Entidades empresariais mineiras repudiam ataques à democracia

Um dia após os atos golpistas em Brasília, entidades representativas de diversos segmentos em Minas Gerais criticaram as ações violentas e se manifestaram por meio de notas. A Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas) informa no texto que repudia veementemente os atos de destruição ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal. “Manifestações violentas, partam de onde partirem, devem ser repelidas e condenadas severamente, sendo que os responsáveis devem ser punidos de acordo com os devidos preceitos legais. Esse tipo de ação jamais será aceita dentro do âmbito democrático”, diz o presidente da entidade, José Anchieta da Silva, em trecho do texto.
A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Estado de Minas Gerais (FCDL-MG), com nota assinada pelo presidente da entidade, Frank Sinatra Chaves, reitera a importância da estabilidade democrática do País, do respeito às leis e à Constituição Federal. “Nós não somos contra as manifestações legítimas e organizadas. O que não pode acontecer é a desintegração dos nossos objetivos primordiais, que poderiam resultar em ações positivas para o País, em detrimento da violência e destruição dos valores sócio-políticos. O equilíbrio é a chave da nossa evolução no momento”.
Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), entidade representativa do setor de comércio e serviços da capital mineira, com quase 14 mil associados, atentados como os que aconteceram no último domingo precisam ser investigados e todos os envolvidos punidos urgentemente. “O respeito à democracia é fundamental para que uma sociedade se desenvolva”, diz.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) ressalta, por meio de nota, que repudia os atos de vandalismo e de agressão realizados na sede dos três poderes. “A entidade sempre defendeu e defenderá a liberdade de expressão e o direito à manifestação de todo e qualquer indivíduo, desde que praticados de forma pacífica e democrática. Ações hostis, como as que se viram, precisam ser investigadas, julgadas e punidas, seguindo o rito legal e as normas constitucionais, que devem ser cumpridas por todos nós, cidadãos brasileiros, sem qualquer distinção”.
No texto, a entidade frisa o seu compromisso com a legalidade e a democracia. E acrescenta que presta solidariedade aos profissionais de imprensa, servidores e agentes da segurança pública que foram agredidos no cumprimento de seu dever e atividade.
A Fundação Dom Cabral (FDC) aponta que repudia “todos os atos violentos que agridem os valores mais profundos da República, pilares da organização da sociedade democrática”. A nota assinada pelo presidente do Conselho Curador da FDC, Mozart Pereira dos Santos, além do cofundador, Emerson de Almeida, e o presidente executivo, Antonio Batista da Silva Junior, destacam que a FDC acredita na paz, na justiça e no diálogo para encontrar os caminhos do desenvolvimento sustentável e inclusivo da sociedade.
Setor agropecuário
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) fez uma defesa do setor contra as declarações que associam o agronegócio às invasões ocorridas em Brasília e que tacham o setor de “maldoso e fascista”. “Tal afirmativa não representa a realidade do nosso trabalho. A entidade não compactua com qualquer tipo de ataque que coloque em risco a democracia brasileira e defende a necessidade de apuração rigorosa dos fatos e punição dos envolvidos”.
A entidade ainda diz na nota que, historicamente, os produtores rurais manifestam-se de forma pacífica e em defesa da ordem. “Jamais com atos de quebradeira, típicos de outros segmentos. Somos produtores rurais conscientes das nossas responsabilidades com o alimento que produzimos, com o meio ambiente – mantemos 66,3% do nosso território preservado – e com a sociedade”. A Faemg reforça que não silenciará diante de ataques aos produtores rurais e que continua atenta e vigilante aos fatos.
Cultura
Já a nota assinada pelo presidente da Academia Mineira de Letras (AML), Rogério Faria Tavares, a entidade manifesta de forma veemente repulsa aos “atos terroristas praticados em Brasília contra o Estado Democrático de Direito, na firme expectativa de que seus instigadores, autores e financiadores sejam punidos com os rigores da Lei. A democracia é para sempre!”
REPÚDIO E REFORÇO NA SEGURANÇA
A Assembleia Legislativa de Minas (ALMG) classificou as ações do último domingo de “atos terroristas”, condenáveis por si, e destacou que o posicionamento do Legislativo mineiro é de extremo repúdio. E cobrou providências rápidas, enérgicas e eficientes.
“Levando em conta os sinais de alerta de invasão em instituições democráticas, informamos que a segurança no entorno da ALMG está sendo devidamente reforçada. Reiteramos que a democracia e a liberdade são símbolos de nosso Estado e qualquer concessão que estimule ações contrárias a esses valores não pode existir”.
Nacional
O Sistema CNT destaca que repudia publicamente os atos criminosos ocorridos em Brasília. Ontem (9), em ofício enviado ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber; ao presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco; e ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o presidente da CNT, Vander Costa, manifestou solidariedade e indignação.
