Escassez de terrenos em Belo Horizonte impulsiona expansão imobiliária em Nova Lima

Enquanto Belo Horizonte registra queda nos números de comercialização de lotes, o município de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tem atraído a atenção de algumas construtoras mineiras.
De acordo com o levantamento Data Secovi, houve reduções consecutivas superiores a 20% na compra de terrenos em Belo Horizonte nos últimos dois anos. A tendência deve se manter até dezembro.
A capital mineira registrou 253 lotes comercializados ao longo do primeiro semestre deste ano, segundo a pesquisa, realizada pela Câmara do Mercado Imobiliário e pelo Sindicato da Habitação de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG).
Para o gerente de novos negócios do Grupo EPO, Guilherme Teixeira, o plano diretor da Capital e a dificuldade de encontrar bons terrenos em Belo Horizonte contribuíram para impulsionar os negócios imobiliários na cidade vizinha.
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“A tendência de escapar do elevado valor dos terrenos nas centralidades de Belo Horizonte e a dificuldade de estabelecer negócios imobiliários com os terrenistas da Capital têm influenciado fortemente a busca por Nova Lima. É uma realidade de todas as incorporadoras”, destaca.
Para se ter uma ideia, ao considerar apenas os bairros Vila da Serra, Vale do Sereno e Vale dos Cristais, a Prefeitura de Nova Lima registrou um aumento de R$ 3 milhões na arrecadação de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) entre 2020 e 2023.

A construtora EPO está acompanhando a evolução dos bairros do município como receptores do mercado de alto padrão e, especialmente, quanto à infraestrutura de parques empresariais, hospitais, áreas de lazer e comércio.
“É inegável que as fronteiras de crescimento se expandindo já são uma realidade, especialmente para o Vale do Sereno e a região do Alphaville. Por isso, valorizamos também a oportunidade de explorar áreas com potencial marcante e descortinar novas paisagens. O resultado disso é um desenvolvimento positivo para toda a região metropolitana”, reitera Guilherme Teixeira.
Dentre as áreas de atuação da empresa está o Vale do Sereno, que conta com empreendimentos imobiliários e com investimentos voltados para o desenvolvimento de espaços públicos. “O Vale é um exemplo de como um bairro pode ser elevado para outro patamar”, disse.
O gerente de novos negócios do Grupo EPO afirma ainda que, contornando o que os números de Belo Horizonte estampam, a marca mantém um robusto estoque de terrenos para projetos futuros com planejamento para até depois de 2030.
Empresários do setor culpam legislação de BH por debandada de empreendimentos
Quanto às construções residenciais, algumas imobiliárias da Capital apontam como problema as rígidas restrições impostas pela legislação municipal de Belo Horizonte. Essa questão, somada à escassez de terrenos adequados, engrossa o desafio para a construção.
O vice-presidente da Emccamp Residencial, André Campos, aponta para uma diferença marcante nas restrições da capital mineira para o desenvolvimento urbano.
“Se considerarmos um terreno de metragem e topografia iguais, em São Paulo é possível construir três torres. Já no Rio de Janeiro, duas torres são permitidas. Em Belo Horizonte, no entanto, a legislação restritiva só autoriza a construção de uma única torre na mesma área”, diz.
Para ele, essas limitações são resultado de um conjunto complexo de regras sobre afastamentos, geometria e coeficiente de aproveitamento que, em comparação com outras cidades, são excessivamente rígidas e burocráticas.
É por isso que, visando superar esses desafios, alguns empresários têm buscado expandir os investimentos para outras praças onde o ambiente é mais favorável.
A participação dos empreendimentos da Emccamp Residencial em Minas Gerais sofreu uma queda nos últimos anos. O percentual da participação de lançamentos caiu de 35%, em 2020, para 14% no ano passado. Já na primeira metade deste ano, a empresa não registrou lançamentos no Estado.
Campos defende que a revisão das legislações urbanas é capaz de corrigir a dificuldade nos processos de compra e venda, além de garantir melhores condições de geração de arrecadação imobiliária para Belo Horizonte.
“A capital mineira, que serve como referência para muitas cidades do interior, precisa adotar normas mais modernas e eficientes”, afirma.
O vice-presidente da Emccamp também ressalta que a Capital depende fortemente da arrecadação imobiliária para financiar o orçamento. “Um plano diretor eficiente poderia não apenas melhorar a qualidade de vida na cidade, mas também gerar maiores receitas para o município”, aponta.
Preço dos imóveis em BH pode ‘explodir’
Além disso, em um cenário em que a capital mineira se destaca pelo intenso ritmo de obras, aquecendo os mercados de construção civil e imobiliário no Estado, a falta de terrenos disponíveis para novas construções é uma realidade que já acende uma preocupação, emergindo como um verdadeiro imbróglio, conforme aponta o gerente comercial da Somattos Engenharia, Aurélio Rezende Nogueira.
“Estou com o edifício Casa Aleixo para ser lançado no bairro de Lourdes, que é uma raridade de localização. Inclusive, a cidade está cheia de obras acontecendo ao mesmo tempo, porém, estamos vivendo um momento em que a falta de terrenos é impressionante em Belo Horizonte. Com isso, o preço dos imóveis, em cinco anos, vai explodir, o que pode dificultar para quem pensa em comprar um imóvel. Enquanto isso, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) só demora para aprovar os empreendimentos”, critica.
O que diz a PBH
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que os marcos temporais do novo Plano Diretor criaram uma grande demanda para a realização de edificações na cidade, impactando os prazos tanto em 2022, quanto em 2023.
Ainda segundo o poder Executivo municipal, de acordo com a Lei 9.725/2009, o prazo legal atribuído para aprovação de projetos de edificação, levando em conta todo o processo, pode chegar a até 140 dias.
Em nota, a PBH também informa: “Em 2024, a média de aprovação de projetos pela prefeitura tem sido de 66 dias, considerando casos com mais de um exame. No entanto, o prazo de licenciamento pode ser reduzido para 41 dias quando o profissional apresenta um projeto que está em conformidade com a legislação municipal vigente”, conclui.
* Colaborou Dione AS
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