Economia

Faturamento da mineração pode ficar até 40% menor em 2022

Faturamento da mineração pode ficar até 40% menor em 2022
Crédito: Adobe Stock

O setor extrativo mineral deve encerrar 2022 com faturamento até 40% menor do que o apurado em 2021. Somente no terceiro trimestre deste ano, em Minas Gerais, um dos maiores produtores do País, o faturamento registrado teve uma queda expressiva de 38% frente a igual período do ano passado. O balanço, divulgado ontem, consta no estudo trimestral do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)

Entre julho e setembro do ano passado, a receita do Estado foi da ordem de R$ 47,81 bilhões, enquanto neste exercício ficou em R$ 29,73 bilhões. Por outro lado, na comparação com o trimestre anterior, o setor em Minas teve uma melhora de 19%.

O diretor de Assuntos Minerários e Sustentabilidade do Ibram, Julio Nery, explica que algumas particularidades devem ser avaliadas. Segundo ele, o instituto não avalia o desempenho do Estado isoladamente, mas o setor produtivo como um todo. E diz que, mesmo que tenha havido queda de 38% no faturamento do terceiro trimestre de 2022 sobre o mesmo período de 2021, houve alta no comparativo entre os segundos trimestres de ambos os exercícios, com faturamento em torno de 33% maior. 

O desempenho total da indústria minerária brasileira no terceiro trimestre deste ano foi de R$ 57 bilhões, enquanto de julho a setembro de 2021 o saldo foi de R$ 108,7 bilhões. 

Segundo o estudo do Ibram, Minas, tecnicamente, tem a mesma representação significativa que o Pará, com 39% de participação no faturamento da mineração brasileira. Em seguida, com 4%, aparece o território de Goiás, depois os estados da Bahia, São Paulo e Mato Grosso, com fatias de 3% cada. Outros 9% são compostos por cidades com atividades minerárias nos demais estados do País. 

Julio Nery explica que a queda do faturamento está relativamente ligada à cotação do minério de ferro. “Nós estamos com uma cotação do minério de ferro na faixa dos 40% em relação ao ano de 2021. A substância metálica é um produto que representa 64% do setor produtivo de mineração e qualquer mudança que aconteça acaba mudando bem esse resultado”, explica.

Assim como o minério de ferro foi responsável por 64% do faturamento do setor entre julho e setembro, o minério de ouro consta com 8% de participação, enquanto o minério de cobre representa 5% do total. O calcário dolomítico aparece com 4%, a bauxita com 3%, o granito com 2% e outras substâncias representam os 14% restantes. 

Tributação 

O Ibram também divulgou que a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) teve queda expressiva na arrecadação em relação ao minério de ferro em todo o País. No comparativo de julho a setembro deste ano com o mesmo período de 2021, o produto apurou retração de 43,8%. Neste intervalo do ano passado, a arrecadação do tributo foi de R$ 2,9 milhões, enquanto no mesmo período deste ano o recolhimento foi de R$ 1,6 milhão. 

Assim como o minério de ferro, os minérios de ouro, cobre e outros também registraram baixas. Já a bauxita, apresentou aumento na arrecadação de 44% do terceiro trimestre de 2022 com o mesmo cenário em 2021. Em relação ao segundo trimestre de 2022, o estudo aponta aumentos para ouro, ferro, cobre e bauxita. O saldo total de arrecadações no País foi de R$ 3,2 milhões no terceiro trimestre de 2021, enquanto, no mesmo período deste ano, a soma foi de R$ 1,9 milhão.

No ranking de 12 estados brasileiros com 2.610 cidades que foram beneficiadas com a Cfem no terceiro trimestre de 2022, Minas Gerais aparece no topo da lista, com 502 municípios. A contraprestação paga ao Estado equivale a 59% do recolhimento da exploração mineral de todo o País. Em balanço de arrecadação, a soma total em Cfem foi de R$ 1,96 bilhão de julho a setembro, o que equivale a uma queda de 40,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram recolhidos R$ 3,30 bilhões em compensações. 

Exportações mineiras caem quase 37%

Na balança comercial nacional, cerca de 50% das exportações realizadas são de produtos minerais. Julio Nery compara que as exportações minerais tiveram queda de 36,8% no terceiro trimestre deste ano com o mesmo momento em 2021. Já as importações tiveram alta de cerca de 86,7%. Com isso, o saldo do setor teve queda de 56,7%.

“As exportações minerais no terceiro trimestre de 2022 tiveram US$ 11,62 bilhões, enquanto no mesmo trimestre do ano passado o volume foi de US$ 18,39 bilhões. Em termos de importações, nós exportamos para a China, que é o nosso maior comprador disparado. Esse efeito de queda consequentemente está ligado ao momento em que a China está vivendo e ainda vive, sem sombra de dúvidas, diante dos lockdowns, que de certa forma influenciam o setor. Quanto às importações minerais, no terceiro trimestre de 2021, tivemos US$ 2,55 bilhões. Agora no terceiro trimestre deste ano, o saldo foi superior a US$ 4,77 bilhões”, conta o diretor do Ibram.

Para a China, o setor registrou queda nas exportações, o que representou -43,6% em relação ao terceiro trimestre de 2021, em dólares. No entanto, o aumento foi de 2,9% em toneladas de produtos, dentre eles o caulim, com 135,35% em toneladas e 199,98% em dólares; cobre, com 47,55% em toneladas e 24,31% em US$; ferro, com 3,09% em toneladas e -45,09% em dólares. O manganês registrou queda de  55,22% nas exportações e 29,76% em dólares. 

O nióbio também consta com exportações negativas em 19,63% em toneladas e saldo de -8,12% em dólares. Outras substâncias registraram recuo de 38,01% em toneladas e saldo positivo de 22,49% em dólares. Já no caso de pedras naturais e revestimentos ornamentais, as exportações somam 6,72% em toneladas e 7,60% em moeda americana. 

De acordo com o Ibram, a queda da produção e da demanda de aço na China é um dos fatores que influenciam na definição do preço do minério de ferro e, consequentemente, no desempenho da mineração brasileira em termos de produção e exportação. 

Restrições à produção industrial na China em razão da Covid-19, fenômenos climáticos, como tufões e chuvas intensas, também são considerados influências ao mercado e a produção de aço naquele país. “Também temos as consequências da guerra na Ucrânia que seguem prejudicando o mercado, resultando nas reduções de oferta de minério e crise de energia, reduzindo a produção de aço na Europa”, pontua o executivo.

Resultado eleitoral 

A poucos dias para a definição do novo presidente da República para o próximo quadriênio, Julio Nery não crê que o setor minerador possa sofrer mudanças significativas capazes de interferir na curva de investimentos realizados. 

“Não esperamos grandes mudanças, pois aguardamos que se mantenha a mesma postura atual. Não esperamos também que exista uma fuga de investimentos mesmo que seja definido o governo do Lula para a Presidência. Não esperamos mudanças”, conclui.

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