Economia

Empresas de transporte de passageiros sofrem com falta de motoristas

Mudança no perfil dos trabalhadores está afetando a prestação de serviço
Empresas de transporte de passageiros sofrem com falta de motoristas
Segundo o Setra-BH, nem mesmo os ganhos salariais têm sido suficientes para manter os profissionais; algumas empresas têm adotado outros diferenciais como reajustes salariais acima da inflação, capacitação e estabilidade | Crédito: Divulgação PBH

O setor de transporte de passageiros tem enfrentado desafios para manter a quantidade ideal de motoristas no corpo de colaboradores. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), em diversas cidades, empresas de transporte público têm tido dificuldades para cumprir os horários e garantir a regularidade das linhas, impactando diretamente as pessoas que dependem de ônibus para se locomover.

Dados da Coordenadoria Estadual de Gestão do Trânsito (CET) de Minas Gerais, o antigo Detran, indicam estabilidade na emissão de habilitações de motoristas na categoria D, nos últimos cinco anos. A modalidade permite com que o motorista conduza não apenas automóveis, mas também veículos que excedam 9 lugares, como é o caso dos ônibus.

Para se ter uma ideia, enquanto em 2021, ano de pós-pandemia, 11,3 mil pessoas se habilitaram na categoria D, em 2022, esse número caiu para 10,5 mil. Já em 2023 chegou a 10,2 mil, e em 2024, houve um pequeno aumento para 10,7 mil. Os números mostram leve estabilidade na introdução de novos motoristas que optam pela categoria, considerada baixa pelo setor.

O gestor de Operações e Logística do Grupo Coordenadas Transportes, empresa que opera 762 veículos em toda Minas Gerais, Jeferson Bittencourt, comenta que o desinteresse pela profissão tem resultado na escassez de motoristas, proporcionada, principalmente, por uma mudança de perfil dos trabalhadores mais jovens. “O trabalhador hoje quer flexibilidade. No setor de transporte tem horário fixo e escala. As pessoas querem fazer seu próprio horário”, explica.

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Outro ponto apresentado por Bittencourt como entrave é a legislação de trânsito brasileira. “Para tirar a carteira de habilitação da categoria D, é preciso ter 21 anos. Um garoto que quer entrar no mercado de trabalho aos 18 anos, quando faz 21, já encontrou outro setor ou outro caminho para ganhar dinheiro”, completa.

De acordo com o Setra-BH, nem mesmo os ganhos salariais têm sido suficientes para manter os profissionais. Segundo a entidade, a categoria registrou aumento significativo nos salários e benefícios nos últimos oito anos, com crescimento de 57,14%, superando em 6,55% a inflação acumulada no período. Entre os meses de setembro de 2023 e setembro de 2024, por exemplo, o reajuste foi de 10,16%, superando a inflação em 5,83%.

Conforme a entidade, a escassez de profissionais já está sendo tratada e deverá ser colocada em debate nos próximos encontros nacionais das entidades representativas do setor, como a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

Salários maiores e benefícios tentam atrair novos motoristas

A média do salário de um motorista gira em torno de R$ 3 mil para uma jornada de trabalho de 6 horas e 40 minutos. Mas conciliar as novas expectativas dos trabalhadores com a exigência de regularidade e pontualidade no serviço é, para o sindicato da categoria, o principal obstáculo.

Por isso, as empresas têm adotado medidas como reajustes salariais acima da inflação e ampliação dos benefícios, além de buscar soluções de adaptação a essa nova realidade do mercado.

É o caso do grupo Coordenadas Transportes, que possui cerca de 60 vagas de motoristas disponíveis em diversas cidades de Minas Gerais. Para solucionar essa carência, eles têm pagado horas extras aos motoristas já empregados e apostado em treinamento e escolas de formação. “Depois que os motoristas são aprovados na autoescola, oferecemos um treinamento de 18 meses, porque não encontramos motoristas experientes. O trabalhador entra (na empresa) e fica este tempo sendo remunerado e em treinamento”, afirma. 

Outra alternativa que tem sido praticada na empresa é o incentivo para que colaboradores que já possuem habilitação na categoria B transferiam para a D. “Se ele ficar conosco por três anos, a gente financia a mudança de categoria”, revela o gestor.

Ainda segundo Bittencourt, cada vez mais mulheres motoristas ocupam o cargo. “É muito bom trabalhar com elas. São mais cautelosas, cumpridoras de horário e muito bem-vindas”, diz.

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