Economia deve ter melhora no 2º semestre do próximo ano

Não existe bola de cristal, mas é possível prever um 2022 com o Brasil iniciando, no segundo semestre, a saída do atoleiro em que se encontra hoje, com inflação e desemprego altos, juros em tendência de elevação e moeda desvalorizada. A previsão não é de que a coisa melhore no cenário macroeconômico.
Mas, espera-se ao menos, com muito otimismo, que a economia chegue aos patamares de 2019, no pré-pandemia, que também não estavam lá tão auspiciosos. E para que isso ocorra, poder público e setores como a indústria e os serviços precisam estar antenados às mudanças que vieram para ficar com a Covid-19, principalmente no consumo. Essas foram algumas das conclusões do debate sobre macroeconomia promovido ontem pelo Ibmec BH.
O primeiro passo é entender o novo perfil de consumidor que se desenhou com o cenário de pandemia. “É um consumidor mais exigente, que valoriza a experiência. É um perfil que se preocupa com as operações que afetam o meio ambiente. Mesmo em casa, está antenado para as mudanças climáticas. O consumo tende a ser dessincronizado, a exemplo dos streamings, vamos consumir as mesmas coisas, porém, em tempos diferentes”, observou o especialista em Finanças e mestre em Administração Samuel Barros, que é pró-reitor da pós-graduação do Ibmec Rio de Janeiro.
Diante desse consumidor, as empresas precisam aprender a lidar com o mundo híbrido de pessoas mais exigentes. “As empresas hoje estão num movimento pendular, de um extremo ao outro, e não se adequaram ainda. O mundo corporativo vai ter que aprender a lidar com o mundo híbrido”, completou.
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Nesse contexto, a experiência com a compra digital, que se intensificou, precisa ser melhorada, e mostra uma tendência de crescimento dos serviços na área de tecnologia. “Novas formas de pagamento, logística de entrega e distribuição. Tudo isso ganhou muita importância”, disse o doutor em Economia, Marcio Antônio Salvato.
Inflação
Salvato, que é coordenador-geral de graduação e coordenador do curso de Ciências Econômicas do Ibmec BH, frisou que o consumidor em casa ao longo da pandemia contribuiu inicialmente para a alta dos preços, agravada posteriormente pela parada nas indústrias. “Inicialmente, houve uma demanda maior nos itens de alimentação, itens de residência e habitação. Depois, com a paralisação das empresas, houve um choque de demanda no mundo e que até hoje não se acertou, com a falta de componentes e diversos itens de produção. Houve um desarranjo produtivo, agravado pelo encarecimento dos custos de produção, motivado pela alta do petróleo e a do dólar”.
O doutor em Economia entende que o problema da cadeia de suprimentos está para ser resolvido no primeiro trimestre de 2022, e deve acertar o compasso na produção das indústrias.
“Por outro lado, se temos inflação que vai fechar o ano com dois dígitos, você imagina que nos dissídios coletivos no próximo ano, com os sindicatos pedindo aumento de salário nessas bases, vai impactar no custo de produção das indústrias, pressionando os preços finais”. Um exemplo de acordo, considerando o IPCA na casa dos dois dígitos, foi assinado na semana passada entre metalúrgicos de Minas e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A negociação com vários sindicatos resultou em um reajuste de 10,78% para a categoria.
Salvato entende que o remédio para deter a inflação – aumento da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) Banco Central – veio um pouco tarde. Por isso, ele diz que vê uma inflação convergindo para o teto da meta mais para o segundo semestre de 2022. “As empresas precisam ter resiliência”.
O professor de Finanças do Ibmec Brasília William Baghdassariam, graduado em economia e PhD em Ciências, também destaca a lentidão do Banco Central em relação aos aumentos na taxa de juros para tentar conter a inflação. “Nosso BC trabalhou mais lento. Todo o mundo está vivendo essa inflação. Temos uma situação global em que os mais ricos tomaram medidas antes e estão indo mais rápido em relação à recuperação econômica”, destacou.
Para ele, haverá melhora no cenário econômico de 2022, mas nada que signifique recuperação total nos níveis de emprego e renda, ou crescimento do PIB e controle inflacionário. “Estamos voltando para os níveis de 2019, não estamos indo pra frente”, destacou.
E Baghdassariam lembrou que a luz no fim do túnel é possível de ser vista graças às pequenas reformas, marcos regulatórios e concessões, em diversos setores, que vêm acontecendo, como a independência do Banco Central, a legislação cambial, apreciada na quarta-feira (8) pelo Senado e até mesmo a reforma da Previdência “Nós ainda não colhemos resultados dessas e outras pequenas mudanças, mas vamos começar a colher”, destacou.
Mercado de capitais
Quando se pensa no próximo ano para o mercado de capitais, a incerteza domina. “Não se sabe como ficará o cenário político. Hoje, o mercado fica menos tenso quando as pesquisas mostram Lula tendendo a vencer. O mercado já conhece a forma como Lula governa, então a insegurança do investidor é menor em relação a uma terceira via, cuja política econômica é desconhecida. Mesmo assim, não dá pra saber se teremos o Lula “paz e amor”, do primeiro mandato dele e parte do segundo, ou o Lula “sangue nos olhos”, como foi nos anos finais dele no governo. Essa incerteza persiste e incerteza é o que o mercado menos gosta”, observou Samuel Barros.
Em relação às áreas mais promissoras aos investimentos, ele destacou o setor de infraestrutura. “Esse governo atual gosta de investir em infraestrutura. Então é uma área com possibilidades”. O setor de tecnologia também é bastante promissor. “O Brasil virou um celeiro de fintechs e estamos entregando inovação em alto nível. Então é um setor bom para se investir”, completou.
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