Economia

Famílias com contas atrasadas atingem maior nível desde 2010

Famílias com contas atrasadas atingem maior nível desde 2010
Endividamento com cartão de crédito permanece como o principal tipo de dívida no País | Crédito: Charles Silva Duarte

Rio de Janeiro – O percentual de famílias com dívidas e/ou contas em atraso apresentou, em fevereiro, o maior patamar desde março de 2010, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada ontem no Rio de Janeiro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

“Alcançando 27% dos lares, o indicador de inadimplência apresentou, em fevereiro, aumento de 0,6 ponto percentual (p.p.) em relação a janeiro e de 2,5 p.p. na comparação com fevereiro de 2021. Já a parcela que declarou não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e, portanto, permanecerá inadimplente, também acirrou na passagem mensal, com aumento de 0,4 p.p., e a proporção chegou a 10,5%, mesmo percentual de fevereiro do ano passado”, disse a CNC.

Segundo a pesquisa, o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa) atingiu 76,6% em fevereiro, retomando o nível apurado em dezembro de 2021. Há um ano, a proporção de endividados era de 66,7%, 9,9 p.p. abaixo do número atual.

Sobre o cenário, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, disse que a escalada dos juros, que encarece o crédito, dificulta a renegociação das dívidas. “O panorama mostra que, na margem, o custo do crédito mais elevado e o próprio endividamento entre as pessoas que vivem no mesmo domicílio dificultam a contratação de novas dívidas e o pagamento dos compromissos na data de seus vencimentos”, disse ele, em nota.

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Para a CNC, os dados do Banco Central mostram que as taxas de juros médias nas linhas de crédito com recursos livres às pessoas físicas aumentaram de 39,4% em janeiro de 2021 para 46,3% em janeiro de 2022. Em contrapartida, as concessões de crédito com recursos livres para pessoas físicas cresceram 13,1% em termos reais na comparação interanual, mas caíram 2,7% em janeiro ante dezembro, na média diária.

Mais dívidas – O endividamento e a inadimplência cresceram entre os dois grupos de renda pesquisados. Nas famílias com ganhos até dez salários mínimos, o percentual de endividados aumentou 0,4 p.p., chegando a 77,8%. Já na parcela com renda acima de dez salários mínimos, a proporção de endividados alcançou maior patamar histórico, 72,2%, com incremento anual de 10,1 pontos.

Entre os indicadores de inadimplência, o percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso na faixa de até dez salários mínimos atingiu o maior nível da série histórica para meses de fevereiro, 30,3%. Um ano antes, essa proporção era de 27,4%. Na parcela com maiores ganhos, o número também aumentou, chegando a 12,6%, o maior percentual desde abril de 2018.

O endividamento no cartão de crédito apresentou a primeira redução entre os endividados desde fevereiro de 2021, mas continua como o principal tipo de dívida no País. Representando 86,5% do total de famílias endividadas, o indicador está 6,5 p.p. acima do percentual de fevereiro de 2021 e ainda 7,9 p.p. maior do que em fevereiro de 2020, antes da crise da pandemia de Covid-19.

Para a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, o encarecimento do crédito no Brasil e a fragilidade apontada no mercado de trabalho devem seguir afetando a dinâmica do endividamento e da inadimplência dos consumidores, especialmente em ano de maior incerteza pelo processo eleitoral.

“Consideramos necessárias e relevantes as alternativas que suportem o pagamento dos compromissos financeiros assumidos e a renegociação das dívidas ou contas não pagas”, afirmou a economista.

Governo sinaliza apoio a reforço em vale-gás

Brasília – O Ministério da Economia passou a demonstrar apoio a um reforço no programa que distribui auxílio gás de cozinha a famílias de baixa renda em resposta ao aumento dos preços do petróleo depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, disseram à Reuters duas fontes da pasta com conhecimento do assunto.

Em meio à tentativa no Congresso de ampliação dessa despesa por fora do teto de gastos, os dois membros do ministério se posicionaram contra a ideia e afirmaram que caso o benefício seja aprovado será necessário cortar outras despesas no Orçamento para compensar a iniciativa.

À medida em que o preço do barril do petróleo sobe a um patamar acima de US$ 110, alavancado pelo conflito no Leste europeu, aumenta a pressão política para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, apoie medidas para conter os preços dos combustíveis, cuja alta afetou fortemente a inflação de dois dígitos no País.

O aumento do Orçamento para o programa de vale-gás faz parte de uma proposta em tramitação no Senado sobre a alteração da apuração do ICMS estadual sobre combustíveis.

A criação de um fundo de estabilização de preços de combustíveis faz parte de outro projeto de lei que tramita na Casa, mas o ministério é firmemente contra, disseram as fontes, destacando que a medida seria muito cara e pouco eficaz.

Na quarta-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que ambos os projetos estarão na mesa para votação na próxima semana.

Segundo uma das fontes, o aumento dos vales de gás é visto como “menos ruim” do ponto de vista fiscal, pois se concentra nas pessoas mais vulneráveis.

O relator do projeto, senador Jean Paul Prates, propôs que o Orçamento do programa dobre este ano, atingindo 11 milhões de famílias, o que exigiria um gasto adicional de R$ 1,9 bilhão.

Na proposta de Prates, essa despesa seria financiada por arrecadação com exploração de petróleo. No entanto, ele sugere que o gasto seja feito por meio de crédito extraordinário, mecanismo que contorna a regra do teto de gastos.

De acordo com as fontes ouvidas pela Reuters, o Ministério da Economia vê a necessidade de cancelar gastos para acomodar essa nova despesa, respeitando o mecanismo que limita o crescimento dos gastos do governo federal.

Há dificuldade de encontrar essas fontes porque as contas deste ano já estão apertadas e há insuficiência de recursos em ministérios, além de pressões por mais gastos em outras áreas, como na busca de reajustes salariais por servidores.

O auxílio gás foi aprovado pelo Congresso em outubro de 2021. O programa concede a cada dois meses 50% do valor médio do botijão para famílias de baixa renda. (Reuters)

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