Economia

Embedded finance: empresas apostam na oferta de serviços financeiros para fidelizar clientes e aumentar receita

De acordo com levantamento feito pela Deloit, 57,78% da receita obtida com serviços financeiros integrados em 2026 será proveniente da oferta de crédito
Embedded finance: empresas apostam na oferta de serviços financeiros para fidelizar clientes e aumentar receita
Foto: Reprodução/Adobe Stock

Em um cenário com acesso ao crédito restrito e juros mais elevados muitas empresas têm apostado na oferta de serviços financeiros embutidos em suas operações, ou embedded finance, para se destacar frente aos concorrentes. Essas soluções buscam ajudar a solucionar as dores dos clientes ao mesmo tempo que geram benefícios para a empresa como a fidelização do consumidor e aumento da receita.

O executivo de serviços financeiros da Alvo, Danilo Macedo, destaca que a missão do embedded finance é aumentar o poder de compra do cliente. Segundo ele, a oferta de serviços financeiros também pode contribuir para a redução de custos, aumento da receita e seguir crescendo no mercado. “É muito importante que as empresas consigam entender quais são as necessidades do cliente e o que nós podemos fazer para atender essa demanda”, diz.

A Alvo Serviços Financeiros é uma empresa do Grupo Mart Minas responsável pela administração dos cartões private label das bandeiras do grupo com foco no cliente do varejo. Ao longo de três anos de operação, a instituição dobrou de tamanho a cada ano, atingindo cerca de 10% de participação das vendas do grupo, com capacidade para alavancar o crescimento da operação de atacarejo.

Setores como o varejo e o atacado distribuidor movimentam bilhões de reais todos os anos, no entanto, uma parte desse montante vai para instituições do setor financeiro. A adoção de serviços financeiros integrados também pode mudar esse cenário, possibilitando a retenção de parte desses valores, além de fornecer dados que podem ser úteis na elaboração de uma estratégia de fidelização dos clientes.

Cartões Alvo em um carrinho de supermercados.
Foto: Divulgação Alvo

A empresa de consultoria, auditoria e gestão Deloitte estima que os serviços financeiros embutidos diretamente ao cliente final devem gerar receita de R$ 23,968 bilhões no País ao longo de 2026. Mais da metade desse montante (57,78%) é proveniente da oferta de crédito, o equivalente a R$ 13,848 bilhões; o restante (R$ 10,12 bilhões) está relacionado a outros serviços financeiros.

Da receita adicional estimada, cerca de R$ 10 bilhões estão relacionados à economia gerada pela auto suficiência dessas empresas. Além disso, a expectativa, segundo o estudo, é de que elas respondam por até R$ 83 bilhões em créditos oferecidos, principalmente, para pessoas da classe C (com até cinco salários mínimos) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs).

Interesse das empresas aumenta nos últimos anos

O diretor de meios de pagamentos da Tribanco, Mario Atie, relata que as empresas têm se interessado cada vez mais em oferecer este tipo de serviço. Para ele, essa tendência é motivada pelo desejo de ajudar os clientes a solucionarem seus problemas, principalmente aqueles envolvendo o acesso ao crédito para aumentar o consumo.

“Essa é uma forma de impulsionar os negócios, vender e se relacionar ainda mais com o cliente. Nós percebemos que as empresas mais estruturadas estão buscando de forma independente ou por meio de parcerias com outras instituições financeiras para oferecer soluções financeiras integradas em suas operações”, relata.

Já Macedo esclarece que para lançar uma empresa deste tipo é preciso ter uma boa estrutura para conseguir trabalhar com os riscos que o setor financeiro oferece. “Eu acredito que ter uma empresa de serviços financeiros é um grande diferencial, porque a rede varejista ou de atacarejo terá maior controle dos dados, da base de clientes e poderá entender e criar ferramentas que irão agregar na vida dos clientes”, pontua.

Para o executivo da Alvo, as redes que não oferecem este tipo de serviço estão deixando de utilizar uma ferramenta de grande relevância para a expansão dos negócios e para a obtenção de dados que podem ser utilizados na estruturação da jornada de compra do cliente. Portanto, os desafios para seguir crescendo no mercado tendem a ser maiores sem o apoio dos serviços financeiros integrados.

