Empresas familiares dominam setor de transporte rodoviário de passageiros no Brasil

Neste domingo (8) é celebrado o Dia Nacional da Família, em homenagem a essa instituição que possui grande relevância tanto na vida pessoal quanto nos negócios. O modelo de empresas familiares é um dos mais adotados no Brasil. Em alguns setores, como o de transporte de passageiros, ele chega a ser o formato predominante no mercado.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), a grande maioria (93,3%) das empresas do setor de transporte rodoviário interestadual de passageiros é controlada por membros de uma mesma família. O estudo contou com a participação de 45 empresas que, juntas, movimentam mais de 90% do total de passageiros do setor.
Para o presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de Minas Gerais (Fetram) e da Seção do Transporte Rodoviário de Passageiros da CNT, Rubens Lessa Carvalho, esse domínio das empresas familiares no setor também pode ser observado no mercado mineiro.
“É seguro assumir que essa tendência se reflete também em Minas Gerais, uma vez que a pesquisa abrange todo o território nacional”, avalia.
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O resultado da pesquisa também entra em consonância com o perfil empresarial do País. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das empresas brasileiras têm perfil familiar. Além disso, elas respondem por 75% da mão de obra no Brasil.
Quanto à gestão das empresas de transporte de passageiros, 42,9% dos respondentes afirmam adotar o modelo híbrido, que distribui o comando entre os membros da família e alguns executivos externos. Outros 42,9% concentram toda gestão nas mãos dos familiares e 11,9% das empresas delegam essa responsabilidade para uma equipe de profissionais contratados.
Na visão de Lessa, as empresas familiares tendem a apresentar algumas características distintas das demais. Dentre elas, está uma maior preservação dos valores e da cultura da organização, transmitidos de geração em geração. “Muitas dessas empresas possuem uma longa história no mercado, o que confere maior experiência e know-how”, completa.
Longevidade das empresas familiares
Segundo o levantamento da CNT, 82,2% das empresas possuem mais de 20 anos de atuação no mercado. Por outro lado, apenas 4,4% das companhias que participaram da pesquisa possuem menos de cinco anos de atuação.
O presidente da Fetram, Rubens Lessa, explica que a perspectiva familiar costuma ser mais voltada para o longo prazo, buscando a perenidade do negócio. Vale ressaltar que, além de presidir a federação, ele também é membro da família que comanda o Grupo Empresarial Saritur, onde também atua como presidente.

No entanto, o empresário ressalta que as empresas, com este tipo de gestão, também podem enfrentar algumas dificuldades pontuais em termos de adaptação às rápidas mudanças do mercado e profissionalização da gestão.
Conforme o estudo, a gestão por meio da contratação de executivos externos com experiência e qualificação específicas pode proporcionar uma abordagem mais estratégica e baseada em métricas para a operação da empresa, além de melhorar a governança corporativa e a transparência, o que pode ser atraente para investidores e parceiros de negócios.
Portanto, a escolha entre uma gestão familiar e profissional, muitas vezes, depende do estágio de desenvolvimento da empresa e também das ambições de crescimento e da visão dos proprietários.
Motivos para atuar no setor de transportes de passageiros
De acordo com a pesquisa da CNT, 64,4% dos respondentes afirmam que o principal motivo para atuarem no setor é o fato de a empresa ser familiar. Isso evidencia a importância deste tipo de organização no setor de transporte rodoviário interestadual de passageiros.
Além disso, a maioria (47,6%) das empresas já estão na segunda geração de gestores, o que demonstra o caráter de continuidade dos negócios. Outras 26,2% estão na terceira geração, o que retrata a maturidade desse modelo de organização, e 19% das empresas ainda estão sendo geridas pelos fundadores.
Por outro lado, 17,8% dos operadores disseram que atuam nesse segmento pelo fato de já terem operado empresas em outras modalidades do setor de transporte. Já outros 13,3% apontam para o fator de oportunidade de mercado como o principal motivo para ingressarem nessa área. Esses resultados demonstram certa abertura para novos integrantes neste mercado.
Lessa pontua que as principais vantagens nesta área são os fortes laços com clientes e colaboradores. Isso porque, segundo ele, a gestão familiar tende a gerar um ambiente mais próximo e colaborativo.
“A experiência acumulada ao longo das gerações permite um entendimento mais aprofundado do segmento e do mercado como um todo. Empresas familiares tendem a ser mais resilientes, pois possuem uma base sólida e valores muito bem definidos”, pontua.

No entanto, o presidente da Fetram e da Saritur também alerta que as principais dificuldades enfrentadas pelas companhias desse segmento giram em torno da transição entre gerações que pode ser um processo complexo e desafiador para o negócio.
“A tradição pode, em alguns casos, dificultar a adoção de novas tecnologias e modelos de negócio. A falta de profissionalização da gestão pode ser um obstáculo para o crescimento e a expansão da empresa”, explica.
Ele ainda ressalta que, embora a pesquisa realizada pela CNT forneça um panorama geral do setor, é importante ter em mente que cada empresa é única e, portanto, pode apresentar características e desafios específicos.
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