Energia elétrica: expansão pode colocar em risco potencial limpo de geração em Minas

A expansão da capacidade de geração de energia elétrica indica que o Brasil, curiosamente, pode estar redirecionando sua geração de eletricidade para uma matriz mais poluente, a reboque do crescimento de usinas eólicas (EOL) e solares fotovoltaicas (UFV), mas com abandono de grande potencial em hidrelétricas (UHE), principalmente em Minas Gerais.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Estado foi o quarto do País com a maior ampliação da matriz de eletricidade neste ano até maio, com 463,23 megawatts (MW) acrescidos na sua capacidade de geração. O número representa 11,8% da ampliação total do Brasil em 2025, de 3,9 gigawatts (GW).
A expansão mineira é um pouco menor que a do Mato Grosso do Sul, de 485,13 MW, e da Bahia, com 514,20 MW, e bem atrás do Rio de Janeiro, com mais de 1,6 GW. A expansão no estado fluminense é resultado do início da operação da maior usina termelétrica (UTE) movida a gás natural no País, a UTE GNA II, com capacidade de 1,7 GW.
A Aneel aponta que 84,42% dos 212,3 GW de potência fiscalizada nas usinas atualmente em operação, no País, é fruto de fontes renováveis, enquanto 23,42% é oriundo de UTE – percentual este que pode aumentar no futuro.
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Até maio deste ano, as termelétricas representavam 30,28% de todas as usinas de energia em construção no País, praticamente o dobro da participação de usinas eólicas (15,9%) e um pouco abaixo do percentual de solares fotovoltaicas (41,13%). Já as hidrelétricas representam apenas 0,35% de todas as usinas de energia em construção no Brasil.
Em Minas, os dados da Aneel apontam 208 projetos de usinas termelétricas de biomassa devem entrar em operação até 2031, contra apenas 16 de fontes hídricas. Além disso, 88 hidrelétricas estão registradas, mas sem previsão de operação.
Para o consultor de mercado e energia da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Pataca, os dados da Aneel mostram que o País tem perdido seu foco em fontes renováveis na geração de energia.
Ele aponta que, para suportar o aumento do fornecimento de energia intermitente no Sistema Interligado Nacional (SIN), advindo das usinas eólicas e solares, o Brasil tinha duas opções para energia de base: a expansão de hidrelétricas, com reservatório, ou as termelétricas a gás, um caminho considerado “mais fácil”, mas mais poluente.
As termelétricas são os empreendimentos realmente viáveis para investidores, avalia Pataca, já que contam com mais facilidade do que hidrelétricas, como área de operação pequena, construção mais simples e possibilidade de localização próxima a áreas de exploração de combustíveis fósseis, como o gás natural. Além disso, o licenciamento ambiental é mais rápido do que para uma UHE, que demora em geral uma década ou mais para sair.
“A gente está lutando para expandir cada vez mais a eólica e a solar, que é o correto, mas contrabalanceando essa intermitência com energia suja. Com isso, estamos poluindo nossa matriz elétrica; é ilógico”, critica o consultor da Fiemg.
Ele destaca o potencial hídrico para geração de energia, de usinas com reservatório, como um potencial “abandonado”, principalmente pela demora no licenciamento ambiental, em autorizações, e uma demonização das hidrelétricas no cenário nacional de energia.
“A expansão do parque hidrelétrico com reservatório hoje é nula, enquanto a gente está optando pela energia de base, ao invés de hidrelétrica, de fonte renovável, que, sim, pode ter um impacto inicial na sua construção, mas não emite poluentes e é 100% nacional. Ou seja, estamos escolhendo uma energia de base poluente. É um caminho ilógico”, reforça.
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