho. Não dá para segregar uma coisa da outra. Caso contrário, a cada dia que passa, você vai ter mais pessoas optando por receber ajuda do governo e fazer trabalhos temporários para complementar a renda”, defendeu.

Roscoe concordou que, em alguns casos, sob o ponto de vista financeiro, essa tendência pode ser mais atrativa. No entanto, ele ressalta as possíveis consequências para o País. “Isso vai impactar as contas públicas e a produtividade das empresas de todo o Brasil, gerando, inclusive, um custo inflacionário, já que com um custo maior – por causa da perda de produtividade e do custo mais alto da mão de obra -, isso vai acabar sendo repassado para toda a sociedade”, avaliou.

Para o dirigente, a política de auxílio deve retirar as pessoas da situação de miséria e vulnerabilidade, colocando-as no mundo real de consumo e crescimento. Na visão de Roscoe, este é um tema que já interfere na produtividade, inclusive dos empregados já contratados.

“Quando você tem dificuldade na contratação, existe uma tendência maior de turnover. Na indústria, o profissional precisa ser qualificado e quando você tem o turnover, durante o período de aprendizado, há uma perda grande de produtividade”, afirmou.

O presidente da Fiemg ressaltou ainda que as empresas têm realizado iniciativas para amenizar o problema e se tornarem mais atrativas, entretanto, não há uma estratégia única. Além disso, ainda há o fator limitador que é o custo. “Em cada segmento, há uma necessidade diferente, uma qualificação diferente. Então, as estratégias mudam de acordo com o perfil do trabalhador necessário para cada tipo de atividade e esbarramos no custo que limita as ações”, disse.

Flávio Roscoe lembra ainda que o Brasil não é uma ilha e acredita ser estritamente necessária uma política que mude a nova realidade do mercado de auxílio que, no Brasil, é mais contundente. “Sobretudo na indústria, concorremos com o mundo. Temos que aprimorar e fazer com que essa política pública que é relevante e necessária não se torne uma bengala permanente para uma parcela da população”, comentou. 

Impactos do tarifaço americano estão sendo analisados

O presidente da Fiemg aproveitou a oportunidade com a imprensa para comentar sobre o “tarifaço de Trump” e as taxas de juros do Brasil. Sobre as novas tarifas anunciadas pelo governo norte-americano, Roscoe comentou que a Fiemg ainda está aprofundando sobre o tema. “A boa notícia, que nós já esperávamos, é que o Brasil ficou com as menores tarifas”, comentou.

Ele explica que, em alguns mercados, mesmo com as tarifas, o País ficará em melhores condições do que os concorrentes. “Se temos 10% de imposto e nossos concorrentes 25%, eles ficaram em situação desvantajosa. Então, não necessariamente é uma situação negativa, temos que avaliar caso a caso”, disse.

Roscoe defendeu ainda que a melhor solução é a negociação bilateral. “Não recomendamos a retaliação, já que ainda estamos em condição vantajosa”, afirmou.

Sobre as taxas de juros no Brasil, o presidente da Fiemg afirmou que já estão proporcionando efeitos na economia. Segundo ele, já há um arrefecimento da demanda em vários setores, que deve trazer um impacto nocivo na economia com perda da dinâmica do crescimento. “Além do agravamento da situação financeira das empresas que já estavam mais alavancadas. Os juros altos inibem os investimentos e reduzem o potencial de crescimento da economia brasileira”.

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