Economia

Fabricante de pás para geração eólica aposta na política ambiental de Biden

Fabricante de pás para geração eólica  aposta na política ambiental de Biden
Crédito: REUTERS/Paulo Whitaker

São Paulo – A fabricante brasileira de pás para energia eólica Aeris espera se beneficiar nos próximos anos de uma onda de investimentos em renováveis prometida pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, disse à Reuters o CEO da companhia.

A empresa, que fez uma oferta inicial de ações (IPO) em novembro que movimentou R$ 1,13 bilhão, já exporta parte de sua produção e tem como clientes grandes fornecedores globais de turbinas eólicas, como a dinamarquesa Vestas, a norte-americana GE e a alemã Nordex, além da local Weg.

“Com a vitória do Biden, e agora com a vitória dos democratas no Senado, obviamente isso impulsionou todo o setor eólico, todo o setor de renováveis, porque é até difícil prever o que virá de demanda, dado todo o ´pacote´ que ele está prometendo», disse o presidente da Aeris, Alexandre Negrão.

Ele avalia que expectativas com o próximo governo dos EUA e a crescente preocupação de investidores com sustentabilidade, governança e temas sociais (ESG) têm impulsionado as ações da Aeris, que subiram quase 90% desde o IPO.

A empresa também está otimista com perspectivas no Brasil, onde investidores têm cada vez mais apostado em construir usinas eólicas para vender a produção no chamado mercado livre de eletricidade, onde grandes consumidores como indústrias negociam diretamente contratos e preços com empresas do setor de energia.

“Estamos vivendo um momento muito especial, pensando não só em exportação, mas também pegando uma forte alta no mercado livre (no Brasil). Quem acompanha sabe o quanto cresceu esse mercado nos últimos três anos”, comentou o executivo.

Mas a Aeris, que possui instalações industriais no porto de Pecém (CE), já vendeu pás eólicas para projetos nos EUA, Europa, países da América do Sul, como o Chile, e até para a Austrália.

“O principal mercado é o norte-americano, porque é o maior mercado disparado em relação aos outros. E a Aeris tem uma posição muito competitiva, pelo lugar onde estamos. Pecém é relativamente perto ali de Houston, para onde as pás vão, então a gente chega com preço bem competitivo”, detalhou Negrão.

Em 2019, exportações responderam por 70% da produção. Em 2020, a proporção do mercado local cresceu – mas não por falta de demanda externa, e sim por aceleração no Brasil, disse o CEO.

Ele estimou que apenas empreendimentos eólicos no Brasil deverão representar uma expansão anual de entre 3 gigawatts e 4 gigawatts em potência instalada ao longo da próxima década. A Aeris possui capacidade para produzir pás para 4,5 gigawatts em turbinas eólicas por ano. “Hoje, no Brasil, cerca de 10% da matriz é eólica, ainda tem muito espaço para crescer. E também no mundo”, afirmou Negrão.

A expansão do mercado brasileiro, segundo ele, deve ser guiada agora principalmente por projetos no mercado livre, dada a já verificada redução ao longo dos últimos anos no ritmo de contratação de novas usinas em leilões promovidos pelo governo.

Em 2020, por exemplo, o governo suspendeu licitações para novos projetos de geração devido à crise da Covid-19. Algo semelhante havia ocorrido no final de 2016, mas com outra reação naquela época, lembrou Negrão.

“Em 2016, cancelou o leilão e foi uma péssima notícia de Natal (para investidores em eólica). Agora, quando cancelou ninguém falou nada, não teve nenhuma reação. Isso é um sinal claro que o mercado livre está tomando grandes proporções”, avaliou.

Mercado – A Aeris pretende aumentar a participação no mercado eólico, calculada atualmente em 7% na indústria global, exceto China, e em cerca de 70% se considerados somente projetos no Brasil.

A empresa espera ganhar espaço em meio a um movimento de grandes fabricantes internacionais que buscam aumentar a parcela de pás adquiridas junto a terceiros. “Eles fabricam as próprias pás também, cerca de 50% da demanda total deles fabricam ´dentro de casa´. E já anunciaram que querem chegar a 70% de ´outsourcing´», disse Negrão.

“Temos um objetivo, no médio e longo prazo, de tentar capturar dentro desses clientes uma participação na casa de 20%, 30%, o que acredito que é totalmente factível.”

Para atender essa demanda, a Aeris poderá apostar em expansões, modernizações ou novas unidades, acrescentou o CEO, embora com a ressalva de que a companhia não tem um plano de investimentos relevantes nesse sentido no momento.

Negrão, que também é automobilista com atuação na Stock Car, contou que a entrada no setor de energia veio após sua família ter vendido a participação na farmacêutica Medley, ao ter contato com um grupo de quatro ex-engenheiros da Embraer que procurava um investidor para a fabricação de pás eólicas.

Ele também comentou que a Aeris cresceu mesmo em meio à pandemia da Covid-19, e fechou 2020 com cerca de 6 mil funcionários, de 3 mil no início do ano. “O setor (eólico) se mostrou muito resiliente. Acho que os principais gargalos em 2020 foram do fator logística… não o fator demanda, a demanda continuou muito forte e isso é impressionante”, ressaltou. (Reuters)

CNPE estuda redução nas emissões de gases

Rio de Janeiro – O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deverá publicar no fim de setembro as metas compulsórias anuais de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa para o período 2022-2031 no âmbito do programa RenovaBio, informou em nota ontem o Ministério de Minas e Energia.

Lançado em 2019, o programa federal RenovaBio tem como objetivo ampliar a produção e uso dos biocombustíveis e contribuir com o corte de emissões ao estabelecer compromissos a serem cumpridos por distribuidores de combustíveis.

Segundo a pasta, o chamado Comitê RenovaBio irá se reunir em 10 de junho para depois apreciar dados e deliberar sobre as metas de redução de emissões, que passarão ainda por consulta pública entre 7 de julho a 6 de agosto e têm previsão de serem publicadas em setembro.

Na véspera, a ANP informou que as distribuidoras de combustíveis do Brasil apresentaram, até o fim de 2020, 14.535.334 créditos de descarbonização (CBios), instrumento criado pelo RenovaBio. A cifra corresponde a 97,6% das metas estabelecidas para o período 2019/2020.

O CBio é emitido por produtores de biocombustíveis voluntariamente certificados, com base em sua eficiência energético-ambiental e no volume de biocombustíveis comercializado no mercado nacional. Cada CBio equivale a uma tonelada de emissões evitadas, e o RenovaBio estabelece metas para a compra dos certificados pelos distribuidores.

Responsáveis pela aquisição da maior parte dos títulos em 2019/20, BR Distribuidora, Ipiranga – do grupo Ultrapar – e Raízen, joint venture de Shell e Cosan, cumpriram integralmente suas metas no período.

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