Empresários lançam manifesto por união contra mudanças climáticas

São Paulo – Mais de 50 lideranças empresariais de algumas das maiores companhias do país lançaram nesta quarta-feira (28) um manifesto pedindo união de esforços da sociedade para enfrentar as mudanças climáticas.
A declaração, que foi publicada na Folha de S.Paulo e em outros jornais de circulação nacional, afirma que o País precisa acelerar e aprofundar a construção de diretrizes e metas de um plano nacional de descarbonização para ser levado à COP30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas -, que será realizada em Belém, em 2025.
O movimento acontece na esteira das tragédias provocadas por fatores climáticos neste ano, como os incêndios que atingiram o pantanal e o estado de São Paulo, depois das chuvas no Rio Grande do Sul.
Os empresários assinam individualmente o manifesto, não em nome das companhias a que estão ligados. Entre os signatários há nomes como:
- Ana Maria Diniz (Instituto Península),
- Arminio Fraga (Gávea),
- Daniel Castanho (Ânima Educação),
- Eduardo Bartolomeo (Vale),
- Eduardo Vassimon (Votorantim),
- Elie Horn (Cyrela),
- Eugênio Mattar (Localiza),
- Guilherme Benchimol (XP),
- Guilherme Leal (Natura),
- Marcos Molina (BRF/Marfrig),
- Rodrigo Galindo (Cogna),
- Rubens Menin (MRV),
- Rubens Ometto (Cosan)
- e outros.
Segundo o manifesto, o empresariado e os Três Poderes “precisam se unir o quanto antes para encarar esse desafio, em uma coalizão em defesa do nosso meio ambiente, da nossa economia e da prosperidade da nossa população”.
“Não temos à mão fórmulas prontas, soluções fáceis. Mas, como cidadãos perplexos com o impacto socioeconômico dos eventos extremos e com o despreparo da nossa nação, manifestamos aqui nosso compromisso de buscar as saídas em conjunto com toda a sociedade”, diz o texto.
“Precisamos colaborar com o Executivo na estratégia de combate ao desmatamento ilegal e na recuperação de áreas degradadas. Precisamos contribuir com o Legislativo na criação de leis que disciplinem o licenciamento ambiental e protejam as florestas. Precisamos incentivar um Judiciário atuante na defesa do direito constitucional ao meio ambiente.”
O manifesto defende que não se pode empurrar todo o ônus do problema para o poder público. “Não é produtivo gastar tempo apontando culpados, caçando bruxas”, aponta a declaração. Cabe à iniciativa privada acelerar a adaptação da economia à nova realidade do clima, afirma o documento.

O vice-presidente do conselho de administração da Dasa, Pedro Bueno, afirma que a ideia de fazer o manifesto começou a surgir há cerca de dois meses, quando ele ligou para o também signatário Candido Bracher, ex-presidente do Itaú e colunista da Folha de S.Paulo, para conversar sobre sua preocupação com o tema e o desejo de propor um diálogo aberto.
Coincidentemente, na mesma semana, Bracher foi procurado para falar do mesmo assunto pelo empresário Roberto Klabin, que é vice-presidente do conselho da SOS Mata Atlântica e membro do conselho da SOS Pantanal.
Daí nasceu a semente da ideia, segundo Bueno. Foram chamados quatro especialistas na área para auxiliar na montagem do rascunho da carta, que foi compartilhada com outros empresários para fazer ajustes. Ele ressalta que se trata de um movimento apartidário e que reúne nomes de diversos setores.
Roberto Klabin, que também é fundador do refúgio ecológico Caiman, no Pantanal, afirma que acompanha o problema de perto, como testemunha, e tem observado que, a despeito da boa vontade, a sociedade ainda tem dificuldade em se organizar para combatê-lo.
“O tema não é bem compreendido. Quando o impacto dessa situação chega às cidades, como vimos agora com o fogo em Ribeirão Preto, as pessoas passam a enxergar, já não mais como uma ameaça que está lá na amazônia ou lá no pantanal. Quando a fuligem e o incêndio chegam até as grandes cidades, aí se vê o despreparo em que nos encontramos”, diz Klabin.
Para Bueno, ao tratar de combater os riscos que as mudanças climáticas podem gerar, o Brasil deveria olhar as soluções sob a ótica da oportunidade de econômica. Essa deveria ser uma pauta empolgante para o Brasil, porque o país ainda tem chance de assumir uma posição de liderança global como potência verde gerando emprego e renda para a população, diz o empresário.
“A cada ano, a seca vai ficando pior. A energia do Brasil depende de hidrelétricas. Podemos viver emergência energética no futuro. Um dos nossos setores mais potentes é o agro, que vai ser extremamente impactado pela seca. Se não começarmos a atuar agora, talvez seja tarde”, diz ele. (Reportagem distribuída pela Folhapress)
Setor empresarial entrega para Lula propostas para serem incorporadas ao G20
A lista entregue para Lula contém 24 recomendações, em áreas como finanças e infraestrutura, transição energética e clima, sistemas alimentares sustentáveis e agricultura, comércio e investimento, e mulheres e inclusão. Segundo representantes do grupo do setor privado, as propostas foram bem recebidas por Lula e sua equipe.
“Hoje nosso objetivo foi entregar as recomendações que esses grupos [temáticos] consensuaram. As propostas foram muito bem recebidas. Existia, desde o início, esse nosso objetivo de que o B20 estivesse bem alinhado aos trabalhos do G20, então os objetivos de combate à fome e à pobreza, agenda de transição energética, estavam no coração dos trabalhos do B20”, afirma Constanza Negri, sherpa (principal negociadora) do B20 Brasil.
Ela acrescenta que o grupo se preocupou em reduzir o número de recomendações, de forma a apresentar um foco maior em alguns temas.

