Endividamento das famílias cresce em BH

As famílias belo-horizontinas terão que apertar o cinto se quiserem pagar todas as contas em dia. É o que revela a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG). O índice de endividamento avançou para 78% em junho.
Segundo dados da pesquisa, pelo menos 51,1% das famílias que estão endividadas, com renda de até dez salários mínimos, afirmaram não ter condições de quitar seus débitos no mês que vem. Já entre aquelas com renda superior a dez salários, esse índice caiu para 27%. Na média geral, no entanto, ainda conforme os dados da pesquisa, 16,8% das famílias da Capital admitiram não ter condições de pagar suas dívidas no próximo mês.
“A pesquisa foi feita nos últimos dez dias de maio, com mil famílias. Metade delas tem renda de até dez salários mínimos e a outra metade tem receita superior a este parâmetro”, explicou a economista da Fecomércio, Gabriela Martins.
Crescimento
O crescimento da inadimplência preocupa o comércio, porque, ainda conforme Gabriela, se os clientes não pagam suas dívidas, os comerciantes podem ser obrigados a reajustar preços, o que provoca a queda nas vendas. “Se venderem menos, podem ser obrigados a cortar custos como o número de funcionários”, afirmou.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
“A inadimplência é diferente do endividamento porque a falta de pagamento tira a possibilidade de os clientes continuarem consumindo, pois perdem acesso ao crédito. Por isso, problemas como o aumento da inflação e o desemprego preocupam porque podem agravar este problema”, explicou.
Gabriela ainda ressaltou que com a alta do desemprego, somada ao reajuste de preços dos produtos básicos como gás, alimentos e luz, muitas famílias perdem a capacidade de economizar, pressionadas pelas perdas de renda. “As pessoas não podem deixar de comer, precisam de gás e luz. Mas deixam de pagar algumas contas para preservar o consumo do básico”, disse.
Endividamento
A pesquisa também constatou o crescimento de 10,3 pontos percentuais do nível de endividamento das famílias belo-horizontinas ao longo do semestre. Isso significa, segundo os dados do estudo feito pela Fecomércio, que pelo menos 78% das famílias que moram na Capital estão endividadas.
O aumento do número de famílias endividadas cresceu 4,1 pontos percentuais (p.p) em relação ao mês anterior. “Mas o endividamento, em certa medida, é positivo, porque é um indicador de aumento de compras. E com acesso ao crédito, essas pessoas podem pagar”, afirmou.
Atrasos
Mas o número geral de famílias com contas em atraso atingiu 35,2%, o que representou um aumento de 1,7% em relação ao mês anterior. Entre as famílias com renda inferior a dez salários mínimos, o índice alcançou 37,4% e entre aquelas que ganham mais que este montante atingiu 21, 3% .
“A tendência foi acompanhada pela quantidade de famílias com contas atrasadas, que expandiu 1,7 ponto porcentual (p.p.). Assim, a inadimplência alcançou 35,2% da população, enquanto o percentual geral de consumidores que não terão condições de quitar suas dívidas atingiu 16,8%, disse Gabriela.
Sem surpresas
Economista da Fecomércio, Gabriela Martins não se surpreendeu com o resultado negativo observado no nível de endividamento das famílias da capital mineira. Ela considerou o aumento do endividamento correspondente ao contexto vivido pelo País durante a pandemia.
Gabriela lembrou que a economia teve uma pequena retomada entre agosto e dezembro de 2020 quando o comércio vivenciou um período de maior abertura, e os consumidores contaram com o auxílio emergencial que variou entre R$ 600 e R$ 1.200 e foi pago a cerca de 67,9 milhões de brasileiros.
Mas a situação mudou nos primeiros meses deste ano. “Mesmo com a pandemia e com o desemprego, o auxílio não foi pago nos primeiros meses de 2021. Embora ele esteja sendo pago, atinge um número menor de famílias e foi reduzido em um período em que observamos o aumento da inflação de itens básicos como alimentos, gás e luz”, afirmou.
Fecomércio aconselha consumidores a planejar orçamento
Para evitar o aumento do nível de endividamento e a perda de crédito que dificulta o consumo, a economista da Fecomércio aconselha as famílias a planejarem o orçamento. Ela explica que é preciso saber quanto dinheiro a família conta e quantos têm condições de gastar antes de contrair débitos.
“Antes de fazer alguma dívida, é preciso analisar a real necessidade deste endividamento. Como ainda estamos enfrentando a pandemia e a certa insegurança em relação aos empregos, é melhor só assumir dívidas que sejam muito importantes e que caibam no orçamento”, aconselhou.
Ouça a rádio de Minas