Instituições projetam resiliência no mercado de trabalho, mesmo com pressão do crédito
Embora o cenário permaneça positivo, instituições já apontam para a redução no ritmo de criação de vagas de emprego no último trimestre. A projeção deve ser confirmada ainda nesta semana, com a divulgação dos indicadores do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), previstos para quinta-feira (30) e sexta-feira, (31), respectivamente.
Na análise do Banco Daycoval, é esperada a manutenção da taxa de desemprego a 5,6%, indicando mercado de trabalho ainda resiliente, mas com sinais de arrefecimento gradual. No período trimestral encerrado em setembro, é estimada a criação líquida em torno de 53 mil vagas, com ajuste sazonal.
Já as projeções de inflação atualizadas pela instituição para este e o próximo ano são de 4,8% e 4,1%, respectivamente. No curto prazo, a expectativa para outubro, novembro e dezembro é 0,08%, 0,23% e 0,48%, respectivamente.
Em linha com a previsão da instituição, o Inter visualiza uma taxa de desocupação em 5,5% no mesmo período, com geração de 145 mil empregos.
O economista e docente do Centro Universitário UniBH, Fernando Sette Jr, comenta que uma manutenção de taxa de desemprego próxima a 5,5% seria um indicador positivo para o País, que alcançou 5,8% no trimestre até junho, configurando-se como o menor nível desde o início da série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Isso indicaria que o mercado de trabalho permanece bem aquecido, com forte absorção de mão de obra e pouca sobra de trabalhadores buscando emprego ativamente”, acrescenta.
Entretanto, ele reforça que os baixos índices não representam uma ausência de problemas, já que os números não captam necessariamente a qualidade das vagas, como nível de salário, jornada ou informalidade. Além disso, os indicadores não sinalizam que o ritmo de criação de empregos está se acelerando.
Crédito elevado pode levar empresas a postergarem contratações
Para o economista, em um ambiente onde os bancos projetam criação de vagas de emprego moderada e crédito mais caro, manter o desemprego estável ainda seria um bom desempenho, mas não uma surpresa expressiva. Com o crédito em patamares elevados, o alto custo de contratação leve levar negócios a adotarem estratégias mais cautelosas, que podem incluir o adiamento de contratações permanentes.
Nesse cenário, Sette Jr., explica que a prioridade deve se concentrar em horas extras ou terceirização para ajustar pico de demanda em vez de abrir vagas fixas. “Isso pode ser notado especialmente em setores que dependem fortemente de financiamento, como construção, já que a contratação implica custos fixos que exigem estabilidade de demanda para ser sustentável”, pontua.
Apesar dos desafios, tanto a construção, quanto setores de serviços e varejo ainda possuem espaço para absorver trabalhadores, especialmente com políticas de estímulo ou reformas em infraestrutura. Na avaliação do economista, dados como projeção de crescimento dos setores e ampliação na criação de empregos mostram que, mesmo com juros elevados, os indicadores seguem avançando.
“Assim, a conjunção de demanda interna razoável, estoque de trabalhadores empregados e algum dinamismo setorial ajuda a sustentar o desemprego em baixos patamares”, conclui.
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