Faturamento das PMEs avança 9,4% no terceiro trimestre

Após perder o fôlego entre o final de 2022 e o início de 2023, o mercado de pequenas e médias empresas (PMEs) mostra recuperação, com um crescimento no faturamento de 9,4% registrado no terceiro trimestre, na comparação anual. O aumento no segundo trimestre deste ano foi de 6%, enquanto, no acumulado do ano até setembro, o crescimento foi de 5,1% frente ao mesmo período do ano anterior.
Os dados são do Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs), que funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$ 50 milhões anuais, por meio do monitoramento de 678 atividades econômicas que compõem os setores de comércio, indústria, infraestrutura e serviços.
O economista e gerente de indicadores e estudos econômicos da Omie, Felipe Beraldi, explica que tal movimento também tem o maior controle da inflação doméstica como pano de fundo, considerando os efeitos sobre o poder de compra das famílias brasileiras. “Se, por um lado, o ambiente de negócios seguiu afetado pela manutenção das taxas de juros em níveis historicamente elevados, que dificultam o acesso ao crédito, por outro, a resiliência no mercado de trabalho doméstico e diversas medidas de política econômica como a ampliação do Bolsa Família e a valorização real do salário mínimo, culminaram na ampliação da massa de renda das famílias brasileiras, beneficiando a evolução do consumo e, consequentemente, dinamizando a demanda doméstica”, afirma.
Neste contexto positivo, a confiança dos consumidores mantém tendência de alta nos últimos meses, sendo um condicionante para o desempenho do mercado de PMEs no curto prazo. “O índice de confiança do consumidor da FGV (ICC-FGV) atingiu em setembro patamar alinhado ao visto no início de 2014, refletindo especialmente a melhora da percepção das condições atuais das finanças familiares”, diz Beraldi.
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Mercado de PMEs deve manter crescimento acima do PIB em 2024
O levantamento da Omie mostra que a recuperação do mercado de pequenas e médias empresas no País é um dos fatores que têm impulsionado o crescimento da economia doméstica. A evolução da renda das famílias, combinada com o maior controle inflacionário, especialmente sobre bens essenciais como alimentos, são os principais fatores que influenciam o maior dinamismo observado no mercado de PMEs. “Neste sentido, mesmo no comércio, em que observamos retrações nos últimos meses, alguns segmentos altamente dependentes da renda contrastam com a média geral, como o varejo de alimentos e bebidas, mostrando desempenho positivo”, afirma o economista.
Com os resultados acima do esperado nos últimos meses e perspectivas para condicionantes econômicos principais, com base nos dados do índice, Felipe Beraldi projeta um avanço de 5,7% no faturamento das PMEs para este ano na comparação com 2022. Para 2024, a perspectiva de crescimento é de 3,3% ante 2023, novamente acima do desempenho médio esperado pelos agentes do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, atualmente entre 1,5% e 2%.
O especialista avalia que, ainda que a renda doméstica não cresça no mesmo ritmo que o observado neste ano, o maior controle da inflação e a perspectiva de aumento real do salário mínimo devem afetar positivamente a trajetória do rendimento médio real das famílias brasileiras. “Além disso, o efeito da redução das taxas de juros – movimento iniciado pelo Banco Central em agosto deste ano – tende a aparecer de modo mais expressivo no médio prazo para as PMEs, a partir do próximo ano, favorecendo a elevação do consumo e dos investimentos no País”, explica.
A perda de ímpeto da inflação no Brasil é uma boa notícia para os empreendedores, tanto na ponta dos custos de produção de bens ou fornecimento de serviços, quanto na ponta da demanda – já que a inflação elevada corrói o poder de compra dos consumidores.
Setores em destaque no faturamento das PMEs
O avanço do faturamento no terceiro trimestre de 2023 foi puxado pelo avanço da movimentação financeira real na Indústria (+18,7%) e em Serviços (+9,1%), na comparação com o terceiro trimestre de 2022. Segundo o IODE-PMEs, as PMEs da Indústria engataram uma trajetória mais robusta de recuperação a partir do segundo trimestre, reflexo da recuperação da demanda doméstica e da redução da pressão de custos.
No setor industrial, as atividades que se destacaram no terceiro trimestre foram fabricação de autopeças e implementos rodoviários, fabricação de produtos alimentícios, confecção de artigos do vestuário e acessórios e fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos.
O índice mostra que as PMEs do setor de serviços também apresentaram resultados positivos, após avançar também no segundo trimestre (+5,5 % YoY). Segundo Beraldi, a recuperação do setor, inclusive, vem contribuindo para os resultados no mercado de trabalho, uma vez que a maior parte das novas vagas no mercado formal tem sido preenchida por posições no segmento nos últimos meses. O avanço foi atribuído para serviços financeiros, educação e atividades administrativas e serviços complementares.
Já no comércio houve retração de 7% ante o terceiro trimestre de 2022, queda influenciada pelas atividades atacadistas (-4,9% YoY) e no varejo (-5,6%). Apesar da queda em bases anuais, o desempenho do atacado já apresenta alguma recuperação na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No varejo, por sua vez, o fraco resultado dos últimos meses foi puxado pela retração das PMEs de segmentos como ‘equipamentos para escritório’, ‘tintas e materiais para pintura’ e ‘calçados’.
O segmento de infraestrutura também demonstrou queda, de 2,4% no terceiro trimestre. A retração foi impulsionada pelo fraco desempenho das atividades de ‘obras de infraestrutura’ e ‘água e esgoto’. Por outro lado, houve avanço na ‘construção’.
O economista Felipe Beraldi avalia que os desempenhos positivos devem ser sustentados pela continuidade do crescimento das atividades de serviços e, em menor medida, da indústria. Além disso, o contexto econômico de curto prazo deve abrir espaço para a retomada do crescimento do faturamento real das PMEs do comércio.
Na divisão por região, o IODE-PMEs mostrou maior crescimento no Sudeste (+9,8%), seguido pelo Sul (+5,7%), Nordeste (+9,8%), Centro-Oeste (+17,0%) e Norte (+21,3%).
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