Economia

Escalada do conflito no Oriente Médio amplia especulações e volatilidade de preços do petróleo

Especialistas analisam como tensões no Oriente Médio influenciam o barril de petróleo, as ações da Petrobras e os preços dos combustíveis no Brasil
Escalada do conflito no Oriente Médio amplia especulações e volatilidade de preços do petróleo
Foto: Divulgação Petrobras

O agravamento do conflito no Oriente Médio, especialmente após os recentes ataques dos EUA e Israel contra o Irã, tem elevado o risco geopolítico e causado fortes oscilações no preço do petróleo, afetando diretamente o comportamento das ações da Petrobras. Embora a rota estratégica do Estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 20% da produção mundial — ainda não tenha sido bloqueada, o receio de uma escalada militar já movimenta os mercados.

Segundo a agência de notícias Reuters, nesta segunda-feira (23), os contratos futuros dos petróleos Brent e West Texas Intermediate (WTI) recuaram quase 6%, após o Irã atacar bases militares americanas no Catar sem comprometer o fluxo de navios petroleiros, o que reduziu parte do “prêmio de risco” incluído nos preços.

Especialistas apontam volatilidade no preço do petróleo no curto prazo

Para o diretor executivo da Excelia Consultoria, Eduardo Campos, os efeitos da guerra no Oriente Médio no curto prazo ainda são especulativos. Para ele, o maior risco viria de uma possível tentativa do Irã de bloquear o Golfo Pérsico — hipótese considerada improvável por analistas.

“No curto prazo, os preços do petróleo serão afetados mais por movimentos especulativos no mercado de futuros do que efetivamente como um reflexo à escassez. No médio prazo, é possível que, caso o Irã siga adiante com sua ameaça de bloquear a rota de escoamento do petróleo pelo Golfo Pérsico, dentro de algumas semanas o mundo passe a lidar com alguma redução na oferta efetiva de petróleo”, explica Campos.

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A análise é compartilhada pelo economista da Newton Paiva Wyden Franz Petrucelli. Ele lembra que o Estreito de Ormuz continua sendo um ponto sensível. “Qualquer notícia sobre ataques ou retaliações pode causar picos nos preços. E qualquer ameaça ou bloqueio a essa passagem pode levar a um aumento drástico e imediato dos preços”, ressalta.

Ações da Petrobras exigem cautela com oscilação do petróleo

Em um ambiente de preços oscilando, os reflexos sobre a Petrobras são duplos. De um lado, a sensibilidade da Petrobras aos preços do petróleo em cenários de tensão geopolítica permanece e ações da estatal tendem a se valorizar.

“Seguindo a tendência especulativa, as ações de empresas produtoras de petróleo, fora do raio de influência do conflito, tendem a se valorizar”, afirma Eduardo Campos.

Por outro lado, a política de preços mais flexível e a constante vigilância sobre a interferência governamental também estão no radar do mercado.

“A escalada do conflito pode impulsionar os preços do petróleo e, consequentemente, as ações da Petrobras, mas a incerteza inerente ao cenário geopolítico volátil significa que os investidores precisam estar preparados para flutuações rápidas e significativas”, reforça Petrucelli.

Já o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG) Gelton Pinto Coelho Filho destaca a importância estratégica da estatal em momentos de crise global.

“A crise é exatamente o momento em que se reforça a importância da Petrobras. É uma empresa de porte mundial, então a tendência é que ela se valorize nesse momento”.

Política de preços da Petrobras ajuda a conter impacto interno

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Crédito: Diego Vara/Reuters

O atual modelo de precificação da Petrobras busca reduzir a volatilidade dos preços no mercado interno. Segundo Campos, por ser uma empresa de economia mista, a Petrobras tende a ter uma posição mais conservadora e que privilegia a proteção da soberania e segurança no fornecimento do mercado local.

“O atual modelo busca eliminar os efeitos especulativos de curto prazo. Dessa forma, se os efeitos das guerras no Oriente Médio se restringirem à esfera especulativa, não devemos perceber efeitos muito elásticos no preço praticado no mercado brasileiro”, diz.

Interferência política segue como risco para investidores da Petrobras

No entanto, o risco de interferência política ainda preocupa investidores. Franz Petrucelli alerta que esse cenário impacta a atratividade das ações para o médio e longo prazo, especialmente pela imprevisibilidade regulatória.

“É importante notar que o governo brasileiro tenta buscar um equilíbrio delicado. Os preços de combustíveis elevados têm um impacto direto na inflação e no custo de vida da população, gerando pressão social e política”, relata.

O conselheiro da Corecon-MG lembra que a trajetória dos preços de combustíveis no Brasil tem sido de queda. “Já faz mais de três anos que a Petrobras não amplia os preços, pelo contrário, vem provocando redução de preço dos combustíveis”, destaca Gelton Coelho.

Alta nos combustíveis pode pressionar a inflação no Brasil

Segundo analistas, o risco de pressão inflacionária é real. Um eventual aumento nos preços dos combustíveis pode afetar toda a cadeia logística nacional. “Qualquer alta mais significativa no preço dos combustíveis gera um efeito cascata de repasse de custos e, como resultado final, aumenta a pressão inflacionária”, explica Eduardo Campos.

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Crédito: Francis Mascarenhas/Reuters

Comprar, vender ou manter ações da Petrobras durante o conflito? Especialistas orientam

Para o investidor, a dúvida persiste: é hora de comprar, vender ou manter? A recomendação, segundo os especialistas, depende do perfil de risco.

“Se não há previsão de necessidade do recurso alocado nas ações da Petrobras no momento, o melhor é manter a posição. Eventuais efeitos perenes tendem a ser positivos para a Petrobras e a oportunidade de comprar mais ações em movimento de valorização poderá ser percebida dentro de algumas semanas ou meses a depender do resultado das investidas dos EUA no conflito”, sugere Campos.

Já Franz reforça que, para perfis mais tolerantes ao risco, a volatilidade atual pode ser uma janela de oportunidade.: “Se é um investidor mais otimista e com alta tolerância ao risco, manter ou até comprar pode fazer sentido”.

Gelton completa: “Empresas desse porte têm retorno de longo prazo. É muito importante reforçar essa solidez da empresa e a capacidade de enfrentamento de crises”.

* Com informações da Agência Reuters

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