Economia

Café não entregue está na raiz da recuperação judicial da Montesanto, diz filho do fundador do grupo

Produto não entregue está na raiz do problema, segundo o filho do fundador do Grupo Montesanto Tavares
Café não entregue está na raiz da recuperação judicial da Montesanto, diz filho do fundador do grupo
Cerca de 700 mil sacas adquiridas pelo grupo durante o triênio 2021-2023 pelos preços futuros estabelecidos na época, deveriam ter sido entregues em setembro de 2024, mas os produtores optaram por vender a produção pela cotação no último ano, quando alcançou recordes | Crédito: Amirkhan / Adobe Stock

Uma produção de mais de meio milhão de sacas de café arábica, contratadas previamente pelo Grupo Montesanto Tavares (GMT), mas que não foi entregue, está na raiz do pedido de recuperação judicial do grupo, aceito ontem (20) pela 2ª Vara Empresarial de Belo Horizonte, revela Léo Montesanto, filho do fundador da holding cafeeira, Ricardo Tavares.

Ele aponta que cerca de 700 mil sacas, adquiridas pelo grupo durante o triênio 2021-2023 pelos preços futuros estabelecidos na época, em torno de R$ 600 a R$ 700, deveriam ter sido entregues em setembro de 2024, mas os produtores optaram por vender a produção pela cotação no último ano, período em que o preço do produto alcançou recordes históricos no mercado internacional – acima de R$ 2 mil, o maior patamar real do custo médio desde 1997.

Sem receber as sacas previamente compradas, o Grupo Montesanto, um dos maiores exportadores de café do País, não teve caixa suficiente para completar a outra ponta da operação e cumprir os contratos de venda acordados com clientes, já que, para honrar com os embarques, precisava comprar café no mercado físico no momento de disparada dos preços.

“O produtor, em vez de cumprir o acordo, foi no mercado e vendeu o café dele à vista. Consequentemente, (o GMT) não cumpriu o acordo pra frente, não tem dinheiro pra fazer isso, porque isso (700 mil sacas) hoje custa R$ 1,6 bilhão, se tiver que entrar no mercado à vista, comprar, para cumprir os acordos”, explica Léo Monsanto.

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O empresário ressalta que, em mais de 15 anos com esse tipo de operação com produtores e clientes da exportação, a situação vivida pelo Montesanto Tavares é inédita na história do grupo, um dos maiores exportadores de grão do País e responsável por 8% de todos os embarques nacionais de café arábica enviados ao exterior.

Ele afirma que o GMT acionou no poder judiciário todos os produtores de café que descumpriram os acordos, para o recebimento das sacas não entregues. O Grupo Montesanto Tavares está em negociação com alguns cafeicultores e já se acertou com outros, mas, até o momento, o volume resultante dos produtores que chegaram a um acordo com a holding ainda é irrisório perto do montante devido.

“Quem colocou o grupo nessa situação foram os próprios produtores de café, que têm contrato com o grupo, e agora, o Monsanto Tavares precisou pedir recuperação judicial para pedir fôlego e tempo aos credores, para voltar aos produtores, seja no amor ou na dor, para poder continuar com o negócio”, disse Léo Monsanto.

Ao todo, o processo de recuperação judicial abrange quatro empresas –  Atlântica Exportação e Importação, Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, Montesanto Tavares Group Participações e Companhia Mineira de Investimentos em Cafés. O passivo previsto na reestruturação é da ordem de R$ 4,96 bilhões, conforme documentação anexada ao processo.

O GMT tem 60 dias para apresentar o plano de reestruturação, que precisará ser aprovado em assembleia pelos credores, que, em sua maioria, são bancos, como o Banco do Brasil, com aproximadamente R$ 742 milhões a receber, além do Bradesco, BTG, Daycoval, Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Banco Fibra, Itaú Unibanco, Banco do Nordeste, Pactual, Banco Pine, Santander e Banco Votorantim.

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