Economia

Elevação da Selic gera divergências e pode afetar setor produtivo

Apesar de ser considerado eficiente para conter a inflação, aumento poderá impactar significativamente o setor produtivo e restringir o consumo da população
Elevação da Selic gera divergências e pode afetar setor produtivo
Crédito: Reprodução Adobe Stock

O futuro da taxa de juros Selic começa a ser discutido em Brasília nesta terça-feira, (17), em reunião com integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A expectativa é que a taxa, que atualmente está em 10,5% ao ano, deverá elevar-se entre 0,25 ponto percentual (p.p) e 0,5 p.p a fim de ancorar expectativas diante das incertezas econômicas no Brasil.

Caso se confirme, esta seria a primeira elevação do juro desde agosto de 2022 – uma ação que segue dividindo a opinião de especialistas. Apesar de considerarem a medida eficiente para conter a inflação e volatilidade cambial, o aumento poderá impactar significativamente o setor produtivo e restringir o consumo da população.

Para o economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas), Paulo Casaca, a principal pressão para o BC elevar a taxa de juros é o mercado financeiro, que tem elevado a projeção de inflação. Os argumentos, segundo ele, são de que houve uma desvalorização cambial recente unida à uma possível pressão nos preços de alimentos e a uma economia excessivamente aquecida, com demanda por bens e serviços crescendo mais do que oferta, o que poderia pressionar os preços.

Paulo Casaca
Paulo Casaca, da ACMinas: principal pressão para BC elevar Selic vem do mercado financeiro | Crédito: Divulgação ACMinas

Apesar das projeções, Casaca considera que a economia está aquecida, mas não superaquecida a ponto de gerar pressão inflacionária. “O IPCA de agosto foi deflacionário, mas concordo em razão da estiagem e tempo seco, é bem provável que até o final do ano tenhamos problemas que possam gerar apreensões”, avalia.

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Apesar do cenário apreensivo, o economista argumenta que elevar a Selic no atual momento não será um impeditivo para avanços inflacionários, além de elevar os riscos para empresários do setor resolverem eventuais adversidades. “O aumento na Selic poderá prejudicar o fluxo de caixa dos empresários, que devem passar por dificuldades ao conseguirem investimentos em decorrência do aumento na taxa. Quando a taxa de juros Selic sobe, tudo fica mais caro e isso prejudica o setor produtivo”.

As soluções, de acordo com Casaca, podem ir além do aumento na taxa de juros, que atualmente já é considerada restritiva. Na visão do economista, alternativas como a elevação da taxa de compulsório dos bancos e medidas governamentais que atenuem os problemas diretamente na raiz podem ajudar a atenuar eventuais desafios econômicos, principalmente com relação à produção de alimentos.

Ele reforça ainda que a solução para determinados probemas nem sempre deve ser resolvida do lado monetário. “Se estamos preocupados com o impacto da estiagem na inflação futura, ao invés de subir taxas, deveríamos cobrar o governo por programas de investimentos que ajudem a agricultura a salvar a sua produção”, conclui.

Medida é encarada como ‘remédio amargo’ para conter inflação

Por outro lado, na concepção do coordenador de Economia e Finanças da ESPM, Alexandre Espirito Santo, uma alta de 0,25 ponto percentual é razoável e indicaria um movimento de antecipação de riscos. “O BC tem que ser prudente, já que tem uma meta para cumprir e está perto do teto. Nas últimas semanas, o mercado financeiro vem subindo a expectativa de alta na inflação e o aumento será uma importante medida preventiva”, argumenta.

O economista contextualiza a inflação como a “doença da moeda” e que o aumento nos juros seria o único “remédio” eficaz para combatê-la. Ele acrescenta que, apesar de haver outras opções, são medidas paliativas e política monetária de aumento de taxa de juros é a alternativa que funciona no mundo inteiro.

Apesar disso, Alexandre Espirito Santo pondera que os avanços na Selic indiscutivelmente não colaboram para o crescimento econômico: “As pessoas ficam mais receosas de consumir, as prestações já não cabem mais no orçamento, isso desaquece o consumo”.

Para os próximos meses, o economista projeta que a taxa deverá encerrar o ano ainda mais alta: em 11,25%. “Apesar dos aumentos, o ciclo de alta será pequeno em relação a outros ciclos vistos anteriormente, como durante a pandemia”, analisa.

Em concordância com Alexandre Espirito Santo, a economista da Coface para América Latina, Patrícia Krause, projeta que a taxa Selic deverá aumentar e encerrar o ano a 11,25%. A alta, segundo ela, deverá acontecer de forma gradual a depender da evolução dos dados e do cenário de volatilidade.

Ao considerar os impactos, a economista acredita que o aumento está bem precificado e não deverá gerar um impacto imediato. “Acho que do lado da política monetária o correto é subir taxa de juros e avaliar medidas de contenção de gastos”, argumenta.

Com relação ao mercado externo, os economistas são unânimes ao avaliarem que o aumento da Selic poderá aumentar a participação em títulos de governo, principalmente se o BC americano reduzir a taxa de juros, tornando o mercado de títulos mais atraente para o investidor.

Entretanto, Paulo Casaca conclui que são investimentos mais especulativos. “É possível que investidores invistam mais no Brasil, mas isso significa aumentar a capacidade produtiva e beneficiar a população. Podemos ter uma maior valorização do câmbio, mas a que custo?”, finaliza.

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