Economia

Endividamento e inadimplência têm queda na capital mineira

Endividamento e inadimplência têm queda na capital mineira
Tendência a curto prazo é de que nível de endividamento continue elevado devido às obrigações do início de ano | Crédito: Charles Silva Duarte/Arquivo DC

O número de endividados belo-horizontinos registrou um ligeiro recuo entre dezembro de 2021 e o início de 2022: de 88,9% para 88,8% dos entrevistados pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG).

Além de indicar que o 13º salário foi utilizado para quitar dívidas, os dados do levantamento reforçam uma tendência de estabilidade do endividamento, que vinha de uma sequência de aumentos seguidos no ano passado.

Entre novembro e dezembro, o número de consumidores belo-horizontinos endividados aumentou 0,2 ponto percentual, atingindo 88,9% da população – o maior percentual registrado pela série histórica, iniciada em 2014.

“No acumulado de 12 meses, nós temos um aumento muito expressivo, de 21% no endividamento. Durante todo o ano de 2021, a gente teve aumentos significativos, como por exemplo entre os meses de agosto (84,8) e setembro (87,5)”, esclarece a economista da Fecomércio-MG, Gabriela Martins.

Segundo a pesquisa, com o pagamento do 13° salário, os consumidores mineiros usaram a renda extra para quitar compromissos financeiros, fazer compras à vista e investir na poupança. “Um outro fator que explica esses resultados são os empregos temporários de final do ano. Eles empregam pessoas que estavam em situação de desocupação ou de subocupação, gerando renda para as famílias e, consequentemente, para o pagamento das dívidas”, explica a economista.

O indicador de inadimplência também apresentou redução, saindo de 39,0% em dezembro do ano passado para 38,2% em janeiro de 2022, representando uma queda de 0,8 ponto percentual. Para Gabriela Martins, essa atitude dos consumidores é positiva. “É preciso adotar uma postura de consumo mais consciente e usar o planejamento financeiro como aliado, evitando assim um cenário de endividamento e não cumprimento dos gastos assumidos”, aconselha.

A tendência a curto prazo é de que o endividamento se mantenha elevado, levando em conta as obrigações do início de ano, como o pagamento de impostos, matrículas e material escolar, viagens e outros gastos característicos desta época, aponta a economista. “E com base no comportamento dos meses anteriores, a expectativa é de que os níveis de endividamento se mantenham estáveis, sem oscilações tão significativas”, completa a economista.

Crédito consignado 

Considerando as famílias com dívidas pendentes, 37,6% afirmaram que não terão condições de honrar, no próximo mês, os compromissos assumidos, permanecendo, dessa forma, inadimplentes. O atraso de pagamento das dívidas está em torno de 63,2 dias. Para 45,6% das famílias, os atrasos somam 90 dias ou mais. As dívidas duram em média 6,4 meses e comprometem, em média, 30,5% do orçamento mensal.

O principal compromisso financeiro assumido pelos consumidores continua sendo o cartão de crédito. Em janeiro, 81,2% dos entrevistados utilizaram dessa modalidade de pagamento. Na sequência, aparecem o carnê e o cheque especial, com percentuais de 20,7% e 8,3%, respectivamente.

A pesquisa mostra ainda que, em janeiro de 2022, 6,1% das pessoas endividadas tinham a modalidade de crédito consignado como forma de dívida. Em dezembro de 2021 este percentual era de 5,2%.

O volume de recursos consignados, porém, aumentou sensivelmente no País: 14% entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021. Essa modalidade de empréstimo, concedida a quem tem salário, aposentadoria ou pensão creditados em conta corrente, atingiu R$ 513,5 bilhões contratados em dezembro de 2021 – segundo o Banco Central, é o maior valor já registrado no crédito consignado.

Para o economista Paulo Bretas, coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed-MG), o aumento no volume de empréstimos consignados revela um contexto ainda mais negativo. “Os funcionários públicos por terem estabilidade e salários tiveram que arcar com muitos problemas de redução de renda nas famílias. Não tenho esses dados, mas tudo indica que muitos se endividaram para ajudar familiares”, presume Bretas. 

Empresário do varejo está menos confiante

Rio de Janeiro – Depois das altas verificadas em dezembro e janeiro, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) caiu 1,2% em fevereiro, embora ainda permaneça na zona de confiança, com 119,3 pontos. Os dados foram divulgados ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

De acordo com a CNC, a taxa quase eliminou o crescimento de janeiro, de 1,4%. No acumulado do ano, o aumento é de 0,2%. No mesmo bimestre do ano passado, houve diminuição de 2,7%. O Icec dessazonalizado se manteve na zona de satisfação pelo oitavo mês seguido e se igualou ao nível de setembro do ano passado.

Os três componentes do indicador e os nove subfatores apresentaram queda em fevereiro, pessimismo verificado pela última vez em abril de 2021, quando o Icec registrou taxa negativa de 6,4%, diante do quadro de incertezas e restrições impostas pela pandemia da Covid-19, com o índice caindo para 95,7 pontos. Ao longo de 2021, houve oscilações no índice, com tendência de alta acompanhando a vacinação da população contra a Covid-19 e a reabertura do comércio.

O pessimismo no mês foi influenciado pelo aumento na energia elétrica e nos combustíveis; o reajuste dos aluguéis; a pressão nos preços no atacado; dificuldades de repasse dos custos; consumo morno e famílias endividadas; mercado de trabalho em recuperação; juros ascendentes e inflação.

“Nessas condições, as estimativas hoje são de baixo volume de faturamento do comércio varejista em 2022. Noutro sentido, promissoramente, tem-se as perspectivas de arrefecimento da inflação, à medida que a política monetária vem gerando efeitos desejados na economia, em particular sobre a atuação do comércio e a formação dos preços ao consumidor”, explica a CNC.

A maior queda entre os componentes do Icec ocorreu nas expectativas empresariais dos comerciantes, com redução de 1,6%, impactada pela percepção negativa da conjuntura sobre a empresa (1,9%). O indicador das condições atuais do empresário teve queda de 1,4%, ficando em 100,4 pontos. Entre os subfatores, as condições da economia tiveram a maior variação, com queda de 2,4%.

Em termos regionais, o pessimismo foi disseminado por todo o País. “Os comerciantes da Região Sul apresentaram maior queda da confiança (1,7%), enquanto no Norte o índice foi onde menos decresceu (0,5%)”, aponta a CNC.

Por porte de empresas, as de menor porte ficaram em 119,2 pontos, com um nível de confiança abaixo das de maior porte, que bateram 124,6 pontos. O subindicador das condições atuais do empresário do comércio (Icaec) ficou indiferente, por causa das empresas de menor porte (100,3 pontos), enquanto as de médio e grande portes ficaram com confiança em nível superior, nos 107,8 pontos.

Por categoria de uso, as empresas de bens duráveis tiveram queda de 2,7% na confiança, devido à alta dos juros. Os segmentos de semiduráveis e o de não duráveis caíram 0,3%.

A intenção de investimentos teve queda de 0,9%, com a diminuição da confiança em se implementar gastos de investimentos na empresa, que caiu 1,9%.

O subindicador de estoques caiu 0,1% e ficou em 88,9 pontos, devido às dificuldades em calibrar o nível de produto com a demanda. As intenções de contratação de pessoal caíram 0,4%, refletindo as expectativas para os próximos meses da economia. (ABr)

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