Economia

Empresas precisam se adaptar e investir

Empresas precisam se adaptar e investir
Sócios da startup Rocketmat, mineiros e norte-americanos, fizeram mudanças na estrutura da empresa para adaptá-la - Marcos Santos/USP Imagens

A empresa de Inteligência Artificial (IA) para recrutamento de profissionais Rocketmat teve que fazer mudanças em sua estrutura para se adaptar à Lei de Proteção de Dados. A startup, que foi fundada por sócios mineiros e norte-americanos, tem sede em Dallas, nos Estados Unidos, mas toda a operação técnica funciona em Belo Horizonte. O CTO Paulo Nascimento explica que, há oito meses, a empresa teve que fazer mudanças para cumprir as regras do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR), da Europa, o que facilitou a adequação à lei brasileira. A empresa investiu cerca de R$ 200 mil nesse processo, considerando principalmente as horas de trabalho dos funcionários que foram retirados dos projetos da empresa para trabalharem na adequação.

A Rocketmat oferece uma solução de IA para seleção de profissionais como foco na cultura da empresa. Nascimento explica que a proposta é diferenciada porque não limita o processo seletivo apenas a questões de conhecimento técnico ou perfil psicológico. Por meio da coleta de dados dos atuais funcionários da empresa que quer contratar e também dos dados do candidato, a ferramenta faz uma análise para o recrutamento. Segundo o CTO, os dados dos candidatos são colhidos na internet, mas também nos testes que ele responde ao participar do processo seletivo.

“O que acontece é que, muitas vezes, o candidato parece perfeito para a vaga, mas, quando é contratado, não performa, porque não tem a cultura da empresa. A gente resolve isso usando ciência: colhemos dados dos funcionários atuais das empresas, assim como os dados do candidato, e jogamos isso no nosso algorítimo. A partir disso, ele cria milhares de perfis de sucesso para aquela empresa e o nosso robô consegue encaixar candidatos em um desses perfis”, explica.

Nascimento afirma que os dados considerados sensíveis pela Lei de Proteção de Dados, como sexo, etnia e idade, não são levados em conta no cálculo do algorítimo. A plataforma foi desenvolvida assim desde o início, justamente para evitar discriminação e, por isso, atende à nova legislação nesse sentido. O empreendedor afirma, entretanto, que, com a lei, os clientes ficaram muito mais atentos, o que tem dispensado maior esforço de venda por parte da Rocketmat. “Por um lado, dificultou nossa rotina, porque temos que convencer as empresas que o que fazemos está dentro na nova lei. Por outro, acabamos nos destacando com uma solução em conformidade com a legislação”, afirma.

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Mesmo com essa vantagem em relação ao tratamento dos dados sensíveis, a empresa teve que fazer adaptações, como rever contratos. “Tivemos que adicionar cláusulas aos contratos para deixar claro que a Rocketmat não mantém os dados dos candidatos. A pessoa que concorre a uma vaga deve autorizar a empresa a compartilhar seus dados conosco e nós nos comprometemos a analisá-los, voltar com eles para a empresa e depois apagá-los. Além disso, durante o momento em que esses dados estão conosco, nós não os identificamos pelo nome ou pelo endereço de e-mail das pessoas, o que garante mais a segurança delas”, frisa.

A empresa também teve que criar processos para situações em que o candidato quiser saber mais sobre o tratamento de seus dados ou, ainda, solicitar a destruição deles. “Outra ação que fizemos foi descentralizar os dados dos clientes em diferentes servidores no mundo. Em vez de concentrar tudo nos EUA, nos fizemos essa separação, para que as informações não saiam do seu país de origem”, completa.

Marketing digital – A nova legislação também está mudando as estratégias das empresas no marketing digital. O gerente de marketing de performance da Tray – unidade de e-commerce da Locaweb -, Vinícius Guimarães explica que boa parte dessas estratégias é baseada em anúncios que usam justamente dados pessoais dos usuários para garantir sua assertividade. “A questão é: se os usuários desses canais, como Facebook e Google, solicitarem a exclusão de suas informações, dificultando o encontro por segmentação, como ficarão as campanhas? Como a marca alcançará os clientes em potencial, sendo que não está mais apta a localizá-los por meio dessas ferramentas?”, questiona.

O gerente destaca que a solução é fazer um trabalho ainda mais criterioso no marketing digital. As empresas terão, cada vez mais, que entender quem é seu cliente por meio de outras estratégias como o e-mail marketing ou, ainda, utilizando dados gerais autorizados pelos usuários, como sexo, idade e localização. “O comerciante tem que ficar ligado com o que está acontecendo para não ser pego de surpresa. Hoje, as fontes de pesquisa são abertas e não é uma questão de escolha: ou se adapta ou coloca em risco seu negócio”, alerta. (TB)

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