Falta de ônibus à noite afeta bares e restaurantes de BH e impacta geração de empregos no setor

A escassez de ônibus em circulação no período noturno está afetando diretamente o funcionamento de bares e restaurantes em Belo Horizonte. Mesmo com demanda e vagas abertas, donos de estabelecimentos enfrentam dificuldades para contratar, reter funcionários e manter o funcionamento no horário desejado. Essas dificuldades ocorrem, principalmente, devido à escassez de transporte coletivo durante a noite.
“Belo Horizonte é a capital dos bares, só que na ‘capital dos bares’ eles fecham muito cedo, antes da meia-noite, porque não tem como as pessoas voltarem para casa”, destacou a vereadora Iza Lourença (Psol), durante audiência pública na Câmara Municipal, realizada na última semana, para discutir o problema com representantes da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), empresas de transporte e entidades do setor.
Segundo a presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Karla Rocha, os relatos dos associados são claros: a falta de transporte à noite tem comprometido tanto o fluxo de clientes quanto a contratação e permanência de funcionários.
“Muitos trabalhadores dependem do ônibus para chegar e sair do trabalho. Com a limitação do transporte, há atrasos, faltas e até dificuldade de retenção de pessoal. Além disso, isso reduz o faturamento e afeta diretamente a operação e a sustentabilidade dos estabelecimentos, sobretudo os que funcionam à noite ou de madrugada”, afirma.
Ela reforça que, embora não haja levantamento quantitativo, muitos estabelecimentos estão deixando de contratar por esse motivo: “O potencial funcionário não consegue voltar para casa após o expediente”.
Ampliação de ônibus noturnos pode gerar mais empregos

Ainda de acordo com a Abrasel, a ampliação das linhas noturnas poderia impactar positivamente o setor, contribuindo de forma significativa para a geração de empregos em bares e restaurantes.
“Com mais linhas operando nesse horário, seria possível ampliar equipes, estender o horário de funcionamento e atender melhor à demanda”, defende Karla Rocha.
A entidade afirma estar em diálogo com a PBH. “O prefeito Álvaro Damião está ciente e atento às nossas demandas, e se comprometeu a resolver o problema de transporte da cidade”, ressalta a presidente. “A principal reivindicação é a ampliação das linhas e dos horários noturnos, visando garantir o deslocamento seguro de trabalhadores e clientes”, completa.
PBH faz pesquisa e promete ajustes em setembro
Em resposta às críticas, a Prefeitura informou que está conduzindo uma pesquisa origem-destino para entender como se dá a mobilidade da população que depende do transporte à noite. O levantamento foi iniciado em 26 de junho e vai até 31 de agosto, com foco nos setores de bares, restaurantes, padarias, shoppings, hospitais e universidades.
“A partir dessa resposta, vamos trabalhar a nossa rede noturna, adequar a rede existente e propor também novas linhas, quando for o caso”, disse o subsecretário de Planejamento da Mobilidade, Lucas Colen, na audiência pública.
Segundo ele, a previsão é que as primeiras mudanças já estejam em vigor entre o fim de agosto e o início de setembro.
A PBH também ressalta que como parte significativa dos entrevistados mora na Região Metropolitana (RMBH), os dados também serão compartilhados com o governo de Minas.
Empresas de ônibus dizem que só cumprem quadro
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) afirma que a definição da programação noturna depende da Superintendência de Mobilidade Urbana (Sumob). “Se for determinado, as empresas colocam os veículos no horário noturno, sem problemas”, destaca o Setra-BH.
Durante a audiência na Câmara, a assessora técnica do Setra-BH, Célia Macieira, revelou dados de queda de 41% no número de passageiros noturnos em relação a antes da pandemia. Segundo números do sindicato, em um mês típico de 2020, 123 mil passageiros faziam uso do serviço, e hoje este total não chegaria a 73 mil. No entanto, o quantitativo de viagens realizadas, ainda segundo o sindicato, teve redução de apenas 3%.
A vereadora Marcela Trópia (Novo), que presidiu a audiência pública rebateu: “O usuário do transporte coletivo noturno ainda não existe aos olhos do Setra-BH, porque, com a baixa oferta, ou ele deixa de circular ou busca alternativas, como carona e aplicativo”.
Fechamento antecipado e insegurança para funcionários
O dono do bar Querida Jacinta, no bairro Santa Efigênia, Vinícius Freitas, é um dos empresários afetados. “Fechamos a cozinha às 22h30 e encerramos o expediente antes do ideal para garantir que os funcionários consigam voltar para casa”, disse. Segundo ele, a situação traz preocupação e ansiedade constante entre os trabalhadores.
Além do setor de bares, a vereadora Marcela Trópia lembrou que a falta de transporte noturno afeta também padarias, hospitais, limpeza urbana, construção civil e outros setores que atuam fora do horário comercial.
“É preciso garantir o direito de ir e vir. Sem ônibus à noite, estamos negando acesso à educação, ao lazer, ao trabalho e à vida na cidade”, completou o vereador Helton Junior (PSD).
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