Falta de mão de obra impede crescimento do setor de calçados no polo de Nova Serrana

A falta de mão de obra e o cenário econômico têm impactado os resultados do polo calçadista de Nova Serrana, na região Centro-Oeste de Minas. No primeiro trimestre deste ano, o desempenho do setor registrou retração de quase 5% nas vendas se comparado com o mesmo período do ano passado. As informações são do presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Rodrigo Martins.
O polo, que abrange 1,2 mil fábricas em 13 municípios da região, sofre as consequências da queda das vendas do varejo no final de 2024, entre 5% e 10%. Com parte do comércio estocado, a reposição foi prejudicada. “Isso acaba refletindo no desempenho do início do ano, porque o lojista deixa de repor seus estoques”, explica Martins.
Segundo o presidente do Sindinova, esta retração está ligada ao cenário econômico. A pressão inflacionária reduz o poder de compra da população, que acaba deixando produtos como calçados, considerados não essenciais, para segundo plano. “Os consumidores acabam não fazendo dessa compra uma prioridade e migram para produtos mais baratos ou mais simples ou ainda buscam uma segunda opção no caso de presentes”.
Pensando nas empresas que precisam de financiamento, as altas taxas de juros também se tornam um problema. “A taxa Selic nas alturas acaba engolindo boa parte do lucro das empresas, trazendo até a situação de endividamento em alguns casos”, comenta.
Outro problema que o presidente do Sindinova aponta, até como mais preocupante e que tem limitado o crescimento do setor, é a falta de mão de obra. “Já sentíamos falta dela quando todo mundo tinha, imaginem agora que ninguém tem”, enfatiza.
Segundo Martins, os impactos negativos nos resultados das empresas não vêm apenas da diminuição do consumo. Várias delas tiveram que limitar a produção por falta de trabalhadores. “A demanda caiu, mas a capacidade de produção das empresas também diminuiu. O que é ruim até para a arrecadação dos municípios”, lembra o presidente.
O apagão de mão de obra tem feito com que muitas empresas reduzam em até 50% a capacidade de produção. “É difícil segurar uma indústria com a produtividade tão baixa. É uma situação no mínimo delicada”, acrescenta.
Para amenizar esta questão, Martins conta que as empresas têm buscado melhorar seus processos produtivos, buscando opções mais simples, que demandam menos tempo de treinamento e até construindo unidades em outros estados e regiões em busca de mão de obra.
Apesar do cenário, a expectativa, conforme o presidente do Sindinova, é que no segundo semestre o mercado tenha uma melhora. “Historicamente os produtos do verão de Nova Serrana são mais demandados pelas lojas. Então, a tendência é de crescimento no final do ano e de uma melhora no cenário comercial”.
Exportações se mantêm estáveis
Como importante polo exportador para o mercado argentino, o polo de Nova Serrana tem o país vizinho como principal destino das exportações. Entretanto, questões políticas e econômicas internas do país têm limitado o crescimento que poderia ser maior.
“Nosso maior consumidor é a Argentina, mas as exportações estão limitadas por questões internas do país que dificultam maiores negociações”, ressalta Martins.
No entanto, o cenário global também deve impactar as exportações que podem ser menores do que as do ano passado. “Acredito que seja uma questão de cadeia global, com falta de suprimentos e outros impactos como a guerra comercial”, diz.
O escoamento dos produtos chineses é algo que também preocupa o mercado calçadista. “Ainda não impactou, mas a guerra tarifária entre China e Estados Unidos têm preocupado muito nosso setor. Temos nos preocupado com a possível invasão de produtos chineses, caso esses produtos não consigam entrar nos país norte-americano”.
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