Economia

Tarifaço aumentará perda de R$ 21,5 bi em Minas e acordos do Mercosul podem amenizar impacto, diz Fiemg

Projeções da Fiemg apontam uma redução de 2% no PIB estadual no longo prazo em um cenário em que todas as exportações brasileiras para os EUA sejam taxadas em 50% a partir de agosto
Tarifaço aumentará perda de R$ 21,5 bi em Minas e acordos do Mercosul podem amenizar impacto, diz Fiemg
Foto: Reprodução Adobe Stock

Uma escalada do conflito comercial entre Brasil e Estados Unidos, após o mais recente tarifaço imposto pelo presidente norte-americano, Donald Trump, tem potencial de agravar intensamente as projeções da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) para a economia mineira, que já estimam uma perda de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro no longo prazo, entre cinco e dez anos, o que corresponde a cerca de R$ 21,5 bilhões.

A estimativa é de um cenário em que as tarifas sejam mantidas como estarão a partir de agosto – taxas de 50% sobre todas as exportações brasileiras -, mas a entidade industrial aponta que o PIB do Estado pode ser impactado em até 6% – o equivalente a R$ 63,8 bilhões, caso o cenário piore. Acordos comerciais do Mercosul com blocos econômicos e países, de forma isolada, podem contribuir para reduzir os danos das tarifas trumpistas na economia estadual.

O economista-chefe da Fiemg, João Pio, observa que o tom adotado pelos governos brasileiro e norte-americano aumentou a tensão entre os dois países. Com ameaças de retaliação comercial de parte a parte, a entidade projetou, além do cenário atual, outros três cenários hipotéticos que projetam uma escalada no conflito diplomático por meio de mais tarifas.

No primeiro, o Brasil responde ao tarifaço de Trump com tarifas de 50% aos produtos norte-americanos. Na segunda hipótese, os EUA reagem e tarifam as importações brasileiras em 100%. Por fim, uma retaliação brasileira com tarifas iguais aos produtos da maior economia do mundo, resultaria também em quedas expressivas do investimento estrangeiro direto (IED) no País – de 40% dos investimentos que vêm dos EUA e 30% do resto do mundo.

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O impacto no mercado de trabalho, no longo prazo, evolui da perda de 263 mil empregos na primeira hipótese e até chegar a 443 mil postos de trabalho a menos na terceira. Mantido como está atualmente, o tarifaço deve gerar a perda de 187 mil empregos em Minas Gerais entre cinco e dez anos.

“O principal do nosso estudo é que ele mostra que uma eventual escalada da guerra comercial é extremamente prejudicial para a economia brasileira. Ou seja, a melhor alternativa diante de tal cenário é realmente partir para uma diplomacia, uma negociação, e o Brasil tem argumentos para isso”, declarou o economista-chefe da Fiemg.

O primeiro argumento, segundo Pio, é, primeiramente, o já conhecido superávit comercial de mais de US$ 400 bilhões que os Estados Unidos acumulam no comércio bilateral com o Brasil há 15 anos, mas que Trump desconsiderou ao justificar o tarifaço pela existência de um suposto déficit na relação comercial com a economia brasileira.

O segundo é o fato dos produtos nacionais exportados aos Estados Unidos serem, em geral, complementares ao setor produtivo da potência econômica, ou seja, não competem diretamente com os produtos fabricados em território norte-americano.

Acordos do Mercosul podem minimizar impactos do tarifaço

O economista-chefe da Fiemg ressalta que o impacto do tarifaço de Trump em Minas Gerais tende a ser relativamente maior do que na economia nacional como um todo, já que os produtos fabricados no Estado são mais sensíveis à taxação dos EUA do que a média nacional, sobretudo no setor siderúrgico e cafeeiro.

Além da diplomacia, o economista-chefe da Fiemg destaca que a procura por novos mercados pode ser sim uma alternativa para reduzir o impacto das tarifas norte-americanas, principalmente caso não sejam revertidas, mas, em um cenário tão incerto, é difícil traçar possibilidades.

“O ambiente atual é de extrema incerteza. Você não sabe se as tarifas vão ser 50% e travar em 50%. Isso que preocupa mais. Até para procurar outros mercados, precisa ter um pouco mais de clareza nas ações e, hoje, o ambiente, infelizmente, é de maior incerteza”, explica.

Acordos comerciais do Mercosul com blocos como a União Europeia (UE) e a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA, na sigla em inglês), em estágios avançados, e com o Canadá, uma possibilidade aventada pelas autoridades canadenses e brasileiras neste ano, podem ajudar a reduzir o dano das tarifas de Trump na economia estadual.

“Poderia sim, não só minimizar o impacto das tarifas americanas, mas também criar novas possibilidades de negócio. Comércio sempre é positivo. Se você ampliar o comércio, independente da situação, isso sempre será positivo para a economia”, argumenta Pio.

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