Endividamento é crucial para fechamento de lojas físicas, além da concorrência com e-commerce

O endividamento das empresas tem sido mais determinante para o fechamento das lojas físicas do que a forte concorrência com o e-commerce, sobretudo devido à alavancagem realizada durante a pandemia. Na época, a taxa básica de juros (Selic) alcançou patamares historicamente baixos, o que incentivou as empresas a buscar crédito, no entanto, ela sofreu uma série de aumentos em cerca de um ano até chegar nos atuais 15% ao ano.
A subida íngreme da Selic no final do período pandêmico impulsionou de sobremaneira o endividamento dos negócios e ainda hoje coloca em risco a sobrevivência das lojas físicas nos centros comerciais. Junto a isso, fatores como falta de administração e de modernização, mudança de comportamento do consumidor e o próprio desenvolvimento do e-commerce agravam a situação para a continuidade dos negócios. A análise é do economista da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de Minas Gerais (FCDL-MG), Vinícius Carlos.
Ele relembra que, na época da pandemia, a Selic chegou a 2% ao ano (a.a.), patamar que foi mantido por mais de um semestre. Em apenas um ano a taxa de juros subiu para 11,75% a.a. e, entre oscilações mais para cima do que para baixo, chegou aos atuais 15% a.a., o maior nível alcançado pelo Banco Central (BC) desde julho de 2006.
O pagamento do crédito que as empresas buscaram naquele período encareceu muito e rapidamente, o que tem onerado o já alto custo operacional das lojas físicas até hoje, afirma Vinícius Carlos. Ele explica que os estabelecimentos têm despesas recorrentes como aluguel, folha de pagamento e manutenção da própria loja, que não entram na conta do mundo das vendas on-line.
“De 2% para 15% tem um pulo muito grande, fora o spread bancário, que tem um custo operacional muito forte”, ressalta o economista da FCDL. “E essas mudanças são no cenário sociopolítico e econômico. A política interfere demais na questão na econômica. Tem várias interferências que levam essa escolha de manutenção de juros altos, porque o cenário flutuou demais”, observa.
Além disso, ele destaca ainda que o próprio consumo mudou após a pandemia, o que surpreendeu as lojas físicas. O economista da FCDL-MG acrescenta que aconteceu uma queda no fluxo de clientes nos shoppings, em razão das facilidades oferecidas pelo e-commerce que atraem muitos consumidores.
Para ele, o empresário do varejo deve estar presente em todos os canais, pois dessa forma, ele consegue diminuir os riscos. “Quando os riscos são diluídos, a operação trabalha melhor”, completa.
Lojas físicas não podem esperar
Além da presença em todos os canais de venda, o economista aponta que o lojista de um estabelecimento físico tem de construir um plano de ações, com mudanças na atuação do negócio para tentar sobreviver no mercado. “O lojista não pode esperar. Essa questão de esperar foi muito prejudicial para alguns, porque o cliente também mudou, foi para o lado digital, se a loja digital for mais básica e mais barata, ele vai para a loja digital”, observa.
Os lojistas que não se reestruturaram e não buscaram aumentar suas possibilidades de venda, acabaram fragilizados no período pós pandêmico. Esses empreendedores agora têm que lidar com o endividamento alto e a forte concorrência do e-commerce, segmento que nos últimos anos aperfeiçoou muito a logística, um de seus principais entraves.
“Você vem de um cenário de uma pandemia muito forte, que já impactou muito todo o mundo e, na hora de tentar ressurgir, sobreviver e tentar fazer diferente, o cenário não foi um desenho tão linear. Ele ainda está exigindo muita cautela. A gente ainda não conseguiu sair desse processo de restauração”, analisa.
O economista destaca que a sobrevivência das lojas físicas dependerá da capacidade de se adaptarem a novas condições, com tecnologia, redes sociais e experiências. “Aquelas que não se adaptarem às novas exigências do mercado, não trabalharem melhor o endividamento, atração de clientes, nichos de produto, vão estar mesmo em risco de falência. É um cenário desafiador, mas que se bem trabalhado, pode trazer bons resultados”, finaliza.
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