Economia

Especialistas creem em boa aceitação do mercado a nomes de Lula para Economia

Exceção é em relação a Fernando Haddad, que, para economistas, sinalizaria ao mercado que a Pasta focaria mais em políticas somente sociais
Especialistas creem em boa aceitação do mercado a nomes de Lula para Economia
Lula ainda não bateu o martelo sobre ocupante de cargo | Crédito: Carla Carniel/Reuters

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realiza as primeiras reuniões para o processo de transição entre os governos. Para pautar um possível retorno do chamado Ministério da Fazenda, a cotação de Fernando Haddad para ser o próximo ministro da pasta segue em uma crescente. No entanto, há possibilidade de outros nomes, como Rui Costa e Alexandre Padilha, também integrantes do PT.

Para ocorrer a definição de um possível nome, especialistas econômicos sugerem que o governo precisa garantir uma relação de equilíbrio tênue com o mercado internacional. O analista econômico e docente da Faculdade Arnaldo Janssen, Alexandre Miserani, acredita que haverá uma reação favorável do mercado diante dos nomes cotados. “Logo depois da eleição do Lula, vimos a reação do mercado financeiro. O dólar caiu em relação ao real, ou seja, a moeda real valorizou e, além disso, tivemos a alta da Bolsa, que voltou depois de quase quatro ou cinco meses. Ela passou do patamar de 120 mil pontos. Esse comportamento já sinaliza uma reação”.

O professor explica que o Brasil sofreu nos últimos quatro anos com a questão da credibilidade institucional, tendo o País espantado de forma direta os investimentos estrangeiros. “Espantamos investidores que aplicavam no mercado brasileiro. Por outras razões também, não só pela pela descredibilidade institucional, mas também pelo próprio problema econômico mundial, fruto da questão da pandemia. Entretanto, alguns países estão conseguindo reagir. Um indicativo forte desse movimento é que o Banco Central manteve a taxa básica de juros Selic em 13,75%. Isso demonstra que o próprio Banco Central não acreditou na reação econômica brasileira nesse período”. 

Segundo Alexandre Miserani, os nomes cotados podem favorecer o cenário político econômico. “Esses nomes são fortes, são nomes de pessoas com credibilidade e que possuem competência. Há uma expectativa de reação bastante positiva do mercado internacional. Enfim, vamos trabalhar bem para isso. É exatamente o que não vimos na gestão do Paulo Guedes, no meu ponto de vista. Mas vemos agora que o Lula está sendo convidado para encontros mundiais e sendo apoiado por uma série de lideranças internacionais. Isso tudo no pacote tem efetivamente uma força muito grande para uma reação econômica”, avalia.

Fatores analisados pelo economista e professor da faculdade Una Divinópolis, Jefferson Thompson reforçam que os nomes são assertivos para a definição da pasta. “Esses nomes são de pessoas que o mercado já tem no radar. Ao meu ver, teremos um governo de esquerda com alguns posicionamentos bem interessantes frente ao mercado, mas não chega a chamar de mercado liberal. No entanto, será um posicionamento muito voltado para a pauta econômica de fato e ao mesmo tempo voltado para a governança corporativa pública”. 

Haddad enfrenta resistência na cena financeira

Em termos de cenário financeiro e empresarial, Fernando Haddad é um nome que não agrada na visão do economista e professor de Finanças do Ibmec Rio de Janeiro, Gilberto Braga. “Não agrada na medida em que ele representa o chamado PT histórico. Tanto é que a sua posição como ministro seria um trampolim para uma candidatura presidencial como sucessor do presidente Lula. Então isso sinaliza para o mercado que o Ministério da Economia ou da Fazenda, caso seja recriado, seria muito mais voltado para as políticas somente sociais. Seria sem comprometimento com austeridade fiscal e com teto de gastos. Então, sugere um direcionamento mais populista com futuro proveito eleitoral”, analisa.

Braga descreve que o mercado não vê com bons olhos um nome puro do sangue do PT ao possível cargo. “Em relação aos outros dois mencionados, tanto o Rui Costa quanto o Alexandre Padilha, o mercado não tem grandes amores, mas também não tem grandes restrições. Até porque entendem que por não serem economistas de carreira, eles teriam uma atuação muito mais de articuladores políticos”. 

“Nesse sentido, tentando corrigir uma deficiência  que foi a tônica do atual ministro da economia, Paulo Guedes, e muito respeitado pelo seu mandado pelo mercado, pelo empresariado. Ele não tinha traquejo político e várias propostas naufragaram por falta de viabilidade no Congresso Nacional. Então, esses outros dois nomes, diria que há uma possibilidade de aceitação melhor pelo empresariado quanto ao que seria o resultado das políticas econômicas”, acrescenta o docente do Ibmec.

Articulação política

Independentemente do nome que for indicado para comandar a economia, o escolhido terá que ter inicialmente uma grande capacidade de negociação com o Congresso Nacional, é o que defende o economista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Sayar. “Veja, por exemplo, no governo de Itamar Franco, já tivemos o Fernando Henrique Cardoso como o Ministro da Fazenda”. 

“No primeiro governo de Lula, foi o Antônio Palocci, que é um médico e foi ministro da Fazenda. Ambos foram muito bem sucedidos, e nenhum deles economistas. Contudo montaram uma boa equipe e tiveram uma boa capacidade para dialogar com o parlamento para compreender as necessidades de organização das contas públicas e se municiar de bons economistas. Eles foram capazes de compreender os problemas e de propor políticas”, entende Sayar.

Diante do que segue propalado na imprensa nacional e internacional de que o atual presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) pode deixar o pleito com uma dívida interna brasileira de R$ 43 bilhões, Alexandre Miserani completa: “Não vai ser fácil para a equipe do Ministério da Fazenda resolver este cenário de uma forma imediata. Isso vai levar um tempo até porque as promessas de campanhas foram muito incisivas. Incisivas no sentido de manter os R$ 600 de auxílio emergencial, de aumentar a alíquota do imposto de renda e de tirar a obrigatoriedade de declarar imposto para quem ganha até R$ 5 mil”. 

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