“O Sistema CNT, formado pela Confederação Nacional do Transporte, pelo Sest Senat e pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística), une-se aos poderes constituídos da República para demonstrar sua indignação e desprezo em relação aos atos antidemocráticos e golpistas em Brasília, e para reafirmar sua solidariedade e máximo respeito às instituições atacadas”, destaca Vander Costa. Ele afirma que o Sistema CNT repudia com veemência tais atos criminosos e se une às demais instituições democráticas do país no desejo de que a justiça seja feita, com a identificação e punição exemplar dos responsáveis conforme determina a lei.
Investimentos estrangeiros não devem ser prejudicados
LEONARDO LEÃO
As invasões às sedes dos três poderes que ocorreram no domingo (8), em Brasília, não devem prejudicar os investimentos estrangeiros no Brasil, de acordo com especialistas do mercado financeiro. Para o analista de investimentos da Mirae Asset, Pedro Galdi, os efeitos só foram notados no início de ontem (9). Enquanto o CEO e fundador da Belo Investment, Paulino Oliveira, afirmou que o acirramento das divergências já era esperado pelo mercado devido ao clima de tensão política no País.
Oliveira acredita que é “muito improvável” que esses “ataques terroristas” ocorridos Ca capital federal possam resultar em fuga de investimentos no Brasil. Ele explica que o “episódio” já estava “precificado” pelo mercado, pois, já existia o risco de um acontecimento parecido ao ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, acontecer aqui no País após a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O CEO ainda diz que essa invasão aconteceu mais tarde do que era esperado, já que o clima de tensão e de polarização política já estava em patamar mais elevado com os bloqueios de estradas e acampamentos em frente a quartéis, por exemplo. “O mercado sempre trabalha na expectativa, sempre trabalha antecipando os movimentos”, analisa o executivo da Belo Investment.
Para exemplificar, ele cita que o índice Bovespa apresentou um “leve crescimento” de 1,6%, que está sendo puxado por uma diversidade de ativos que estão majoritariamente em alta. Portanto, esse acontecimento possui uma maior relevância no espectro político do que econômico. Já no ponto de vista de mercado, a invasão em Brasília serviu para confirmar as expectativas de que essa polarização deve perdurar por muito tempo e, por isso, deverá ser trabalhada pelo novo governo.
Assim como Oliveira, o analista de investimentos da Mirae Asset Corretora também avalia que, apesar da gravidade do ataque, o mercado financeiro já absorveu os efeitos da invasão ao longo do dia, “inclusive com a nossa bolsa de valores revertendo para o positivo”, complementa Galdi. Para ele, os reflexos do acontecimento só foram percebidos na abertura de ontem (9).
Galdi também entende que a ação ainda não terá impacto nas decisões das empresas, assim como, não deverá afastar investidores estrangeiros do mercado de ações brasileiro ou de investimentos diretos no país. Ele lembra que somente para este ano já estão contratados R$ 82 bilhões em investimentos. Logo, o País deve continuar no radar desses investidores.
Baseado no atual momento político do Brasil, o CEO da Belo Investment conta que existe uma série de empresários mais ligados ao bolsonarismo e à direita que têm feito comentários sobre uma possível redução nos investimentos, mas essas declarações são em função do governo Lula e não, necessariamente, ligadas a essa invasão.
Ele lembra que, por ser de esquerda, o atual governo tende a ser mais intervencionista e menos pró-mercado e, portanto, esse posicionamento possui mais relevância nas decisões das empresas de investir em novos projetos e dar continuidade àqueles já existentes que o evento de domingo (8), “A polarização já existia. Por isso, não espero nenhum efeito material”, declara Oliveira.
Manutenção de recursos
Quanto ao risco dos investidores estrangeiros desistirem de alocar recursos no Brasil por causa dessa invasão, o CEO lembra que o País já sofre com problemas de imagens e de percepção sobre o risco jurídico, além de ainda ser visto como uma nação em desenvolvimento, com instituições mais frágeis e, portanto, com menos segurança de contrato, demandando um retorno maior para compensar os riscos do investimento. “Isso não muda, pode ter – tendo em vista a atenção que esses eventos chamaram dentro da mídia internacional – algum impacto de curto prazo, mas quando a gente olha com profundidade, é mais uma continuidade e repercussão de uma polarização”, aponta o CEO da Belo Investment.
O analista de investimentos da Mirae Asset afirma que uma mudança radical no mercado financeiro nacional só poderá acontecer se o novo governo realizar mudanças estruturais na economia que possam gerar riscos e afetar o setor fiscal do Brasil. “Aí,sim ,poderíamos ter impacto”, completa Galdi.
Já Oliveira reforça que os ataques em Brasília não terão grandes efeitos a médio e a longo prazos no mercado. Para ele, o fortalecimento de um governo de esquerda que tem feito indicações voltadas a esse espectro político – apesar de se declarar mais ao centro – e que deve atuar de maneira mais intervencionista na economia, gerando uma “competição” por recursos com a iniciativa privada, pode causar um efeito distributivo importante, mas de eficiência ruim e, portanto, um resultado negativo no ponto de vista de crescimento econômico.
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