Economia

Falta de mão de obra qualificada afeta polo têxtil de Divinópolis

Sem trabalhadores, crescimento do setor é limitado
Falta de mão de obra qualificada afeta polo têxtil de Divinópolis
Estimativa do setor têxtil é registrar um crescimento de 5% neste ano na comparação com 2021 | Crédito: piksik / stock.adobe.com

O setor produtivo no Polo Têxtil de Divinópolis, na região Centro-Oeste do Estado, precisa de trabalhadores qualificados para conseguir suprir a demanda. No entanto, faltam candidatos para preencher as muitas vagas disponibilizadas pelas empresas da região. Esta é uma dificuldade relatada pelo diretor do Sindicato da Indústria do Vestuário de Divinópolis (Sinvesd), José Francisco Martins. 

Segundo ele, os dois últimos anos, marcados pelo cenário de pandemia, fez com que o consumo por itens de vestuário ficasse reprimido. Contudo, ao passar a maré turbulenta entre o abre e fecha da indústria e do comércio, a realidade é bem outra. “Nós não temos mais problemas com vendas, mas com a produção. Estamos vendendo muito bem por sinal. Tivemos um primeiro semestre com a média equivalente ao que tínhamos de crescimento antes mesmo da pandemia, em 2019, e pretendemos fechar o ano de 2022 com 5% de aumento”, conta.

Martins ressalta que tem notado que esta é uma realidade já de alguns meses na região, e que é uma tendência que será sentida pela indústria de vários setores pelo País. “Isso é um fato. Não tem como focarmos em produzirmos mais, pois a nossa produção está no seu limite”, acrescenta.

Marcada por fechamentos de várias empresas confeccionistas tanto em Divinópolis quanto em cidades da região, a pandemia deixou um legado, conforme pondera o diretor. “Esse legado é sem dúvida a necessidade do mercado pela capacitação. Afinal, o profissional qualificado faz toda a diferença para o crescimento e o desenvolvimento econômico”, diz o diretor.

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Gratuidade  

Como alternativa de solucionar a falta de mão de obra, o Sinvesd firmou uma parceria formativa com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). As entidades lançaram um curso inclusivo para que qualquer pessoa interessada possa se capacitar para poder atuar no setor têxtil. “Nós somos um País muito desorganizado e que investe pouco em treinamentos e cursos. Por isso, criamos essa oportunidade de curso que é ofertado gratuitamente a quem se interessar. Basta procurar a sede do Sinvesd para se inscrever”, detalha Martins.

Panorama 

De acordo com um levantamento realizado recentemente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor industrial no País pode necessitar de 2 milhões de candidatos até o ano de 2025. No entanto, destes, 9,6 milhões terão que fazer algum tipo de qualificação para entrar para a indústria. Os outros 7,6 milhões são de pessoas que já possuem passagens pelo setor da indústria, mas que necessitarão de aperfeiçoamentos e especialização.

“Há empresas identificadas pelo Sinvesd que estão com 50, 20, 15 vagas abertas. Ou seja, os dados que muita das vezes vemos por aí de desemprego não fazem muito sentido, pois na prática emprego temos e são várias oportunidades. O que falta é gente preparada para ocupação”, acrescenta Martins. 

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Presidente do Sinvesd, mas também proprietário da MX72, Mauro Célio de Melo Júnior reforça que há empresas que já encerraram as suas vendas por não conseguirem produzir. “Infelizmente as agendas de todos do setor serão afetadas, e com certeza já estão sendo. Falta mão de obra desde a costureira, arrematadeira, passadeira, estilista, modelista e várias outras funções em várias áreas do setor”, diz.

“É claro que, com a pandemia, muitos funcionários que eram do setor de confecção migraram para outros empregos, para serviços essenciais da pandemia ou foram empreender. Com isso, houve uma defasagem do setor. Estamos tentando com cursos trazer novos funcionários para o setor, mas está lento esse retorno. A nossa dificuldade é imensa e a produção é escassa”, reforça.

Mais dificuldades  

A elevação da cotação do algodão foi outra dificuldade encontrada pelas 500 empresas do setor têxtil regional. Destas, 90% são representadas por pequenos empresários. Antes mesmo da pandemia, o fio penteado de espessura 30.1 muito utilizado na fabricação de itens de vestuário custava em média R$ 16. Hoje, o preço do produto mais que dobrou, ficando com uma variação entre R$ 32 e R$ 39. 

“Esses preços dos produtos, apesar de terem dobrado de valor, já chegaram a ter uma estabilizada pelo que já percebemos. É claro que isso impactou, e de uma forma muito influenciada pelo aumento do preço dos combustíveis”, afirma Martins.

A disparada do preço da gasolina e do diesel, segundo o empresário, impactou de uma maneira muito forte em todos os produtos, o que consequentemente elevou o custo operacional. “Na medida em que o preço dos combustíveis diminuem como já vem ocorrendo, isso permite que o setor volte a sua normalização. Tenho expectativa que o preço dos commodities passem a estabilizar cada vez mais”. 

Expectativas 

Com o foco em vendas totalmente voltado para o mercado interno, para o próximo ano, o presidente Mauro Júnior espera que exista um aumento de profissionais mais qualificados. A expectativa, segundo ele, é que se tenha uma entrada de trabalhadores em preparação, aperfeiçoamento ou com uma régua mais alta de ingresso ao mercado têxtil. “Não faltam oportunidades”, conclui.

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