“Agora fica o nosso foco de implementar parte dessas recomendações. São recomendações que, na verdade, já eram conhecidas, algumas, porque vinham sendo trabalhadas por diferentes grupos do G20. Então, acho que o trabalho ainda não terminou. As recomendações foram bem recebidas”, afirma.
O B20 é um grupo que reúne mais de 1.200 representantes empresariais do setor privado, de 39 países e de 20 setores econômicos.
O fórum empresarial que dialoga com o G20 é liderado por Dan Ioschpe e conta com a participação de empresários como Ricardo Mussa (Raízen), Francisco Gomes Neto (Embraer), Gilberto Tomazoni (JBS), Paula Bellizia (AWS), Luciana Ribeiro (eB Capital), Walter Schalka (Suzano), Fernando de Rizzo (Tupy) e Claudia Sender.
Algumas das prioridades do B20 foram apresentadas aos ministros de Finanças do G20, em julho, no Rio de Janeiro. Segundo Negri, um eixo levado pelo grupo de engajamento dos empresários foi o da mobilização de capital privado para alavancar financiamento público na área de transição verde.
Para destravar investimentos em prol do financiamento climático, o B20 propõe que, a cada US$ 1 investido pelo setor público, US$ 5 dólares sejam aplicados pelo setor privado.
Na ocasião, o grupo também defendeu a necessidade de facilitar o processo regulatório para incentivar a execução de projetos de infraestrutura no âmbito da transição verde e apresentou ainda um terceiro eixo ligado à agenda de inclusão financeira.
No documento consolidado, entre as medidas prioritárias da área de transição energética, o B20 defende elaborar políticas, regulações e incentivos para triplicar a capacidade energética renovável até 2030, expandir a infraestrutura das redes e acelerar a eletrificação.
Fala também em estabelecer mecanismos e iniciativas para explorar o potencial sustentável e a prontidão de bioenergia e biocombustíveis para descarbonização, além de expandir outras soluções de transição para uma economia sustentável de baixo carbono, como captura, uso e armazenamento de carbono, hidrogênio limpo e energia nuclear.
No setor de comércio e investimentos, o grupo defende a revisão de políticas comerciais restritivas unilaterais dos países do G20 nos últimos três anos.
Sugere também promover metodologias aceitas internacionalmente para cálculo e prestação de contas sobre a pegada de carbono de produtos. Essa tem sido uma discussão central, por exemplo, na introdução do mecanismo de ajuste de carbono na fronteira (CBAM, na sigla em inglês) pela União Europeia.
Tal instrumento aplica um preço ao carbono emitido na produção de bens importados pelo bloco europeu, mas há divergências entre a forma de mensurar essas emissões e de como precificá-las. O Brasil, por exemplo, defende uma medição da cadeia produtiva de forma mais ampla, enquanto os europeus, um foco localizado e mais restrito.
As recomendações do B20 também abordam questões ligadas a sistemas alimentares sustentáveis e agricultura; a mulheres, diversidade e inclusão; a emprego e educação; a transformação digital; e a integridade e conformidade.
O Brasil preside desde novembro do ano passado o G20, fórum que reúne as maiores economias do globo. Foram realizadas reuniões técnicas e ministeriais neste ano, em diversas capitais brasileiras.
O último evento será a cúpula de chefes de Estado, em novembro, no Rio de Janeiro.
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