Ex-presidente defende frente ampla em 2022

São Bernardo do Campo – A principal pergunta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que o Supremo Tribunal Federal anulou suas condenações, a de se será ou não candidato em 2022, ficou sem resposta ontem, mas o ex-presidente deixou claro que acredita em uma frente para as próximas eleições e vai trabalhar por ela.
“Minha cabeça não tem tempo de pensar em candidatura”, disse, respondendo a uma das perguntas durante os quase três horas de discurso e entrevista na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
Lula disse que “seria pequeno” se estivesse pensando no momento em 2022, e que o PT como partido vai pensar na próxima eleição quando chegar o momento das convenções se terá uma candidatura ou se tentará uma frente ampla.
“Precisamos esperar chegar o momento de a gente discutir e escolher candidato que vai se decidir, se vai ser possível ter candidatura única ou se vai ser possível ter várias candidaturas ou uma única candidatura de esquerda”, disse Lula. “Vamos discutir se vamos ter um candidato de uma frente ampla”, acrescentou.
Em mais de um momento, Lula indicou que quer sim trabalhar por uma frente ampla, mas que esse tema só pode ser discutido no ano que vem.
“Estou convencido de que uma aliança será possível. Por isso, é preciso ter paciência”, afirmou.
Durante toda a sua fala, Lula usou um tom mais conciliador e mais de centro do que vinha adotando desde sua prisão, em 2018. O ex-presidente reforçou, mais de uma vez, que deixou a Lava Jato para trás e que não guarda mágoas.
“Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas sou eu, mas não tenho. Sinceramente eu não tenho porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando, o sofrimento que as pessoas pobres estão passando neste País é infinitamente maior do que qualquer crime que cometeram contra mim”, afirmou.
Em meio a sua fala, Lula se colocou claramente como antagonista do presidente Jair Bolsonaro, mas deixou as portas abertas para o diálogo com outras forças políticas além da esquerda. Disse, mais de uma vez, que está aberto para conversar com todas as forças políticas.
Ao ser perguntado se uma frente poderia incluir outros partidos além de PCdoB, PSOL e outros de oposição, Lula disse que isso não seria uma frente ampla, mas uma frente de esquerda, e que seria preciso agregar outros partidos.
“É possível construir programas que envolvam também setores conservadores. Mas se colocar na frente a questão eleitoral, trunca qualquer conversa. Uma frente com PT, PSOL, PCdoB é de esquerda não tem nada de frente ampla. Frente ampla é se a gente conseguir conversar com outros setores. É possível”, disse.
O ex-presidente acrescentou que espera dedicar o restante da vida a andar pelo País e a conversar com todos os setores da sociedade para discutir soluções para a crise que o País atravessa.
“O Brasil tinha um projeto de nação, de soberania, de cidadania, é pela construção desse sonho que eu me sinto muito jovem para brigar muito”, afirmou Lula em pronunciamento antes da entrevista coletiva.
“Desistir jamais, isso não existe no meu dicionário”, afirmou.
Anulação – Lula convocou a entrevista coletiva após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular na segunda-feira todas as condenações impostas a ele pela 13ª Vara Federal de Curitiba no âmbito da operação Lava Jato, medida que devolve ao petista seus direitos políticos e poderá, se mantida, embaralhar a sucessão presidencial de 2022.
O ex-presidente disse que sempre teve certeza que chegaria o dia de deixar claras as “inverdades” imputadas a ele.
Lula lembrou que há quase três anos se entregou à Polícia Federal para evitar figurar como fugitivo e para poder provar, da prisão, que era vítima da “maior mentira jurídica” do País.
“Tomei a decisão de me entregar porque não seria correto um homem da minha idade, com a história construída com vocês, aparecer na capa dos jornais como fugitivo”, disse Lula.
“Tinha tanta confiança e tanta consciência do que estava acontecendo no Brasil, que tinha certeza que esse dia chegaria, e ele chegou”, afirmou. (Reuters)
Venda de ativos da Petrobras é questionada
Brasília/ São Bernardo do Campo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou ontem que as empresas que estão “comprando coisas da Petrobras” deveriam ficar com medo, porque muito pode ser mudado caso o PT volte ao governo.
Ao ser questionado sobre a reação do mercado à possibilidade de que agora, livre de condenações em segunda instância, ele possa ser candidato à Presidência em 2022, Lula lembrou que o mercado conviveu com ele durante oito anos no governo e mais seis anos da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, durante todo esse período o País tinha previsibilidade e credibilidade.
“O que o mercado quer? Quer ganhar dinheiro com investimento em coisas produtivas? Tem que gostar de mim. Agora, se o mercado quiser ver às minhas custas vendendo patrimônio nacional tem que ter medo de mim sim”, disse. “Quem tiver comprado coisas da Petrobras é melhor ter medo mesmo porque podemos mudar muita coisa.”
Lula defendeu ainda as empresas estatais e se disse contrário a privatizações, além de criticar a independência do Banco Central, aprovada no mês passado pelo Congresso. “É melhor o BC estar na mão do governo do que estar na mão do mercado”, afirmou.
Ao mesmo tempo, o ex-presidente fez acenos ao centro e ao próprio mercado. Afirmou que tem diferenças com a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mas que sempre esteve disposto a conversar e não vê razões para terem medo dele.
“Não tenham medo de mim. Eu sou radical porque quero ir à raiz dos problemas”, disse, completando: “Eu era chamado de conciliador quando governava.”
Lula desdenhou, ainda, do chamado “risco de polarização” apontado pelo mercado como um dos problemas de um eventual cenário Lula x Bolsonaro nas eleições de 2022.
“O PT polariza desde 1989. Isso significa que o PT é muito grande, não pode deixar de polarizar”, disse o ex-presidente, lembrando que o partido esteve em primeiro ou segundo lugar em todas as eleições desde 1989.
Segundo Lula, o que não pode acontecer é casos como o que chamou de “erro do PSDB”, que resistiu a reconhecer o resultado das eleições de 2014. “Aquilo deu em Bolsonaro”, afirmou. (Reuters)
Bolsonaro volta a fazer críticas ao petista
Brasília – O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou sua campanha presidencial para 2022, mas destacou que o petista comemora cedo demais a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de ter anulado condenações contra ele, porque a medida ainda deve ser submetida ao plenário da Corte.
Em entrevista a jornalistas, Bolsonaro disse que a campanha de Lula é baseada em “criticar, mentir e desinformar”. O presidente mencionou o fato de o ex-presidente não ter apontado casos de corrupção no Ministério da Economia, ao contrário do que ocorreria no governo dele próprio, que seria “baseado na corrupção”, segundo Bolsonaro.
“Que governo foi esse? Foi o governo cuja maior marca foi o desmando e a corrupção, e voltado para o populismo”, disse Bolsonaro.
“Ele não sabe o que fala, não tem argumentos e vai ficar aí tagarelando não sei por quanto tempo”, acrescentou.
Mais cedo, em pronunciamento seguido de entrevista coletiva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula fez duras críticas ao governo de Bolsonaro, em sua primeira fala pública após a decisão de Fachin de anular as condenações sofridas pelo petista no âmbito da operação Lava Jato de Curitiba. (Reuters)
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