Empreendedorismo jovem apresenta tendência de crescimento no Brasil

O empreendedorismo jovem cresce e se consolida no Brasil. Dentre os fatores que explicam essa tendência, estão a busca por autonomia financeira e novas oportunidades no mercado. Um levantamento feito pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) demonstra que, dos 4,015 milhões de microempreendedores individuais (MEIs) presentes em Minas Gerais, 927.840 são jovens na faixa etária entre 16 e 30 anos. Esse número equivale a 23,11% do total no Estado.
O empresário Arthur Simões Tecchio, 18 anos, é um desses jovens empreendedores mineiros. Atualmente, ele ocupa o cargo de CEO da AST3D, uma empresa especializada em impressão 3D, sediada em Belo Horizonte.
Tecchio lembra que seu pai sempre lhe mostrou que existem outros caminhos para seguir, além do trabalho com carteira assinada (CLT). “Aos 10 anos, comecei a vender spinners na escola, feitos por ele em uma CNC que ele mesmo construiu — uma experiência que foi base para minha escolha de me tornar empreendedor”, relata.
Um outro estudo feito pelo Sebrae, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), aponta que o número de empreendedores com idade entre 18 e 29 anos aumentou 23% na última década.
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A gerente da Unidade de Educação Empreendedora do Sebrae Minas, Fabiana Pinho, explica que esse crescimento do empreendedorismo jovem pode estar relacionado ao atual cenário econômico e às oportunidades que vem surgindo.
“As pessoas têm observado e se atentado de que o empreendedorismo é, sim, uma grande oportunidade para a inserção no mercado de trabalho e para possibilitar a realização de seus sonhos e concretizar suas ideias”, diz.
A especialista ainda afirma que as gerações mais novas, como é o caso da Geração Z, possuem uma característica comportamental de visão mais empreendedora que as demais. Ela aponta que muitos integrantes desse grupo trabalham com foco em um propósito e identificando o que podem entregar para o mercado diante das oportunidades e necessidades apresentadas.
Já para o CEO da AST3D, a geração mais nova vive em um mundo cheio de distrações, onde muitos permanecem na zona de conforto, presos à ilusão de segurança e estabilidade. Tecchio explica que essa postura passiva, baseada mais na expectativa do que na ação, acaba abrindo espaço para aqueles que usam as ferramentas de hoje para se aprimorar.
“É quase como se a inércia da maioria aumentasse ainda mais a demanda por inovação — criando uma grande oportunidade para os poucos que realmente decidem fazer alguma coisa diferente”, afirma.
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Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA, demonstra que três a cada dez jovens brasileiros com até 27 anos de idade têm o objetivo de abrir a própria empresa.
Para Tecchio a liberdade no ambiente de trabalho é uma das principais vantagens de ter o próprio negócio. “No CLT, o crescimento costuma ser mais engessado e o uso do seu tempo é limitado pelas demandas de outros. Já empreendendo, você tem autonomia para decidir como usar seu tempo”, avalia.
O jovem empreendedor pontua que os riscos tendem a ser maiores, com grande possibilidade de perdas, mas é justamente por isso que os negócios oferecem muitos ganhos. “No CLT, o preço da segurança muitas vezes é a estagnação do crescimento”, diz.
Pontos a serem desenvolvidos no empreendedorismo jovem

Fabiana Pinho ressalta que, ao mesmo tempo que esse público tende a apresentar características benéficas para o empreendedorismo, ele também necessita do desenvolvimento de outros fatores comuns em gerações anteriores. “Existem algumas características que precisam ser trabalhadas nesses jovens para que essa combinação seja ainda mais bem-sucedida”, completa.
Portanto, a gerente da Unidade de Educação Empreendedora do Sebrae Minas avalia que não há uma desvalorização dos empreendedores jovens devido à idade, mas a alguns comportamentos que precisam ser desenvolvidos. Para isso, ela sugere maior conexão entre as diferentes gerações, em que uma possa ensinar e aprender com a outra.
Já Tecchio avalia que a rotina de um empreendedor também pode ser considerada como um desafio constante para quem decide ingressar nesse mundo, tendo várias madrugadas viradas. “Para quem tem empresa, todo dia é segunda-feira”, declara.
A especialista do Sebrae Minas lembra que o crescimento do empreendedorismo jovem não é um processo com início e fim determinados, uma vez que todos os anos novas gerações de empreendedores são formados, proporcionado grandes transformações no mercado.
“O que precisamos entender é que não dá mais para voltar atrás, porque o mundo está mudando de forma exponencial. Mudanças que antes aconteciam a cada dez ou 20 anos agora ocorre de ano em ano”, explica.
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Ela afirma que muitas melhorias já foram implementadas no mercado, mas alerta que ainda há oportunidades para se desenvolver ainda mais para oferecer um ambiente mais propício para o empreendedorismo jovem no Brasil. Fabiana Pinho pontua que existem muitos procedimentos e leis que foram criadas com base no modelo tradicional e que, portanto, precisam ser atualizados.
“Estão surgindo inúmeros negócios e profissões que nós jamais poderíamos imaginar. Eu acredito que nós temos que olhar para essas novas tecnologias e reavaliar os processos para termos negócios ainda mais promissores e promotores de uma transformação para o nosso País”, declara.
Principais áreas de atuação dos jovens empreendedores no Brasil
Para a especialista, uma das áreas que mais cresce entre os empreendedores jovens é a de tecnologia, influenciada por fatores como a Inteligência Artificial (IA) que tem gerado uma maior identificação entre os membros desse grupo.
No entanto, ela também ressalta que isso não exclui a possibilidade dessas pessoas atuarem em outras áreas extremamente importantes. “Eles trazem um olhar de inovação, mudança e de novas perspectivas. É difícil falar sobre uma única área especifica”, comenta.
Um estudo internacional, realizado com apoio do Sebrae, aponta que setores como tecnologia, estética, alimentação e serviços digitais fazem parte do novo perfil de empreendedor, que tem se mostrado cada vez mais inovador e disposto a enfrentar os desafios da gestão.
Planos para o futuro

O objetivo de Tecchio é criar uma empresa multinacional que atenda às mais diversas demandas sob uma grande marca no mercado. “Tenho planos de expandir meus negócios para outros países — como Estados Unidos, China, Europa e Austrália — com pontos de distribuição bem posicionados, econômicos e eficientes”, relata.
O jovem empreendedor também tem outros projetos paralelos, como o lançamento de histórias de fantasia, além de fundar um estúdio de animação nos próximos anos. “Voltando à AST3D, hoje atuamos principalmente com brindes para eventos corporativos, peças industriais e itens personalizados em geral”, diz.
Ele também planeja expandir os negócios para outras áreas, como vestuário — começando com camisetas básicas, peças pretas e, talvez, ternos — e explorar possibilidades nos setores de entretenimento, tecnologia, habitação e outros.
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