Falta de infraestrutura ameaça desenvolvimento do Vale do Lítio em Minas Gerais

Com pouco mais de dois anos desde a apresentação oficial do projeto pelo governo do Estado, o Vale do Lítio, dentro do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é encarado como uma das principais oportunidades brasileiras em termos de desenvolvimento. Apesar das oportunidades, a queda no preço global da commodity, somada aos desafios na infraestrutura do País, pode levar empresas a repensar os investimentos na exploração mineral.
A avaliação é do presidente do Conselho do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Wilson Brumer, que participou do congresso de mobilidade verde C-Move, realizado na terça-feira (12) e quarta-feira, 13, em Belo Horizonte. Segundo ele, o setor, impulsionado pela expectativa de crescimento dos carros elétricos, passa um momento de queda nos preços e deve ser repensado como um projeto de longo prazo, acompanhado por avanços em outras frentes.
Além do Brasil, a cadeia mineral do lítio também encontra reservas abundantes em países como Argentina, Bolívia, Chile, Austrália e China. Hoje, o país asiático domina grande parte da produção e processamento global do mineral, exercendo forte influência nos preços e na oferta da commodity.
Para o especialista, o maior desafio brasileiro é transformar o País em um competidor de peso nesse mercado, aproveitando o movimento global de revisão das cadeias produtivas para ganhar relevância. Entretanto, a nova dinâmica também exigiria reformas estruturais internas, especialmente nos campos jurídico e tributário.
“O Brasil é um país de muitas oportunidades, mas precisamos criar um ambiente favorável para a atração de investimentos. Hoje, temos desafios complexos do ponto de vista tributário, além da insegurança jurídica que inibe muitos investimentos”, pontua Brumer.
Para contornar esse cenário, o especialista reforça a necessidade de mobilizar setores públicos e privados em torno de medidas que simplifiquem regras, ofereçam segurança aos investidores e criem bases sólidas para o desenvolvimento sustentável. “Temos problemas a serem resolvidos, precisamos de mais investimentos em infraestrutura, preparação de mão de obra adequada, tornando o País mais simples para o investidor. Até lá, é possível que alguns projetos sejam reavaliados”, ressalta.
Solução passa por políticas consistentes de desenvolvimento econômico em Minas Gerais
Também presente no evento de mobilidade, o superintendente de Política Minerária, Energética e Logística da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), Pedro Sena, reforçou que o custo de produção no Brasil ainda é pouco competitivo. Segundo ele, as mineradoras tendem a atuar onde há vantagem estratégica, mas o cenário macroeconômico atual, com taxa de juros em torno de 15%, torna o investimento ainda mais desafiador.
Além disso, ele considera que a falta de infraestrutura logística para escoamento da produção e a carência de linhas de transmissão e distribuição de energia agravam o problema. “Isso cria barreiras que países como a China já superaram com eficiência, o que reduz significativamente seus custos de produção”, alerta.
Com relação a Minas Gerais, Sena reforça a importância de incentivos fiscais e não fiscais, que são importantes e capazes de dar fôlego no curto prazo, porém reafirma a necessidade melhorias em infraestrutura que permitam o desenvolvimento futuro do Vale do Lítio e de Minas Gerais nos próximos anos. “Os avanços serão possíveis se sustentados por políticas consistentes de desenvolvimento econômico. Esse é um trabalho de longo prazo que já vem sendo priorizado pela gestão estadual”, conclui.
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