Empresários buscam alternativas para manter os negócios

Empresários de bares e restaurantes endividados, sem honrar os pagamentos com fornecedores, empréstimos e tarifas públicas. Esta é a realidade de muitos donos de comércios em Minas Gerais. A última pesquisa divulgada pela Associação de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG) dá conta de que 58% dos empresários estão sofrendo para quitar dívidas salariais e com fornecedores.
“Muitos de nós já recorremos a todas as possibilidades como empréstimos, programas do governo, venda de bens e ainda estamos enfrentando momentos de grande dificuldade financeira e temos que optar por quais dívidas temos que sanar primeiro”, explica o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel.
Caso vivenciado pelo empresário Marcelo de Lima Rodrigues, proprietário do restaurante Paulista Grill Carmo. Desde março de 2020, Marcelo teve que fechar a unidade que tinha na avenida Prudente de Morais, na região Centro-Sul da Capital. “Não dei conta de manter o aluguel do espaço, além dos funcionários. Na época eu fui obrigado a demitir 12 colaboradores, do meu total de 15”, conta.
Para arcar com os encargos trabalhistas, Marcelo Rodrigues recorreu a empréstimos. “Consegui uma linha de crédito no BMG e outra no Pronampe. Com esses valores, eu consegui pagar as despesas com os fornecedores e todos os direitos dos funcionários”, explica.
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A Lei 13.999, do governo federal, é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), é uma linha de crédito para micros e pequenas empresas impactadas pela pandemia, buscar e manter empregos e fornecer linha de créditos com juros mais baixos para os empresários.
No Paulista Grill Carmo, Marcelo Rodrigues, agora, conta com três funcionários, investiram em atendimento, sabores e cordialidade. “No tempo em que ficamos fechados apostei no delivery sem nunca ter trabalhado nessa modalidade, mas fiz de tudo para não parar de trabalhar”, relembra.
O empresário disse que houve uma redução de 80% no faturamento em um ano e meio de pandemia. Após esse período de abre e fecha do comércio, em geral, em Belo Horizonte já registra um aumento de 15% na demanda. “É tímido ainda. Tenho esperança de que com o avanço da vacinação, as pessoas percam o pânico de saírem de casa. Os escritórios voltem a funcionar e a rotatividade nos restaurantes volte de maneira satisfatória”, acredita.
Com o que sobrou dos empréstimos, Marcelo está administrando como pode. Desde outubro do ano passado, ele não paga o IPTU do imóvel. A tarifa de água teve que negociar. Para diminuir um pouco mais as despesas, vendeu alguns bens para investir na empresa e segue otimista. “Até agora não tirei nada do caixa do restaurante. Acredito que, com o aumento da clientela, vou conseguir pagar as parcelas dos empréstimos e ganhar um respiro”, disse.
Recém-completados 26 anos de existência, o Chef Tulio Internacional Butikin não comemorou o aniversário no dia 1º de junho. O empresário Túlio Montenegro não faz planos para o futuro, apesar de não perder a fé nem a esperança de dias melhores. “Tenho esperança que tudo isso vai acabar. A vacina vai chegar a todos e poderemos abrir normalmente. Recebemos nossos clientes e amigos. Nossos funcionários de volta”, disse.
O empresário viu o faturamento cair, passando de um fluxo de caixa de R$ 140 mil para R$ 15 mil ao dia. “O prefeito (Alexandre Kalil) não permite que a gente trabalhe. Nesse horário de 11h às 19h, as pessoas estão saindo do trabalho, de casa, do home office, do ônibus. Não tem como o cliente chegar antes desse horário para tomar uma cerveja e comer um tira-gosto no botequim. É impossível”, conta.
Com a pandemia, teve que demitir oito funcionários, agora conta apenas dois colaboradores. Pegou empréstimos, um deles também no Pronampe e teme não conseguir pagar devido à demanda baixa de clientela. “Nós ficamos de 15h às 19h sem fazer praticamente nada. Se pelo menos a Prefeitura flexibilizasse o nosso horário de abertura, os atendimentos ficariam melhores. O nosso faturamento subiria, mas não temos nenhuma sinalização do Poder Executivo para que isso mude”, desabafa.
Medidas governamentais ajudam
Para amenizar a situação dos empresários de vários segmentos de todo o País, o governo federal publicou a Medida Provisória 1.045, em que prevê alguns auxílios para os empregados durante a pandemia.
Entre os benefícios está a suspensão temporária do contrato de trabalho e pagamento de Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm).
A empresária Gabriela Furtado, sócia da rede de restaurantes Assacabrasa, precisou recorrer desse auxílio e também do Pronampe. Antes da pandemia, a rede contava com oito lojas na cidade. Acabou tendo que fechar duas, manter cinco abertas e deixar uma temporariamente fechada. “Remanejamos os funcionários para lojas que iriam continuar, mantemos os contratos de trabalhos suspensos, alguns preferiram a demissão, para voltarem ao interior, local de onde vieram. Fizemos de tudo para não desamparar ninguém”, relembra.
A empresária conta que a grande preocupação vai além dos salários dos funcionários. Para ela, a principal dificuldade está em honrar com todos os pagamentos durante este período de faturamento baixo ainda na pandemia. “Apesar de estarmos abertos, o movimento ainda é modesto, pois temos restrição de dias e horários. Além disso, o faturamento está tímido e isso ainda não cobre as nossas despesas e muito menos as parcelas que comprometemos com os empréstimos”, explica.
Apesar de toda a dificuldade, a empresária Gabriela Furtado é otimista. “Precisamos de vacina para que a nossa economia volte à normalidade. Isso é para todos os segmentos do comércio, porque todos nós estamos sentindo e muito, o que a pandemia está causando tanto na saúde quanto na economia para empresários e trabalhadores. Só assim, a nossa vida volta ao normal, às escolas, os escritórios, o trabalho para as pessoas e o que a gente espera é que não haja uma piora dessa doença, porque senão não aguentaremos”, desabafa.
Após fechar bar, Chef volta a empreender
O chef de cozinha César Faeda teve que fechar o bar MetrôTereza, logo no início da pandemia, em março do ano passado. “Não tive outra escolha. Fiquei assustado com aquele fechamento da cidade. Acertei com meus cinco funcionários, entreguei o imóvel e fui para roça”, relembra.
Para não ficar tão longe da cozinha, César fez bastante lives. “Revivi a cultura mineira, o fogão de lenha, os sabores da roça. Eu amo cozinhar e a sensação de ficar parado é muito ruim”, conta.
Após um tempo e com algumas reservas, César Faeda decidiu voltar para Belo Horizonte, mas principalmente a empreender. “Minha família é toda italiana e decidi abrir um novo restaurante com o conceito italiano e mineiro”, explica.
A ideia é que o espaço, que é pequeno, abra para o almoço, com mesa para oito pessoas, além do atendimento delivery. “Teremos as entregas feitas por entregas terceirizadas, por serviço próprio e retiradas na própria loja. Além disso, teremos uma carta de vinhos especializados e cervejas artesanais que harmonizam com os pratos”, reforça.
O chef Faeda confessa o frio na barriga ao empreender em plena pandemia. “Estou com medo, frio na barriga e ansioso. Mas eu preciso seguir em frente. Por mim, pela minha família e pelas pessoas que estão confiando em mim. Aos meus funcionários, que estão encarando essa nova jornada comigo. Nós empreendedores, empresários, comerciantes, estamos vivendo um dia de cada vez, sem muitos planos, mas com a esperança de que a vacina avance e que as coisas melhorem”, avalia.
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