Entre as ferramentas mais adotadas está o cartão private label, que é emitido por uma rede do setor de comércio, sem vínculo com as tradicionais bandeiras de cartão. Ele possibilita a oferta de condições especiais de pagamentos, promoções, descontos e parcelamentos para os clientes da marca.

Macedo destaca ainda que uma das principais propostas de valor da oferta de cartões de marca própria é oferecer as melhores condições de compra para os clientes, como o parcelamento sem juros. O especialista explica que isso possibilita que o consumidor tenha acesso a mais produtos, além de beneficiar a gestão do valor gasto no mês.

Embedded finance voltado para varejistas

Serviços financeiros integrados.
Foto: Reprodução Adobe Stock

As instituições que atuam nesse mercado também podem atender outras empresas, como é o caso da Tribanco, braço de soluções financeiras do grupo Martins voltada para empresas do setor varejista.

O estudo da Deloit destaca que os setores do varejo, bens de consumo e outros serviços estão entre os principais destaques no mercado nacional de embedded finance. O varejo físico e o e-commerce deverão ser os segmentos com maior participação em 2026, com valores estimados de R$ 10,677 bilhões e R$ 7,671 bilhões, respectivamente.

Atie avalia que a oferta de serviços financeiros pode contribuir para aumentar o relacionamento com os clientes. Esse tipo de serviço oferece maior conveniência como a oferta de prazos de pagamentos mais longos, o que beneficia o fluxo de caixa das empresas atendidas.

Segundo ele, a gestão do fluxo de caixa, capital de giro e acesso ao crédito estão entre os maiores desafios enfrentados pelos pequenos varejistas, junto com a gestão de tempo e de pessoal. Por isso, a importância de oferecer soluções para que esses empresários possam seguir comprando produtos para seus negócios.

Por outro lado, a oferta deste tipo de serviço representa crescimento nas vendas da divisão de atacado do grupo Martins, além da fidelização dos clientes. “Nós procuramos apoiar os nossos clientes para resolver suas dores. Os serviços financeiros vêm para aumentar o nosso relacionamento, recorrência e as vendas”, completa.

Um dos principais objetivos da adoção do embedded finance é deixar de depender de terceiros – como os bancos, as bandeiras de cartões e as adquirentes – para a realização das transações. Em alguns casos, o custo total com a taxa de desconto do comerciante (MDR, sigla em inglês) em vendas via cartões, antecipação de recebíveis e com tarifas sobre transações realizadas via Pix e boletos pode superar a margem líquida das operações.

O executivo da Tribanco destaca a importância de apostar em uma gestão mais austera para atuar nesse segmento, além da adoção de ferramentas tecnológicas. No caso dos meios de pagamento é preciso que as empresas tenham mais escala para poder competir com os grandes players deste mercado.

Outra forma de se manter competitivo é integrando a oferta de diferentes serviços da companhia, como o uso das maquininhas da entidade financeira e as vendas de produtos da empresa atacadista. Inclusive, os clientes da Tribanco respondem por até 15% das vendas do grupo Martins.

Tendências para o futuro

O mercado de serviços financeiros integrados segue em expansão. Danilo Macedo destaca que alguns estudos apontam que esse mercado poderá atingir cerca de US$ 7 trilhões em todo mundo nos próximos três anos. Ele avalia que transformações no mercado financeiro, como a adoção do Pix, deverão seguir avançando no Brasil, mas o crédito seguirá sendo necessário para muitos clientes.

“Nós vivemos em um País onde as pessoas aprenderam a conviver com o crédito e o crédito tem potencial de realizar sonhos, possibilitando a transformação da realidade de muitas famílias. No entanto, nós também temos o desafio de saber a forma correta de trabalhar com esse serviço”, explica.

Já o diretor da Tribanco acredita que a tendência para os próximos anos é de que o conceito embedded finance integre cada vez mais com ferramentas tecnológicas, como os sistemas de Planejamento de Recursos Empresariais (ERP, sigla em inglês). Isso poderá contribuir para uma melhor compreensão a respeito do fluxo de caixa e de algumas necessidades do varejista.

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