Em meio a epidemia, dólar valorizado divide mercado

Uma oportunidade para as empresas ou uma preocupação? A elevação do preço do dólar continua a todo vapor. Ontem, a moeda foi negociada a R$ 4,4764, chegando a superar, na máxima, os R$ 4,5016. Esse novo cenário, conforme destacam especialistas, está muito relacionado com as incertezas em todo o mundo, sobretudo após a proliferação do coronavírus, que já matou mais de 2.800 pessoas no planeta.
E é justamente essa dualidade que não permite bater o martelo em relação aos efeitos positivos que o dólar mais alto poderá gerar para as empresas brasileiras. O professor da Fundação Getulio Vargas – Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV-EPGE), Antonio Gonçalves, ressalta, por exemplo, que as companhias exportadoras podem se dar bem com o valor mais alto da moeda norte-americana. No entanto, há um problema quando as vendas para o exterior têm como destino a China. Se forem para outros países, a situação pode ser melhor, mas talvez não tão diferente. “O dólar mais alto deveria ajudar, mas a situação no mundo está muito ruim”, diz ele.
Por outro lado, com o encarecimento das importações, poderá haver uma tendência inflacionária no País, conforme pontua Antonio Gonçalves. No entanto, isso pode levar um pouco mais de tempo. Se o valor mais elevado durar uma semana ou dez dias, diversos setores podem deixar para repor os seus estoques daqui a um mês, por exemplo, o que não os afetaria muito.
“O dólar está um pouco exagerado, mas a R$ 2 era um absurdo, pois quebrava o País. Já R$ 4 é um número razoável, tende a ser esse valor se não houver crise. As incertezas agora, porém, são muito grandes. Um economista não poderia prever uma epidemia. Estão todos meio perplexos”, avalia.
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Para o diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti, não é somente o dólar que está em patamares mais elevados, mas há, segundo ele, certa histeria com o coronavírus, acima da normalidade. As consequências, diz ele, são mais psicológicas, mas acabam impactando a economia não só em relação a maior valorização da moeda norte-americana, como também à diminuição da produção e indiretamente os preços de matérias-primas.
“Nesse primeiro momento, há um preço melhor para as empresas exportadoras, no entanto, há a tendência de diminuição de compras”, pondera ele. Essa redução de compras, caso o cenário não se modifique, pode levar até mesmo à falta de produtos, avalia Roberto Vertamatti. “O Brasil depende de itens da Ásia e fornece muitas coisas para vários países. Isso começará a ser afetado”, analisa.
Consumo mundial – Responsável pela área de renda variável da Monte Bravo, Bruno Madruga diz que a grande dúvida em relação aos impactos positivos da alta do dólar para as empresas é justamente a manutenção ou não do consumo mundial. “Não podemos afirmar que a China vai continuar importando minério na mesma quantidade, por exemplo”, diz ele, que entende, ainda, que se o consumo mundial permanecer, a elevação do preço da moeda norte-americana será benéfica para as empresas exportadoras.
O economista e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Felipe Leroy, porém, acredita que o coronavírus não vai afetar muito as comercializações com o Brasil, nem mesmo quando se trata da China. “O País importa itens de primeira necessidade”, salienta.
Poderá haver, sim, segundo ele, a ampliação das parcerias comerciais do Brasil, já que terá o barateamento dos nossos produtos em dólar para o mundo inteiro. “As exportações devem aumentar, já que o poder de compra lá fora também cresce com os preços diferenciados dos produtos brasileiros no exterior”.
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