Fiemg propõe medidas para reduzir efeitos da pandemia

O comércio exterior tem encontrado uma série de entraves em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Das dificuldades no transporte à queda nas exportações e importações, desafios são o que não faltam nesse cenário.
Diante desse quadro, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), por intermédio do Centro Internacional de Negócios (CIN), produziu um documento com propostas para o setor, de curto e médio prazo.
De acordo com o consultor de negócios internacionais da Fiemg, Alexandre Brito, é muito importante que as empresas consigam um fôlego para realizar renegociações. Sem as medidas, pode haver vários prejuízos.
“É uma situação muito nova. O governo precisa criar condições para que os negócios voltem a uma mínima normalidade. No caso da exportação, isso pode ocorrer de forma mais rápida. Poderá haver uma recuperação no segundo semestre, mas não sabemos se vai conseguir compensar a queda toda; acredito que não. Já a importação, vai depender muito do mercado interno”, pontua Alexandre Brito.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Segundo a entidade, entre as medidas sugeridas estão “a flexibilização das regras para documentos aduaneiros, como o Certificado de Origem, a manutenção do funcionamento de portos, aeroportos e estradas, permitindo o livre fluxo de carga e o despacho de mercadorias”.
Além disso, conforme a organização, foi sugerido, ainda, que “as operações de transporte marítimo na Ásia sejam mantidas, permitindo agilidade na transferência de contêineres que estão parados em portos asiáticos à espera de movimentação e o congelamento das taxas e encargos aduaneiros cobrados de exportadores e importadores em portos, aeroportos e pontos de fronteira”.
Histórico – Os números mostram como o primeiro trimestre deste ano foi de dificuldades para o comércio exterior. Além da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a alta do dólar também impactou os dados do segmento, conforme destaca Alexandre Brito.
Para se ter uma ideia, de acordo com o consultor, houve queda de 13% nas vendas externas do Estado entre janeiro e março deste ano, em relação ao mesmo período de 2019. As importações, por sua vez, registraram um recuo de 6,5% na mesma base de comparação.
Além disso, o segmento vem enfrentando vários desafios. Em relação ao transporte marítimo, por exemplo, quando a contaminação da doença ainda estava muito alta na China, diversos navios ficaram parados com as suas respectivas cargas. Segundo Alexandre Brito, houve um aumento na ordem de 10% a 20% no valor do frete. Já os seguros chegaram a apresentar um avanço de aproximadamente 50%.
O transporte aéreo também está repleto de entraves. Embora não fale em números, Alexandre Brito pontua que o aumento do preço do frete no setor foi ainda maior do que o verificado no marítimo. Além disso, as linhas mistas (que levam passageiros e cargas) ficaram bastante limitadas. Os cargueiros, por sua vez, têm muita demanda para baixa operação/capacidade.
Saldo da balança foi menor no primeiro trimestre
Rio – O saldo da balança comercial em março ficou em US$ 4,7 bilhões, montante que supera o registrado no mesmo mês em 2019, de US$ 417 milhões. No acumulado do primeiro trimestre, o superávit foi US$ 5,6 bilhões, abaixo dos US$ 9 bilhões do primeiro trimestre de 2019. Os resultados são do Indicador do Comércio Exterior (Icomex), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
De acordo com o Icomex, em valor, as exportações aumentaram 10,4% no mês e as importações 10,6%, quando comparadas a março de 2019. Entre os dois primeiros trimestres dos dois anos, no entanto, as exportações tiveram queda de 9% e as importações subiram 4,3%.
O volume dos fluxos de comércio teve variação positiva interanual de 13,0% nas exportações e de 14,6% nas importações na comparação entre os meses de março. De acordo com a FGV, desde outubro as exportações caíram na variação mensal entre 2019 e 2020. O único mês que isso não ocorreu foi em dezembro, mas, ainda assim, ficou estagnada. Já as importações vinham aumentando desde dezembro.
Segundo a FGV, os efeitos da pandemia ainda não aparecem nas estatísticas do comércio exterior, “e isso fica evidente no estudo divulgado na página da Organização Mundial do Comércio (OMC), que estima queda no comércio mundial de 12,9% em um cenário otimista e 31,9% no cenário pessimista”. A FGV lembra, no entanto, que as projeções são preliminares, porque permanecem as incertezas quanto à duração, à intensidade e à expansão geográfica do Covid-19 no panorama mundial.
“Os efeitos não aparecem nas estatísticas da OMC e nem nas do Brasil. As da OMC só vão até 2019 e nas nossas até março de 2020, mas não aparecem na balança comercial brasileira porque tem um tempo nos contratos de comércio de exterior e os embarques. O que se está embarcando agora são contratos feitos antes”, explicou a pesquisadora associada da FGV, Lia Valls.
O estudo da OMC já apontava ritmo de desaceleração do comércio mundial a partir de 2019, em consequência das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. A queda entre 2018 e 2019 ficou em 0,1%.
“O comportamento desfavorável dos preços das exportações significa que o crescimento das exportações fica dependente do aumento do volume, um resultado mais difícil de ser garantido num ano em que se espera uma recessão mundial”, avaliou a FGV.
O volume exportado para o mercado da China e Ásia, excluindo a China e o Oriente Médio, mostra variações positivas na comparação entre o acumulado do ano até março de 2019 e 2020. Conforme o Icomex, em todos os meses do trimestre as exportações cresceram, sendo, nas vendas de soja de 44%, no minério de ferro de 21% e na carne bovina de 116%. (ABr)
Ouça a rádio de Minas