Economia

Estudo avalia impacto da pandemia nos negócios

Estudo avalia impacto da pandemia nos negócios
Crédito: Pixabay

WayCarbon, empresa brasileira especializada em serviços e produtos focados na transição para a economia de baixo carbono, e a Fundação Dom Cabral anunciam o desenvolvimento de um estudo envolvendo pesquisadores acadêmicos e mais de 100 líderes  de grandes empresas como AES Tietê, Ecorodovias, MRV, Natura e Tigre, com o objetivo de avaliar o impacto da pandemia para os negócios.  

Chamado Era da Resiliência: A pandemia como laboratório corporativo, o estudo evidencia as potenciais transformações estruturais dessa nova etapa da nossa economia e aponta as principais recomendações para os negócios. 

Segundo o levantamento, a busca pela multidisciplinaridade de olhares na solução de problemas pautou a composição dos comitês de crise instaurados na pandemia. As áreas mais representadas foram a financeira e recursos humanos, seguidas pelos departamentos de operação, jurídico e sustentabilidade/área social. Em mais de 50% dos comitês, foram identificados a representação direta dos colaboradores (RH) e o olhar de outros stakeholders (área de sustentabilidade).  

Para o diretor do Núcleo de Sustentabilidade da FDC e responsável pelo estudo, Heiko Spitzeck, “a frase do nosso colega professor da FDC Paulo Vicente nos inspirou muito “O mantra dos últimos anos foi performance. Agora, o mantra é resiliência”, este estudo buscou entender exatamente como a sustentabilidade nas organizações se torna um dos principais pilares de resiliência no mundo corporativo”, salienta. 

Sobre a percepção dos respondentes em relação à agilidade e à qualidade da comunicação interna, o estudo apontou uma melhora de 50% durante a crise, assim como o acesso às lideranças, que conseguiram deixar as prioridades estratégicas mais claras em até 30% dos casos.  

De acordo com os dados, 55% das empresas consultadas disponibilizaram competências para apoiar a sociedade durante a pandemia. Já 31% disponibilizou sua rede ou capacidade logística já existentes, mesmo percentual das que disponibilizaram infraestruturas organizacionais e, 48%, o tempo de seus funcionários.  

De acordo com o diretor de consultoria da WayCarbon, Henrique Pereira, novos desafios surgirão no mundo pós-pandemia, mas as mudanças já observadas em muitas empresas apontam para um caminho promissor. “A crise atual pode ser o ponto de partida para uma sociedade mais comprometida com as questões ambientais, sociais e de governança”, explica o executivo.  

Além disso, a cultura digital das empresas foi eleita como um dos principais diferenciais competitivos na crise, garantindo a continuidade operacional do negócio para 82% dos respondentes, assim como as boas relações com fornecedores e clientes – 67% e 58% respectivamente.  

Mais de 50% dos respondentes esperam melhorias na reputação da empresa e na confiança dos colaboradores. Há, também, expectativa de ganhos na confiança dos clientes, no relacionamento com a comunidade e na confiança com os fornecedores – 44%, 41% e 31%, respectivamente. 
 

Principais conclusões do estudo e reflexos no mercado corporativo 

  • Liquefação das fronteiras organizacionais: As empresas estão substituindo uma visão cartesiana dos limites físicos de uma organização por uma visão mais fluída e amplificada das responsabilidades e do território de atuação. Com isso, há uma transformação das redes corporativas, dos relacionamentos com os stakeholders e das informações que compõem sua base de conhecimento.  
    • A Ecorodovias, em parceria com outras empresas do setor, implementou o pagamento via aproximação e a distribuição de tags, pelas quais os caminhoneiros não pagam nem instalação, nem mensalidades durante os primeiros 12 meses, mitigando o risco de contaminação pelo contato com o dinheiro físico, além de promover campanhas de vacina contra a gripe, distribuir kits de higiene e instalar postos de saúde para pronto-atendimento. “Somos parceiros cuidando da logística, prestando um serviço essencial para o Brasil. Só no momento de novas concessões somos concorrentes, depois viramos parceiros”, pontua Marcelo Guidotti, CEO da Ecorodovias. 
  • Ampliação dos Critérios de Sucesso: Essa transformação sinaliza que a avaliação dos resultados corporativos e o conceito de sucesso de um negócio se ampliam e tomam uma nova forma. Trata, então, da incorporação de aspectos não financeiros aos critérios de resultado, repensando, com isso, a maneira como os negócios são avaliados. 
    • No começo da pandemia, a Ambev criou o Squad do Bem, que contou com 80 pessoas de diversas áreas para sugerir ações de apoio à sociedade. Como resultado, a companhia se juntou a outros nomes do mercado para construir 100 novos leitos no Hospital do M’Boi Mirim e integrar a campanha #ApoieUmRestaurante, além de produzir álcool em gel e faceshield em suas fábricas. “Saímos fortalecidos pelo reconhecimento de que implementamos ações que foram capazes de ajudar a sociedade”, avalia Carla Crippa, VP de Assuntos Corporativos da Ambev. 
  • A dominância da verdade organizacional: Para que as empresas consigam navegar pelas incertezas utilizando os elementos dinâmicos desse novo contexto, nos parece fundamental que as transformações estruturais de liquefação das fronteiras organizacionais e ampliação dos critérios de sucesso estejam internalizados no propósito e na cultura organizacional.  
    • Nos últimos cinco anos, a MRV vem investindo na digitalização dos negócios e, em 2019, criou um lab para fortalecer a cultura de inovação entre os colaboradores. Com a pandemia, engajou cerca de 100 profissionais para expandir sua existente plataforma de vendas digital na jornada virtual de compra de um imóvel, além de fomentar o app “Mão na Roda”, que estimula a conexão entre moradores para a troca de produtos ou serviços, e a Escola de Síndicos, um canal no YouTube, que apoia a capacitação em gestão de condomínios e administração predial, garantindo a segurança das operações por meio de inovação e tecnologia. “A companhia como um todo, executivos e colaboradores, amadureceram e entenderam a importância da empresa para a sociedade”, afirma Eduardo Fischer, CEO da MRV.   

Recomendações

Diante das lições aprendidas e compartilhadas, quatro recomendações estratégica são feitas para as lideranças, de modo que os negócios sejam conduzidos à maior resiliência e geração de valor na nova era iniciada em 2020:  

Repense a fronteira do seu ecossistema de negócios e a rede de stakeholders relevantes para sua organização: Atenção aos desafios coletivos, nacionais e internacionais, bem como às formas como vêm sendo endereçados fora de sua fronteira organizacional e identifique como trabalhar com parceiros estratégicos de negócio para gerar valor.   

Identifique os elementos core do seu modelo de negócio e saiba como utilizar sua capacidade estratégica e estrutura corporativa para gerar valor: Identifique o que sua organização sabe fazer muito bem e os elementos essenciais do modelo de negócio para fortalecer a agenda de inovação, testando conceitos e realizando experimentos para a solução de desafios imediatos e futuros. 

Revisite suas métricas de resultado: Vincule o sucesso da sua empresa com melhorias de desempenho em aspectos ambientais, sociais e de governança, a partir da definição de metas e KPIs.  

Revisite o propósito da empresa e implemente uma cultura de transparência e adaptação: Utilize o exemplo das lideranças para integrar uma visão ampliada de solução de problemas à cultura organizacional, criando condições para conectar as ações e soluções à estratégia, visão e propósito do negócio. 

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas