Economia

Inflação: ajuste fiscal e mudança em meta estão entre as soluções, apontam economistas

Especialistas consultados pelo Diário do Comércio apontam alternativas para que o governo federal consiga conter a alta do IPCA
Inflação: ajuste fiscal e mudança em meta estão entre as soluções, apontam economistas
Diário do Comércio / Arquivo / Alisson J Silva

Dentre as possibilidades que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem em mãos para controlar a inflação no País, nenhuma conseguiria um impacto de curto prazo, analisam economistas ouvidos pelo Diário do Comércio. Os acadêmicos apontam que o governo federal pode tentar desincentivar o consumo da população e até mesmo considerar a alteração da meta de inflação para uma realidade mais condizente com a economia brasileira.

Eles apontam que o País tem sofrido uma pressão inflacionária, disseminada em todo o mundo, que tem origem nem tanto pelo lado da demanda, mas pelo lado da oferta e dos custos de produção. São fatores externos que o governo Lula III não consegue controlar, como as alterações climáticas, que prejudicam a produção global de alimentos, e a desorganização das cadeias produtivas durante a pandemia, que ainda afetam a economia mundial.

Além disso, conflitos mundiais, como a guerra entre Ucrânia e Rússia, impactam no custo do petróleo, e a guerra comercial provocada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com impactos na cotação do dólar, contribuem para pressionar os preços em todo o mundo.

Em fevereiro, o Brasil registrou a maior inflação para o mês em mais de duas décadas, atingindo 1,31%. No acumulado dos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 5,06%, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Diante desse cenário, o professor de economia da PUC Minas, Flávio Constantino, aponta há certa incoerência na política econômica do governo federal, que, mesmo em um momento de alta da inflação, tem feito medidas para estimular a demanda sem aumentar a capacidade produtiva, via transferência de renda, valorização do salário-mínimo, entre outros.

“Não é todo e qualquer gasto do governo que seria condenado, mas aqueles gastos que conferem um poder de compra mais elevado para os trabalhadores, por exemplo, acabam sendo um componente adicional para essa elevação de preços”, explica.

Ele ressalta que uma saída em busca do controle da inflação seria um menor estímulo do governo à demanda, mas com expansão dos gastos em investimentos na capacidade produtiva do País, como em infraestrutura, na matriz energética e em pesquisa e desenvolvimento.

“Todos esses investimentos contribuem para qualificação dos nossos fatores de produção, para modernização do nosso equipamento produtivo, tornando nosso trabalho mais eficiente no médio e longo prazo”, pontua Flávio Constantino.

O professor de Ciências Contábeis da Unidade Floresta da Estácio, Alisson Batista, enumera as altas da taxa básica de juros, pelo Banco Central (BC), e o corte de impostos nos alimentos como tentativas de arrefecer a inflação no País. Mas ele destaca que um melhor controle do gasto público pelo governo federal também pode contribuir para enfrentar o problema.

“A gente tem tido constantemente sucesso na arrecadação do governo. Contudo, a gente não tem visto esse mesmo comportamento na balança dos gastos do governo”, afirma Alisson Batista. “O governo poderia ter a competência de controlar melhor seus gastos e assim subsidiar outras ações para a população”, completa.

Especialista considera meta de inflação irreal

Já o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Flávio Resende indica outra possibilidade do governo federal para o controle do aumento generalizado dos preços: uma mudança nas metas de inflação para que seja mais condizente com a realidade da economia brasileira.

Ele argumenta que uma meta de inflação de 3%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é uma meta para economia desenvolvida, enquanto o Brasil é uma economia em desenvolvimento, que tem uma estrutura produtiva mais complexa, com baixos ganhos de produtividade e baixo desenvolvimento tecnológico.

A perseguição para uma meta considerada irreal para a economia brasileira força o BC a manter a Selic em patamar elevado, o que atrapalha o crescimento econômico e, principalmente, piora a situação fiscal do País, já que afeta as contas públicas. A meta de inflação ideal para o Brasil, segundo o professor da UFMG, seria para algo em torno de 4% a 4,5%, com a tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para cima ou para baixo dessa meta.

“Não há muito o que fazer com relação às pressões inflacionárias que vêm de fora. Elas são mundiais, não tem muito o que fazer. Agora o governo pode colocar uma meta de inflação mais condizente com a estrutura produtiva de uma economia ainda em desenvolvimento”, analisa Marco Flávio Resende.

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