Empresas do Vale da Eletrônica enfrentam desafios

As empresas do Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, estão enfrentando desafios que afetam o potencial de crescimento do setor. A insegurança jurídica, o crédito caro e escasso são fatores que estão deixando os empresários mais cautelosos quanto aos investimentos. Além disso, o setor ressalta que falta apoio dos governos para as médias empresas, que são a maior parte do polo produtivo. Mesmo assim, empresários seguem aportando e desenvolvendo inovações, essenciais para que os produtos sejam competitivos e atendam à demanda do mercado.
Conforme o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel), Roberto de Souza Pinto, a insegurança jurídica brasileira é, hoje, o principal entrave para os empresários e investidores. Há também dificuldades do setor em conseguir financiamentos bancários.
“Hoje, para a gente fazer compra de matéria-prima em que boa parte é importada, precisamos pagar à vista. Antes, tínhamos prazos de 60 a 120 dias. O mundo está inseguro em conceder crédito. Então, isto é um gargalo muito grande. Com a insegurança jurídica, as pessoas não se arriscam, seguram os investimentos porque não sabem como será o amanhã. O empresário estrangeiro também não aposta”.
Crédito
Ainda conforme Souza Pinto, os desafios para os empresários são diários. A indústria, ao antecipar ao pagamento de matéria-prima, demanda de grandes volumes de capital de giro, sendo necessário recorrer aos bancos para custear as demais despesas.
“Devido à especificidade do eletroeletrônico, há uma grande demanda pela importação da matéria-prima. Importamos, principalmente, semicondutores e chips, que representam cerca 42% da nossa matéria-prima. Essa matéria-prima tem que estar na cabeça da linha de produção. O empresário precisa de um volume estocado na fábrica, outra parte tem que estar no desembaraço aduaneiro, mais um ou dois dentro do navio viajando pra cá e ainda é preciso manter as compras ativas para não romper este fluxo. São necessários vários lotes em etapas diferentes para que a produção permaneça em funcionamento”.
Com a dinâmica do setor e a exigência de pagamento à vista junto aos fornecedores, a demanda é muito grande no que se refere ao capital de giro. Além disso, os compradores do setor, grandes distribuidores, só efetuam os negócios com pagamentos a prazo.
“A única saída é recorrer ao banco, mas o crédito está caro e difícil de acessar. Toda vez que demanda, o freio de mão do sistema bancário está puxado até o topo, porque há muita insegurança”.
Empresas do Vale da Eletrônica depende de investimentos para se manterem competitivas

Mesmo diante das dificuldades, segundo Souza Pinto, as empresas do setor, devido à alta capacitação dos empresários e à gestão eficiente, continuam investindo para se manterem no mercado.
“A inovação tecnológica no Vale da Eletrônica é a grande âncora. Por isso, os investimentos são permanentes. Por estarmos em um setor de tecnologia, nós temos o desafio de, pelo menos, a cada três meses oferecer ao mercado novas opções em tecnologia. Isso é essencial para que a gente concorra com as empresas gigantes do mundo”.
Souza Pinto destaca ainda que os empresários do Vale da Eletrônica por serem capacitados lutam para manter as empresas fortes no mercado, o que é conquistado também pela formação de boas equipes, compostas por mão de obra altamente qualificada. Isso é importante para que os produtos tenham qualidade e sejam competitivos.
“Competimos com as gigantes no mundo. Para que haja uma substituição da importação pelos nossos produtos, temos que estar em igual condição tecnológica, em igual condição de preços e de custos. Além disso, precisamos oferecer mais garantias e assistências técnicas nacionais.
Empresas de médio porte do Vale da Eletrônica precisam de apoio
Outro gargalo enfrentado na região, conforme Souza Pinto, é a falta de apoio junto às médias empresas. Há necessidade de que os governos olhem mais para este tipo de empresas, que são a maioria na região.
Segundo ele, as grandes empresas são robustas e conseguem se desenvolver no mercado. As micro, pequenas e as startups recebem diversas contribuições dos governos e entidades. No entanto, as de médio porte estão sozinhas.
“Os governos estão sempre investindo em startups, mas precisam ter a visão ampliada e investir nas médias empresas. Os órgãos públicos e as entidades privadas precisam ver que quem segura o Brasil são as médias empresas. As grandes já têm suas infraestruturas e estruturas com muita força, inclusive na exportação. As micro, pequenas e startups recebem ajuda de todas as instâncias. Já as médias empresas estão em bolhas. Elas não aguentam competir com as grandes e não tem apoio do sistema tecnologia das secretarias, as entidades do governos, são esquecidas”.
Mercado ainda lento
Quanto ao desempenho do mercado em relação aos produtos eletroeletrônicos, Souza Pinto explica que as empresas do setor estão prontas para atender toda a demanda, mas que o mercado ainda está lento.
“Estamos com bala na agulha para termos um boom de vendas. O mercado continua comprando, mas, somente para atender a necessidade deles. O consumo está bem focado somente em atender as necessidades, não há estímulo para que o consumidor compre, pelo contrário, está sendo estimulado a não comprar, pela grande insegurança”
Ouça a rádio de Minas