Economia

Setores produtivos de MG veem medidas contra tarifaço como paliativas e insuficientes

Governo federal anunciou pacote emergencial com R$ 30 bilhões em crédito, suspensão de tributos e compromissos de compra pública
Setores produtivos de MG veem medidas contra tarifaço como paliativas e insuficientes
Foto: Reuters/Ueslei Marcelino

Para tentar conter os prejuízos do tarifaço imposto pelos EUA, o governo Lula anunciou, nesta quarta-feira (13), um pacote emergencial com R$ 30 bilhões em crédito, suspensão de tributos e compromissos de compra pública para produtos afetados. Para empresários e entidades representativas do setor produtivo em Minas Gerais, no entanto, as medidas ainda são insuficientes frente à dimensão do problema.

A sobretaxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump aos produtos brasileiros já provoca impactos diretos em setores estratégicos da economia mineira. A medida, em vigor desde a semana passada, atinge cerca de 36% das exportações brasileiras aos Estados Unidos e foi classificada como um movimento político contra o governo brasileiro, segundo a Casa Branca.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) reconhece o esforço do governo federal, mas afirma que o pacote é paliativo. Para o presidente da entidade, Flávio Roscoe, apenas ações estruturais e diplomáticas podem garantir a competitividade das exportações.

“As medidas podem dar algum fôlego às empresas, mas não resolvem a raiz do problema. É urgente que o Brasil mantenha negociações firmes e produtivas com o governo norte-americano, buscando reverter as tarifas e resguardar uma relação comercial estratégica”, afirmou Roscoe.

A Fiemg também alertou para a necessidade de execução ágil das medidas e eliminação de barreiras burocráticas, evitando que o socorro chegue tarde demais ao setor produtivo. A entidade promete seguir monitorando a aplicação do plano.

Setor de pedras preciosas vê medidas como insuficientes

Entre os setores mais atingidos em Minas está o de pedras preciosas e joias. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ourivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas, Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Bijuterias no Estado de Minas Gerais (Sindijoias Ajomig), Murilo de Paula Graciano, as exportações já haviam caído mais de 80% desde a implementação da primeira leva de tarifas, em abril.

“Considerando o cenário de 10% de tarifa, as exportações de pedras preciosas das empresas mineiras para os EUA caíram 80 a 85%. Como advento do tarifaço de 50% ainda não foi possível determinar, mas é fato que já tivemos vários cancelamentos em participações de feiras nos Estados Unidos, onde tínhamos presença marcante”, relatou.

Murilo de Paula Graciano Sindijoias
Foto: Divulgação / Sindijoias

Para Graciano, o pacote do governo pode representar algum alívio no curto prazo, mas não é suficiente. “Esta linha de crédito, se for aplicada com condições diferenciadas, poderá ser um fôlego para as empresas. Obviamente que o governo não terá recursos “ad eternum”, em algum momento, e não será tão longe, as empresas vão sofrer ainda mais com o tarifaço”.

O presidente do Sindijoias também destacou que a exigência de manutenção de empregos como contrapartida para os benefícios anunciados é “válida no curto prazo”, mas difícil de cumprir se o cenário externo continuar hostil.

“O que realmente precisamos é de uma negociação mais presente com o governo americano. Um cenário de 50% de taxação, ou ainda que seja um pouco menos, 20% ou 30%, é desanimador, frustrante para a continuidade dos negócios”.

Frigoríficos mineiros apostam no redirecionamento

No setor de carnes, o impacto direto foi contido graças a um movimento antecipado de redirecionamento de mercados, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes, Derivados e de Frios de Minas Gerais (Sinduscarne), Pedro Braga. Ele explica que os frigoríficos com plantas habilitadas para exportação aos EUA em Minas, como Friza, Minerva e JBS, ainda não sentiram quedas expressivas.

“Os frigoríficos já começaram a remanejar isso desde o ano passado, quando a tarifa era de 10%. Mas agora o alerta é maior. O impacto mais visível, neste momento, é sobre subprodutos como couro, que tinham nos Estados Unidos um dos principais mercados consumidores”.

Trabalhadores em setor de corte e embalagem de carnes
Foto: Reprodução/Adobe Stock

Braga destaca que a estimativa nacional da AbraFrigo aponta uma perda de até US$ 3 bilhões por ano para o setor, caso as tarifas não sejam revertidas.

Sobre o plano do governo federal, ele afirma que pode ajudar, mas não resolve o problema. “A diplomacia é a primeira medida. Precisamos conversar com os Estados Unidos e chegar a um denominador comum. A carne brasileira tem padrão sanitário de excelência e pode conquistar novos mercados, mas o diálogo é fundamental para garantir competitividade”.

O dirigente também criticou a condição de manter empregos como pré-requisito para acessar os recursos do plano. “O setor já vem com margens comprimidas por tributação, legislação sanitária e trabalhista. Se o dinheiro do pacote não chegar rápido, e se a burocracia for alta, não será possível manter os empregos”, alertou.

Medidas anunciadas pelo governo federal contra tarifaço

O Plano Brasil Soberano, apresentado pelo presidente Lula, prevê uma série de medidas para minimizar os impactos do tarifaço americano, entre elas:

  • R$ 30 bilhões em linhas de crédito com garantia pública, via BNDES e Banco do Brasil;
  • Aporte de R$ 4,5 bilhões em fundos garantidores;
  • Créditos tributários de até R$ 5 bilhões por meio do Reintegra;
  • Suspensão temporária de tributos via drawback e adiamento da cobrança de impostos por dois meses;
  • Compras públicas emergenciais em programas como merenda escolar e hospitais, voltadas a produtos afetados;
  • Nova política de garantia à exportação, com compartilhamento de riscos entre o setor público e privado.

As ações ainda precisam de aprovação no Congresso e estão condicionadas à manutenção de empregos pelas empresas beneficiadas.

*Com agências

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas