Economia

Em meio a cenário desafiador, comércio cresce em Minas

Desempenho no Estado vem ficando acima da média nacional neste ano
Em meio a cenário desafiador, comércio cresce em Minas
Estimativa da Fecomércio MG é que o setor tenha uma crescimento de 2% no atual exercício | Crédito: Charles Silva Duarte / Arquivo DC

Neste sábado, 16 de julho, é comemorado o Dia do Comerciante, que homenageia o nascimento de José Maria da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, considerado o Patrono do Comércio Brasileiro por suas iniciativas a favor do setor. Mas será que essa categoria, que reúne em Minas mais de 300 mil proprietários de estabelecimentos comerciais, tem motivos para comemorar a data?

Ao que tudo indica, sim, já que as vendas têm crescido no Estado, a um ritmo desigual, mas constante e maior do que no País. O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a março, mostra um crescimento do volume de vendas no comércio mineiro de 3,6% no mês de maio e de 0,3% nos últimos 12 meses. Com esse resultado, o acumulado do ano (janeiro a maio), chegou a 11,2%. No Brasil, o índice de maio foi de 0,1%. 

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), por exemplo, trabalha com a perspectiva de 2% de crescimento nas vendas do setor em 2022 – a mesma da Confederação Nacional do Comércio (CNC). 

“Ainda temos alguns desafios a serem superados, principalmente no nível de preço, mercado de trabalho e também de política monetária. Mas, no geral, quando a gente avalia o desempenho do primeiro semestre, nós temos um resultado positivo frente ao primeiro semestre do ano passado e também a todo o período de 2020. Ou seja, apesar de todas as dificuldades, o varejo tem conseguido acessar o seu consumidor final”, analisa o economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida.

Segundo ele, para o bom desempenho das vendas no primeiro semestre concorreu um misto de políticas de transferência de renda, que acabaram injetando recursos na economia e também a própria recuperação natural da economia, com a flexibilização das atividades. “Tivemos alguns movimentos que beneficiaram o varejo, como a liberação de recursos do FGTS, que muitas famílias utilizaram para regularizar a situação financeira, sair da inadimplência e retornar ao mercado de crédito. Parte dos recursos foram usados para o consumo, o que gerou um aquecimento para o setor em si”, diz o economista.

A preocupação que fica, de acordo com Almeida, é quanto ao cenário de incertezas e os desdobramentos que elas podem gerar para o comércio. Ele destaca desafios a serem enfrentados, tais como o patamar elevado de inflação, que acaba reduzindo o poder de compra das famílias. “São desafios conjunturais, mas também estruturais como o próprio Custo Brasil e o cenário fiscal dos estados e da União. Mas são questões que os empresários têm em sua agenda e já traçam ações estratégicas para superar, já que passaram por momentos delicados nos períodos mais restritivos da pandemia”.

Para o economista da Fecomércio MG, as recentes medidas econômicas do governo federal, como a PEC 1/2022, podem turbinar as vendas no segundo semestre. “Apesar de trazer incertezas quanto ao cenário fiscal, ela é positiva para o comércio ao aumentar o Auxílio Brasil em 50%, ampliando o número de famílias beneficiadas em 1,6 milhão”, comenta. Outro fator que deve aquecer as vendas no comércio no segundo semestre são as datas comemorativas como o Natal, o Dia dos Pais, das crianças e a Black Friday, que movimentam o setor pelo apelo emotivo ou comercial e, segundo Almeida, acabam gerando uma expectativa otimista por parte do empresário. 

“Copo meio cheio”

Já o economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Paulo Casaca, é mais cauteloso em sua avaliação. “Podemos ver como o copo meio cheio ou meio vazio. Do ponto de vista do copo meio cheio, a pandemia foi melhor controlada e não voltou a prejudicar o comércio, enquanto o setor de prestação de serviços abriu totalmente. Do ponto de vista do copo vazio, vemos que o desenvolvimento estagnou, já que a economia está patinando por causa dos juros”, afirma.

 No entanto, ele acredita que o primeiro semestre surpreendeu positivamente. “Foi acima do que se esperava. No começo do ano achamos que seria ruim por causa da inflação, mas o setor de serviços conseguiu dinamizar, gerando incentivos para o comércio e a indústria”. 

Segundo Casaca, uma questão adicional neste cenário é a eleição no segundo semestre, que gera incertezas no mercado e acaba sendo tratado pelo empresário como um desafio. Quanto às medidas anunciadas pelo governo, ele acredita que, a curtíssimo prazo, devem impulsionar o comércio.

“Elas podem auxiliar nos próximos meses, mas é necessário que se tenha noção da situação não muito positiva em 2023, quando os auxílios acabam e a desoneração gerará custo para os próximos anos. O gasto fiscal do atual Governo vai onerar a sociedade”, acredita o economista.

O presidente da ACMinas, José Anchieta da Silva, vê o copo meio cheio. “Estamos saindo de uma pandemia, o que por si só já é motivo para celebrar a vida, a resistência. Mas temos que comemorar também a chegada da internet 5G e o que a alta tecnologia representa no desenvolvimento dos negócios”, comemora. “Minas está assistindo a uma metamorfose social, está se redescobrindo e se inserindo novamente na economia”, acrescenta.  

Comércio de ontem e hoje

O comerciante Bruno Falci é o atual proprietário da Casa Falci, estabelecimento comercial de Belo Horizonte que existe há mais de 114 anos, vendendo um amplo mix de material de construção. Depois de sofrer as restrições sanitárias como loja de rua durante os primeiros momentos da pandemia, a loja experimentou uma recuperação crescente nos meses seguintes até chegar a 2022, quando suas vendas, segundo Falci, já cresceram 40%, voltando aos níveis pré-pandemia. 

Segundo ele, o comércio de rua não acaba. “Se a empresa se manter atualizada, ela vai manter a força que ela tem”. Isso quer dizer, diz o comerciante, trabalhar de uma maneira híbrida, conciliando as vendas por telefone, whatsapp e aplicativos com o velho e bom sistema de atender o cliente no balcão. “O mineiro é tradicional, gosta de conversar, negociar e ver a mercadoria. Isso se aplica principalmente ao material de construção, que é um produto caro e vai ficar na sua casa durante muito tempo”, observa Falci. 

A força da loja física pode ser conferida também nas unidades da Iplace, especializada em produtos da Apple, em Belo Horizonte. A Iplace do Diamond Mall existe há 11 anos e, como não podia deixar de ser, atende um público atento aos avanços tecnológicos, que procura produtos de ponta e acompanha todos os lançamentos. Para atendê-lo, a gerente Simone Santos aposta em uma equipe de consultores, cujo trabalho vai além de mostrar o produto e tirar o pedido. “Ele é mais do que um vendedor, pois tem que entender de tecnologia. Sabe mexer nos produtos, mudar a configuração, fazer a transferência de dados, se for necessário. O cliente conta com essa consultoria”, revela.

O público do mall é sofisticado, inclusive pela localização do centro de compras. Mesmo assim, a gerente da Iplace diz que já sentiu uma queda nas vendas, que ela atribui às dificuldades econômicas do País. Mas é justamente o fato desse público ter maior aquisitivo que pode prejudicar as vendas. Afinal, com a flexibilização das restrições sanitárias, ele voltou a viajar e, consequentemente, a adquirir seus gadgets no exterior.  

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